Sobre Masculinidade — Brotherhood
Bora falar sobre a experiência de participar do primeiro evento do Brotherhood. Além da alegria óbvia de mais uma vez trabalhar com Gustavo Tanaka.
Quando o Gu me convidou para falar sobre o Sagrado Masculino, me senti honrada de tocar em um assunto tão novo e tão caro pra mim.
E também emocionada de ver o próprio Gustavo tão transformado depois de ter trabalhado tão firmemente essa temática ao longo do ano de 2017.
O menino homem que conheci em 2016, deu espaço a uma outra pessoa, mais feliz, mais inteira, íntegra, deu espaço a um novo Gustavo. E foi bonito poder vê-lo de um outro lugar e aplaudi-lo ao final do evento. Aplaudi-lo de alegria, contentamento e também de profundo respeito por todos os mergulhos (que não foram poucos) que esse homem se propôs (e se propõe) a enfrentar.
E eu sinto que 2017 foi isso basicamente o ano inteiro.
Cura, cura, cura, cai, tomba, levanta, odeia, ama, agradece e cura.
Sombra e luz juntos. Feminino e masculino juntos e sagrados. Homens e mulheres juntos e sagrados. Curas.
Mas antes de juntos, uow! Quanta sombra, quanta sujeira que a gente está podendo olhar com farolete. Que lindo esse despertar que estamos vendo, sentindo e arregaçando as mangas. Muitos de nós.
O evento foi todo lindo, com um formato super inovador e só gente phoda.
Muitas falas, lágrimas e abraços ficarão eternamente guardados em meu coração.
Nesse vídeo falo um pouco sobre a nossa cultura, sobre maternidade e lanço um olhar desde a gravidez até a fase adulta sobre o que é ser "mulher" e "homem" na nossa sociedade.
Também provoco um pouco sobre como podemos agir para fazermos juntos essa mudança de cultura. :)
Eu nasci de uma família bem maravilhosa.
De uma mãe, Maria Gorete, que voltou a trabalhar quando eu tinha 2 meses. Afinal, se hoje o mercado de trabalho ainda é um lugar de poder dos homens, imagina naquela época....
Meu pai (José Carlos) largou a faculdade e ficou só com o trabalho, para estar mais perto de mim e me ver crescer.
Tenho memórias lindas do meu pai cozinhando, minha mãe enviando relatórios de trabalho tarde da noite. Minha mãe lavando a louça e meu pai escovando os dentes do meu irmão mais novo.
Quando íamos acampar, lembro do meu pai me levando pra andar de caiaque, e da minha mãe montando a barraca.
E todos os esportes e brinquedos que eu quis, eu fiz e tive. Fiz de judô a ginástica olímpica e tive de carrinhos de controle remoto a bonecas que choram.
Não tenho memória alguma de alguém falando sobre brinquedos de meninas e de meninos.
Nem de função de homem e de mulher.
Lá em casa quem chorava mais era meu pai, mas minha mãe também era bastante emotiva, sensível. Foi ela que me levava ao teatro e fez eu me apaixonar por orquestra, ópera e mulheres. Minha mãe sempre tinha exemplos de mulheres phodas, em toda e qualquer área.
Depois que casei, tive Maria, separei e etc e tal, comecei a perceber as diferenças.
Escutei coisas como:
- Que homem maravilhoso. Que sorte que você teve. Ele te ajuda na casa!
- Não. Ele mora comigo na casa. Ele tá cuidando do lugar que ele mora.
Ou
- Nossa ele é realmente incrível!!! Troca até fralda.
E depois que me separei:
- Mãe solteira, agora fica mais difícil alguém te querer.
E eu DUVIDO que meu ex-companheiro tenha escutado algo parecido com isso.
A boa notícia é que não nascemos assim, isso é CULTURAL!!!:)
Podemos mudar!!!
Mas como?!?!
Parando de limitar as crianças!
1. Todas as crianças têm direito de brincar com todos os brinquedos. Não é verdade que menina gosta de boneca e menino de carrinho.
Permita que a criança viva as experiências que tem vontade de viver.
Se o seu filho brinca de boneca, agradeça, ele deve enxergar em você um ótimo pai e está apenas te representando na brincadeira.
2. Todas as crianças e adultos têm direito a todas as cores. TODAS!!!! Cobre isso das marcas de brinquedos, das lojas de roupas, cobre uma mudança. Cobre dessas marcas e deixe de cocriar essas limitações.
Mulheres não deveriam gostar só de rosa. E se gosta de rosa foi porque escolheu assim e não porque limitaram a gostar de apenas uma cor.
Ah!!! E fale nas lojas de brinquedos online para PARAR de dividir entre brinquedos de meninos e brinquedos de meninas.
Fale praquele chocolate lá parar de fazer ovo azul e ovo rosa. Avisa que estamos em 2017 e eles estão passando vergonha.
E quando entrar numa loja e a vendedora perguntar se é pra menino ou pra menina , responda: É pra uma criança brincante de x anos!
Idade é importante para não engolir peças. Gênero não.
3. Quando alguém falar que fazer esporte vai deixar o corpo da menina masculinizado, peça gentilmente para definir o que é "masculinizado". Porque não entendo essa expressão.
4. Não existem profissões de meninos e de meninas. Existem seres humanos e existem talentos, propósitos, profissões. E eu posso jurar que se o menino quiser pintar, ele não será menos homem. Se ele quiser fazer ballet, ele também não será menos homem. Eu juro. E se a menina quiser ser engenheira, eu juro que tá tudo bem. Não limite. Destrua tudo que construiu sobre estereótipos de meninos e de meninas.
5. Sim. Homem chora. Mulher chora. Choramos todos.
Não seja a pessoa que fala:
- Para de chorar! Parece uma "menininha".
6. Quando você limita seus filhos a brinquedos como armas, carros, jogos de violência e fala que isso é brinquedo de menino, você não contribui para que a mudança de cultura aconteça.
Quando você fala pro menino que se ele apanhar e não revidar, ele apanha em casa, você não está contribuindo para que a mudança de cultura aconteça.
Se você mexe com mulheres na rua, desrespeita as mulheres da sua casa ou fala palavras que desqualificam a mulher em geral, você não está contribuindo para a mudança de cultura.
O que acontece é que o machismo não mata só mulheres. O machismo mata homens. O machismo mata também o seu filho. Homens morrem diariamente por violência, alta velocidade, bebida alcoólica...
7. Quando você dá pra sua filha apenas: tábua de passar roupa, fogão, boneca e etc, você também não está contribuindo para uma mudança de cultura, porque está limitando a mulher apenas a brincar de afazeres domésticos.
Sim, ela pode amar fazer coisas de casa (eu também amo). Sim, ela pode ser dona de casa.
Se ela escolher ser.
Se isso for uma opção e não uma falta de oportunidade.
Não fale pra mulher ser boazinha, falar baixo e sentar de pernas fechadas. Contribua na educação do ser humano que está a sua frente, independente se é menino ou menina.
E pra encerrar esse post gigante...
Humanizem-se. Juntem-se e percebam o sagrado da existência nessa vida. Somos sagrados!! :) Homens, Mulheres e todo o feminino e masculino que compõe cada um de nós.
E assistam esse vídeo e conheçam essas pessoas. Lindo dia. Gratidão.
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