Sobre o reconhecimento de nossas falhas

Sobre o reconhecimento de nossas falhas

O texto “What to do when you realize you´ve made a mistake” (“O que fazer quando você percebe que cometeu um erro”, publicado no dia 11 de fevereiro de 2019 pela Harvard Business Review (hbr.org), de autoria de Deborah Grayson Riegel*, é excelente e eu recomendo fortemente a leitura na íntegra.

Ela começa falando sobre a dor que é reconhecer que cometemos um erro. É um golpe na nossa identidade, porque gostaríamos de estar sempre certos e isentos de falhas. Porém, os erros são inevitáveis e é preciso saber lidar com eles. Então, ela recomenda procurar todas as pessoas atingidas por decisões erradas que tomamos e ter uma conversa com três partes (e agora começo a traduzir a autora):

1.      Assuma responsabilidade. Diga “Eu estava errado” (Não diga “erros foram cometidos” ou “As coisas não aconteceram da forma que eu previa” ou qualquer outra versão que desvie de sua contribuição pessoal ou a minimize). Ofereça uma breve explicação, mas não invente desculpas. Reconheça que seu erro teve um impacto negativo sobre outros e disponha-se a realmente ouvi-los, sem tentar se proteger da avaliação deles. Não interrompa. Peça perdão.

2.      Encaminhe o que você precisa fazer imediatamente. Assumir responsabilidade é crítico, assim como é tomar uma atitude. Isso é essencial para uma crise de comunicação, mesmo se seu erro não constitui uma crise maior. Diga para as pessoas o que você fará agora para remediar o erro e faça uma distinção entre as partes que podem ser consertadas e aquelas que não podem. Inclua o que você está fazendo em relação ao impacto em si (dinheiro, tempo, processos, etc) e também quanto às relações pessoais (sentimentos, reputação, confiança, etc) por ter se enganado. Esteja aberto para receber feedback sobre o que você está fazendo. Comunique exaustivamente seus planos.

3.      Compartilhe o que você fará diferente da próxima vez. Estar errado é péssimo. Estar errado sem autoavaliação é irresponsável, mesmo se você odeia autoavaliação. Tire um tempo para pensar sobre como você contribuiu para esta situação e identifique como outros contribuíram também. (Tente se afastar de palavras como “falha” ou “culpa”, que tendem a colocar as pessoas na defensiva). Então diga para aqueles que foram impactados pelo seu erro o que você aprendeu sobre si mesmo e o que você fará de forma diferente no futuro. Por exemplo, você pode reconhecer que tende a não levar em consideração informações de alguém que você não vê olho no olho e que no futuro você irá ativamente envolver esta pessoa e considerar sua perspectiva. Peça ajuda onde você precisar. E peça para outros um feedback constante a respeito dos comprometimentos que você está assumindo.

J.K.Rowling escreveu “O melhor de nós às vezes deve comer nossas palavras.” Logo que você perceber que cometeu um erro, assegure-se que as próximas palavras que você proferir ajudem a reconstruir sua identidade, sua reputação e seus relacionamentos.

Neste espetáculo triste que estamos vivendo no Brasil de 2019, cheio de desastres "sem donos", podemos aprender sobre a importância de exercitar o reconhecimento de nossas falhas cotidianas. Assumir que não somos deuses faz com que possamos ouvir feedbacks doloridos, evitando o acúmulo de erros e as desgraças deles decorrentes.

*Deborah Grayson Riegel é diretora do The Boda Group, uma firma de desenvolvimento de lideranças e equipes. Ela também ensina gerenciamento da comunicação na Wharton School of Business, da Universidade da Pensilvânia. 


#mokpi #monicakalilpires

Mônica Kalil Pires

Tiro o mofo de treinamentos e manuais | Especialista em treinamento e desenvolvimento | criadora de metodologias ativas | processadora pedagógica de manuais técnicos

5 a

Obrigada, Kalil. Gostei muito do texto original, por isso quis contribuir traduzindo aquele trecho e colocando o tema na roda.

Alexandre Kalil Pires

Especialista em Políticas Públicas e Gestão Governamental no Conselho Adm. Def. Econômica CADE

5 a

Parabéns Mônica, um assunto muito atual e enfatiza a necessidade de uma maior abertura nas nossas relações profissionais. O texto enfatiza a necessidade de induzir o autodesenvolvimento mesmo a custa de nosso desconforto Exige a coragem de nos guiarmos por nossos princípios, que identificam o erro, e não nos limitarmos ao que é possível fazer dentro de nossa zona de conforto..

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