Sobre Woodstock'99
Sou extremamente contra post “O que aprendemos com (complete com o nome de qualquer filme, série, novela, música, história em quadrinho ou vídeo game).” Embora eu saiba muito bem do papel que esses produtos culturais desempenhem, prefiro vê-los como entretenimento, como algo para descansar a cabeça mesmo, e não como versões atuais das fábulas de Esopo.
Porém, mesmo assim, não posso e não vou deixar de falar sobre a minissérie documental em três episódios da Netflix: “Trainwreck: Woodstock” traduzido para “Desastre Total: Woodstock 99” que trata da realização de uma versão repaginada no famoso festival hippie de 1969, em Nova York. O evento foi organizado Michael Lang, um dos responsáveis pelo evento original. Não vou contar muito mais para não dar spoiler nem para estragar a diversão de assistir ao documentário.
Mas, o que quero apontar aqui são as “doces” lembranças que tive de quando trabalhei com norte-americanos. Uma das coisas que sempre ouvimos é como eles são eficientes, resolutivos, têm boas ideias, são self made people, criativos etc.
Vamos às lembranças despertadas pelo documentário:
Inventivos – aparentemente, os sobrinhos do Tio Sam têm uma solução para tudo. Até uma tampa de caneta é transformado em “resposta perfeita” para qualquer problema nas mãos vendedoras deles. Parte disso, deve-se ao fato de investirem pesadamente em vendas e marketings e não realmente no desenvolvimento de produtos, que costumam ser pasteurizados. Quantas vezes você viu anúncios de apps de correção de textos e planners, que são basicamente iguais, mas anunciados como inigualáveis?
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Resolvedores de problemas – qualquer norte-americano ou ferramenta desenvolvida por eles vai solucionar todo e qualquer dos seus problemas. Não porque eles sejam bons, mas porque eles subestimam e muito a capacidade cognitiva e intelectual de todo o resto do mundo. A maneira como muitas vezes eles apresentam algo beira a ingenuidade.
Senso de limites de espaço – algo muito importante na cultura norte-americana é o espaço pessoal; beijos, abraços e mesmos toques e frases podem soar muito invasivos. Porém, essa questão de espaço pessoal é muito abrangente, se uma caneta cair na mesa ao lado, e a caneta e a mesa não forem daquele norte-americano, ela vai continuar caída no chão. Poucos terão a iniciativa de se mover e colocar a caneta de volta em cima da mesa.
Infalíveis – suas soluções resolvem qualquer problema a qualquer momento. Suas ideias são à prova de erros e perfeitas. Se algo der errado é por culpa de outrem ou de algumas maçãs podres que “surgiram”.
Esse texto tem doses cavalares de sarcasmo.
P.S. Além dos Woodstocks, Michael Lang foi chamado pelos Rolling Stones para participar do Festival de Altamont, na Califórnia, também realizado em 1969, mas que desde o começo trazia sinais de problemas: como a contratação dos Hell Angels como seguranças.