Sucesso na internet, fracasso na TV? Influenciadores descobrem que fazer TV é bem mais difícil do que parece
No SBT a experiência de lançar influenciadores à frente de programas televisivos caminha para ser um notável fracasso. A audiência não se animou muito, e principalmente, os anunciantes não viram muita razão para pagar mais pelo que encontram por menos na internet. O resultado: cortes de custos e já há quem pergunte dentro da TV se as herdeiras da família Abravanel estarão dispostas a botar a mão no bolso e investir no canal quando a conta não fechar.
Com audiência e receita em queda, o SBT parece mais perdido do que a programação do canal nos últimos anos. A duras penas, talvez descubram que há mais valor em ser TV tradicional no melhor estilo Silvio Santos do que uma versão do YouTube transmitido pela TV. O sucesso do retorno do Show do Milhão e a volta da Porta da Esperança são indicativos neste sentido.
Mas o fiasco de influenciadores está longe de ser um caso isolado. Do Vídeo Show, na Globo, em seus últimos meses, até chegarmos ao mais recente fiasco de Mr. Beast, o maior YouTuber do mundo.
Nos Estados Unidos, uma recente ação judicial em Los Angeles acusa MrBeast e a Amazon de negligência no programa "Beast Games", onde participantes alegam ter sofrido lesões físicas e assédio. Para alguns executivos de Hollywood, isso seria uma evidência de que estrelas das mídias sociais não representam uma ameaça real para a TV tradicional.
Mas talvez a realidade seja mais complexa. Embora algumas celebridades online tenham dificuldades para entrar na mídia tradicional, influenciadores estão cada vez mais competindo com profissionais em seus próprios domínios. Nos Estados Unidos, o YouTube agora é a fonte de conteúdo mais assistida em televisões, superando canais tradicionais. Globalmente, 2,5 bilhões de pessoas acessam o YouTube mensalmente.
Grupos como os Sidemen, um coletivo britânico de YouTubers com mais de 100 milhões de assinantes combinados, estão profissionalizando suas produções com equipes dedicadas e orçamentos significativos, rivalizando com a produção televisiva. A tecnologia acessível, como câmeras 4K e software avançado, além da inteligência artificial, está elevando a qualidade das produções online, como destacou a The Economist em sua última edição.
Os espectadores estão buscando nas mídias sociais o tipo de conteúdo que antes encontravam na televisão. Vídeos mais longos e conteúdos ao vivo estão se tornando comuns, aproximando ainda mais as duas mídias. As plataformas sociais estão expandindo sua presença nas televisões domésticas, enquanto serviços de streaming tradicionais estão explorando planos somente para dispositivos móveis em mercados emergentes.
Os modelos de negócios também estão convergindo. O YouTube, que gerou US$ 32 bilhões em vendas de publicidade no ano passado, também oferece assinaturas sem anúncios. Simultaneamente, serviços como Netflix e Disney+ estão introduzindo planos com suporte de anúncios. A competição por audiência e receita publicitária está se intensificando, especialmente à medida que a publicidade na televisão tradicional diminui.
Na Globo, por exemplo, falar em mídia tradicional ou mídia digital parece fazer cada vez menos sentido. As campanhas são cada vez mais atreladas a dados dos perfis dos usuários que logam no Globoplay, Globo.com e demais plataformas da empresa.
Na outra ponta, os custos das plataformas também estão subindo à medida que seu conteúdo se torna mais profissional. O YouTube pagou em média US$ 23 bilhões por ano a criadores e empresas de mídia nos últimos três anos, valor que aumenta conforme a plataforma cresce.
Enquanto as plataformas de mídia social se aproximam da qualidade de Hollywood, elas também enfrentam um aumento de custos associados a produções de grande escala. Com a linha entre mídia social e televisão cada vez mais tênue, a competição entre os dois mercados está se intensificando.
Mas como o SBT e a Amazon descobriram do jeito mais difícil, isso nem sempre se traduz em sucesso.
Notícias relevantes:
Conforme informações do Blue Chip Growth Fund, da Fidelity, o X, hoje, vale menos de um quarto do preço de compra, avaliado em US$ 44 bilhões (cerca de R$ 238 bilhões na cotação atual).
O grupo decidiu cortar a participação na rede social de Elon Musk novamente no fim de agosto, assim como havia feito em julho, somando uma redução de 78,7% ao todo, desde que o empresário adquiriu a empresa.
A Fidelity estaria avaliando o X atualmente em cerca de US$ 9,4 bilhões (um pouco mais de R$ 50 bilhões na cotação atual). Porém não foram divulgadas as métricas para que o investidor chegasse a tal conclusão e nenhuma das empresas quis comentar sobre o assunto.
Opinião: Como resumiu magistralmente o blog Garbage Day: “As cortes brasileiras queriam que sete contas fossem suspensas e que o X pagasse multas. Em vez de fazer isso, Musk lutou publicamente com a Suprema Corte do país, fez com que o aplicativo fosse banido e permitiu que milhares de usuários criassem contas nos concorrentes Threads e Bluesky, apenas para acabar suspendendo as contas originalmente sinalizadas, pagando as multas e agora está pagando ainda mais multas. É revigorante assistir a um verdadeiro gênio em ação.”
Nesta quarta-feira, 2 de outubro, a Comissão Europeia, utilizando a Lei de Serviços Digitais, requisitou ao YouTube, Snapchat e TikTok as informações que os algoritmos das plataformas utilizam para poder recomendar conteúdos às pessoas.
A instituição justificou a atitude como uma garantia de preservar “riscos sistêmicos”, tais como preservar a saúde mental, deter drogas ilegais e proteger menores de idade nas redes.
As plataformas têm até o dia 15 de novembro para responderem às solicitações. Diante dos dados fornecidos, a União Europeia irá avaliar a situação e prosseguir com medidas, que podem incluir multas e punições.
Opinião: Mais um dia, mais uma ação para conter abusos das big techs.
A inteligência artificial generativa cresce exponencialmente e se torna ainda mais óbvia a necessidade de uma regulamentação desta ferramenta. Esse foi o principal ponto levantado pelo relatório “IA e o Futuro do Jornalismo: Um Memorando para Stakeholders”, da Unesco.
No documento, pesquisadores exigem proteção aos direitos autorais, competição justa para manter a sustentabilidade financeira, e até apontam os riscos de disseminação de fake news.
Outro ponto de preocupação é o potencial da IA em mudar o cenário jornalístico mundial, uma vez que a ferramenta otimiza e automatiza processos que são realizados por profissionais dentro de redações.
O arquivo também reforça o compromisso e papel dos jornalistas em conscientizar a população sobre os perigos da utilização indiscriminada da IA, e alerta: a IA se utiliza do material jornalístico para produzir os próprios conteúdos, uma vez que ela “substitua” essa mão de obra, o resultado final gerado pela tecnologia também poderá ser fortemente afetado e prejudicado.
Opinião: Se ninguém estiver produzindo conteúdo original pelo simples fato de não conseguir pagar os boletos no final do mês, de onde as IAs vão buscar conteúdo para serem aprimoradas?
Por meio de inteligência artificial, extremistas estão propagando áudios e vídeos de Adolf Hitler, líder nazista marcado na história pelo Holocausto, em redes sociais como Instagram, TikTok, YouTube e X.
Os conteúdos de discursos emblemáticos do ditador são traduzidos para o inglês e disseminados em um tom de que Hitler era uma pessoa “incompreendida”, fazendo uma verdadeira propaganda da direita.
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E estas publicações chegaram a ser elogiadas e aclamadas por usuários nos comentários, com mensagens como: “Ele era um herói” e “Sinto sua falta”.
Desta forma, discursos antissemitas e anti-imigrantes proferidos por Donald Trump têm ganhado ainda mais força junto de falas despejadas por Hitler anos atrás. O neonazismo vem se fortalecendo com uso de IA e, infelizmente, ganhando novos “fãs”.
Opinião: E ainda há quem defenda que uma regulação para o setor não é necessária.
Após supostamente ser divulgado por um hacker iraniano, um dossiê de JD Vance, candidato à vice-presidência com Donald Trump, se espalhou pelas redes sociais. Porém, podendo ter impacto direto nas eleições norte-americanas, a Meta optou por restringir os links direcionados ao material.
Isso significa que publicações no Threads, Instagram e Facebook que levavam ao dossiê estariam sendo barradas ou removidas pelas plataformas, conforme divulgado por alguns usuários.
Dave Arnold, porta-voz da Meta, comentou sobre o assunto e afirmou que a decisão tem como objetivo respeitar os “Padrões de Comunidade” das plataformas, e reforçou que as mesmas não aceitam “conteúdos vazados ou de fontes hackeadas”.
A Meta não parece ter sido a única a tomar essa atitude, uma vez que outras pessoas relataram a mesma proibição no X e Google Drive ao tentar compartilhar o dossiê.
Opinião: “O CEO da Meta nunca irá satisfazer seus críticos. Mesmo assim, ele continua tentando.”
A regulamentação do uso de inteligência artificial é importante, mas para Charles Fadel, ex-professor da universidade de Harvard e do Massachusetts Institute of Technology (MIT), outra regulamentação é tão importante quanto: a autorregulação ou pensamento crítico.
O especialista explica no livro “Education for the Age of AI”, lançado no Brasil no dia 1º de outubro, que é da natureza humana buscar atalhos e entrar no piloto automático, e como a IA favorece esse hábito, é fundamental que professores treinem os alunos para um olhar crítico sobre as informações que recebem.
O engenheiro americano ainda questiona as métricas que estão sendo utilizadas no momento para regulamentar a IA, contudo reconhece o avanço em, ao menos, este assunto se tornar pauta hoje.
“Também é importante lembrar que a IA de hoje não é infinitamente capaz, mas a IA dentro de 20, 30, 40 anos será incrivelmente mais poderosa, com mais e mais tipos diferentes de algoritmos tentando trabalhar juntos”, finalizou.
Opinião: Pode observar, no final do dia, a educação é a resposta para quase todos os grandes problemas que a sociedade enfrenta.
Lori Schott, mãe de Anna, ficou assustada após checar o conteúdo que a filha consumia nas redes sociais. Ao invés de vídeos fofos ou divertidos, eles continham materiais sobre suicídio, automutilação e transtornos alimentares.
A questão é que o caso de Anna não é isolado. Lori se deu conta que muitos outros pais passavam pelo mesmo e exigiam judicialmente melhores regulamentações sobre essas plataformas digitais.
Um estudo, por exemplo, apontou que de 2007 a 2021 o suicídio de americanos entre 10 a 24 anos, aumentou em 62%. As taxas de depressão e ansiedade seguiram a mesma tendência.
Fato é que os donos das redes sociais têm plena consciência dos efeitos nocivos destas mídias, mas de acordo com Frances Haugen, um ex-funcionário do Facebook, preferem escolher o “lucro sobre a segurança”.
Opinião: Não acredite nos executivos das big techs quando dizem querer solucionar o problema do uso de celulares por crianças e jovens.
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CEO da YOUPIX | Creator Economy Expert | Advisor
2 mCreators são a nova Hollywood, porém ainda não tem a verba de Hollywood 😬. AINDA.
Empreendedor | Gestor de Negócios | Supervisão Industrial | Sólida experiência em Liderança de Equipes e Negociação | Eficiência Operacional e Controle de Qualidade | Habilidades em Vendas e Atendimento ao Cliente
2 mÉ interessante observar que essa convergência de plataformas, com o uso de redes sociais nas televisões e o aumento da qualidade das produções online, pode representar o futuro da mídia, onde as fronteiras entre o digital e o tradicional continuam a se borrar. A verdadeira questão não é se os influenciadores podem fazer TV, mas como as plataformas podem se adaptar para otimizar o que elas fazem de melhor, levando em conta as diferentes formas de consumo de conteúdo.
Marketing Strategist | Consumer Behaviour Expert | 25+ Years Driving Consumer-Centric Solutions | Bridging Marketing Intelligence, Creativity, and Innovation
2 mEsse fracasso dos influencers na TV já havia ficado evidente desde a polêmica estratégia da Globo de cobrir o carnaval com essa turma, em vez de contar com os tradicionais comentaristas dos anos anteriores.