Sustentabilidade, Governança e as empresas brasileiras

Sustentabilidade, Governança e as empresas brasileiras

O cerco está se fechando para os negócios com práticas pouco sustentáveis — trata-se de um fato comprovado por evidências incontestáveis. No âmbito político, a ascensão de Biden à Casa Branca trouxe a sinalização do novo governante para o compromisso de zerar emissões dos gases de efeito estufa até 2050, além do retorno dos EUA ao Acordo de Paris, influenciando outras nações de peso a fazerem o mesmo.

Por outro lado, Larry Fink, da Black Rock, reiterou em carta anual aos CEOs de todo o mundo o seu posicionamento quanto à relação entre investimentos e sustentabilidade: “risco climático significa investimento de risco”. Ele ressaltou que, entre janeiro e novembro de 2020, investidores alocaram U$ 288 bilhões globalmente em ativos sustentáveis, o que corresponde a um aumento de 96% com relação ao ano anterior. Para ele, esse movimento é apenas um dos primeiros passos para uma transição cujos desdobramentos devem se intensificar nos próximos anos.

A Fórum Econômico Mundial, por sua vez, também reforçou na edição de 2021 a urgência da temática da sustentabilidade. De acordo com a Pesquisa de Percepção de Riscos Globais realizada pela organização, para 52,7% dos entrevistados os eventos climáticos extremos representam uma ameaça nos próximos dois anos; como riscos de longo prazo foram apontados por 51,2% dos entrevistados a perda da biodiversidade, crises dos recursos naturais (43,9%) e fracasso de ações relacionadas ao clima (38,3%). O relatório classifica os riscos climáticos como “catastróficos”, aos quais “ninguém está imune”. 

Sustentabilidade e as empresas do Brasil

Os negócios brasileiros também não estão imunes a esse cenário. O estudo Global Resilience Report, realizado pela Deloitte com mais de dois mil representantes C-Level de 21 países, mostrou que 48% dos executivos ouvidos no Brasil acreditam que as mudanças climáticas e o meio ambiente serão os aspectos mais críticos para os negócios na próxima década.

A pesquisa também apurou que 41% dos negócios pesquisados no País já implementaram tecnologias para rastrear e monitorar a sustentabilidade de suas operações; 40% treinam seus colaboradores para agirem de forma mais adequada do ponto de vista ambiental; 38% começaram a desenvolver produtos de maneira mais sustentável; 35% encorajam ou estabelecem que seus parceiros sigam critérios de sustentabilidade; e 35% endereçam questões ambientais em pelo menos uma reunião do Conselho de Administração ao longo do ano.

Para a pesquisa, em tempos de disrupção — que pode ser, inclusive, climática e ambiental — as organizações resilientes são as que mostram melhor desempenho. Preparo adequado, capacidade de adaptação, colaboração e confiança são os principais atributos de uma empresa resiliente.

De forma geral, de acordo com o estudo, os executivos brasileiros estão otimistas e consideram os seus negócios suficientemente resilientes para lidar com os desafios futuros. Mas será que são mesmo? Será que as porcentagens aferidas pela pesquisa são suficientes para garantir a longevidade dos negócios brasileiros? E mais: a Governança que rege, abarca e assegura o compromisso com princípios de ESG está suficientemente desenvolvida em boa parte das organizações do País?

Governança sela o compromisso com as melhores práticas

O IBGC (Instituto Brasileiro de Governança Corporativa), do qual tenho a honra e a alegria de fazer parte como Conselheira, lançou no início do ano a Agenda Positiva de Governança, com seis pilares de atuação, entre os quais estão o ambiental e social. Entre as medidas propostas pelo IBGC para esse pilar estão identificar e divulgar ao mercado indicadores e a justificativa econômica para a adoção de práticas ligadas às questões ambientais, sociais e de Governança Corporativa; contribuir para a elaboração de leis, regulações, políticas públicas e padrões que estimulem as organizações a adotar melhores práticas em relação a questões sociais, ambientais e de Governança Corporativa; e estimular o mercado e o consumo de produtos e serviços sustentáveis por meio de investimento em inovação, pesquisa e desenvolvimento.

Como sugere Tarcila Ursini, Conselheira de várias organizações, seguem alguns passos na jornada da Governança que podem ser preciosos em busca de negócios mais sustentáveis:

-Analise como a sustentabilidade está representada na Visão, Missão e Valores da sua empresa. Há alinhamento entre Governança e liderança quanto a esses aspectos?

-Identifique as externalidades presentes em toda a cadeia produtiva.

-Consulte stakeholders sobre os temas prioritários quanto à sustentabilidade e crie estratégias para endereçá-los.

-Revise as atividades atuais frente ao posicionamento desejado.

-Ajuste a Governança e a estrutura organizacional.

-Estabeleça métricas e compromissos.

-Reconheça as melhores práticas.

-Aprenda com acertos e erros da jornada.

-Inclua a sustentabilidade no planejamento estratégico.

É inegável que as mudanças climáticas e outros temas relacionados ao meio ambiente — como os créditos de carbono — representam incertezas para muitos negócios. O caminho a trilhar é longo e temos uma jornada complexa pela frente. Mas, como destacou o próprio Larry Fink em sua carta aos CEOs, a transição climática não traz apenas riscos, mas oportunidades históricas de investimento. Cabe a cada um ter visão, ousadia e inteligência para celebrar os compromissos necessários e dar os passos certos na direção de tais oportunidades. 

Gabriela Baumgart

Bia G.

Conselheira Certificada | Consultora | Mentora | Palestrante

3 a

Excelente Gabriela Baumgart. Temos uma longa jornada pela frente, mas acredito que estamos avançando, e não tem volta. Quem não mudar, não sobrevive.

Tarcila Ursini

Board Member / Sustainability Strategy & Innovation, People&Culture + Climate Governance Iniciative (WEF) Ambassador.

3 a

Sempre excelente Gabriela Baumgart ! Muito importante a agenda climática que você aponta, ainda mais no Brasil, país megadiverso e ao mesmo tempo, 5o maior emissor de GEE. E que honra poder ajudar de alguma forma com possíveis caminhos.

Carla Leal

Conselheira | ESG | Mudanças climáticas | PhD

3 a

Muito bom seu artigo Gabriela Baumgart. Tenho trabalhado direto com essa temática e vejo que muitos setores sofrerão transformações bem profundas. Um novo olhar, tanto para as próprias operações, mas para todo o mercado down e upstream é necessário. E urgente.

Eni Marçal

Governança Corporativa | Conselho Consultivo e família | Networking | Mentoring | Professora | Parcerias institucionais

3 a

Muito bom Gabriela, com a adoção dos fatores ESG a cada dia pelas organizações, com certeza fará nossas relações harmônicas. Abraço fraterno

Carlos Felipe Camiloti Fabrin

Advogado Societário e contratos/ M&A/ governança e sucessão /Comissão IBGC

3 a

Parabéns pelo texto, Gabriela. Muito bem vindo para colaborar como incentivo às empresas.

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