Talento remunerado

Talento remunerado

Tenho procurado aproveitar algumas das tantas lives que têm surgido nesse período de pandemia. É uma saída interessante para absorver informação e conhecimento dos mais diferentes setores durante o obrigatório e preventivo isolamento. Mais que isso, pode ser uma experiência surpreendente, pois sempre surge um dado valioso que vai além dos temas propostos. Foi o que aconteceu comigo ontem, quando acompanhava um webinar, que também posso chamar de bom e velho bate-papo em formato digital, sobre os desafios do agronegócio diante dessa crise provocada pelo coronavírus.

A conversa promovida pela Abag (Associação Brasileira do Agronegócio) e mediada por Marcello Brito, presidente da entidade, faz parte de uma série que vai debater o setor de ponta a ponta. Dessa vez, o tema era o “antes da porteira”, ou seja, o segmento de insumos, e reuniu representantes das cadeias de sementes, defensivos agrícolas e fertilizantes. Participaram Douglas Ribeiro, diretor de Marketing da Corteva; Christian Lohbauer, presidente da CropLife Brasil; e Lair Hanzen, presidente da Yara Brasil.

Claro que teve muito conteúdo relevante para o meu trabalho como jornalista especializado em agronegócio, mas a frase que mais me chamou a atenção vai além do meio rural e tem valor para mim não só como profissional, mas como ser humano: “O talento sempre será remunerado”. Ela foi dita pelo Lair Hanzen no sentido de que também neste momento vale a pena os agricultores apostarem em seu diferencial, em seu potencial produtivo, pois de alguma forma isso será recompensado.

A análise parece simples, até óbvia, mas é preciso persistência e resiliência para vê-la materializada de fato. Também acredito que o talento sempre é remunerado, de um jeito ou de outro. Mas na maioria das vezes é preciso ter muito jogo de cintura para alcançar a justa remuneração. Não por acaso, as histórias mais marcantes de quem chegou lá sempre trazem episódios de muita insistência, frustrações, dedicação, superação, desencanto, mais dedicação, superação. Mesmo depois de alcançada a merecida valorização pelo talento é preciso continuar trabalhando duro para mantê-la.

Dentro das corporações, um dos maiores desafios é equilibrar o reconhecimento dos talentos e a pressão por resultados. E falo com base em minha experiência profissional, dentro e fora do agronegócio. Não são raras as vezes em que lideranças mantêm seu foco apenas na prestação de contas e deixam de aproveitar o melhor de suas equipes, desperdiçando os talentos. Há situações nas quais a pessoa acaba sendo direcionada para realizar tarefas em que não consegue aproveitar o melhor de seu talento. Quem nunca passou por algo assim? E ainda corre o risco de se queimar perante a equipe e a corporação, pois a situação vai abafar o que se tem de melhor e ressaltar as limitações, as dificuldades. O profissional certo na posição correta tornará todo o grupo mais eficiente.

Fazendo uma comparação com o futebol, quando o treinador enxerga bem as qualidades e o talento de seu jogador, a carreira de ambos será beneficiada. O Cafu, por exemplo, capitão da seleção do Penta, chegou a jogar como meio-campista, volante e até ponta antes de se consagrar como lateral-direito. A gestão de pessoas é também uma gestão de talentos. Mas é claro que, antes de tudo, é primordial que identifiquemos em nós mesmos esses talentos, assim com as limitações. É o tão valioso autoconhecimento. Essa consciência nos ajuda a entender quando devemos nos lançar de peito aberto sobre os desafios ou quando é preciso um pouco mais de cautela. E esse aprendizado nunca termina.

Observação: A escolha da imagem é porque o malabarismo exige dedicação, ritmo, repetição, persistência, criatividade, jogo de cintura e até capacidade de improvisar. Qualquer semelhança com nossas vidas profissionais é a mais pura realidade.

Entre para ver ou adicionar um comentário

Outras pessoas também visualizaram

Conferir tópicos