Tamar – A primeira das mães “nada ortodoxas” da genealogia de Jesus

Tamar – A primeira das mães “nada ortodoxas” da genealogia de Jesus

CEBI – A BIBLIA DOS TUCUNZEIROS
Publicado em 10/05/2020 - Por Odja Barros / Complemento – Rodrigo dos Santos (01/12/2023)        

 a)     Leitura e reflexão sobre Tamar em Gn 38

b)    Quem é Tamar?  Qual a situação das mulheres refletida na história de Tamar?

c)     Qual o caminho e busca de mudança a partir da memória de Tamar?

d)    Qual a teologia produzida pelas mulheres que fizeram a memória de Tamar?

 ... Judá gerou de Tamar a Farés e Zara, Farés gerou Esron, Esron a Arão ... (Mt 1,3)

Tamar está situada com sua história disposta no capítulo 38 do Gênesis no contexto das narrativas da formação do povo hebreu e seus patriarcas[1]. Porém, Tamar não pertencia, originalmente, ao povo hebreu. Era uma mulher canaanita[2].

Entrou na história dos hebreus, por uma decisão “nada ortodoxa” do patriarca Judá, que escolheu a estrangeira, da tribo de Canaã, Tamar, para ser esposa de seu filho mais velho Er.

Er ou Her, é um personagem do Antigo Testamento, mencionado no livro de Gênesis como filho mais velho de Judá com sua esposa cananeia. Tamar casou-se com Er, mas Deus fez com que Er morresse por causa de sua iniquidade, deixando Tamar viúva e sem filhos. Seguindo uma tradição da época que se tornou um costume entre os hebreus, Tamar foi dada como esposa a Onã, mas este recusou-se a copular com ela para não gerar filhos que seriam considerados pelo costume como descendentes de seu irmão. Tal como Er, Onã também é morto. Tamar depois utiliza-se de um artifício para seduzir o sogro e ter filhos.

Judá (postura patriarcalista) arruma a mulher Tamar para ser esposa do primeiro filho, Er. Este morreu sem dar filhos. Pela legislação hebraica, o segundo irmão, Onã, deveria dar a Tamar um filho, que, pela lei, seria de Er. Então, Onã sempre que copula com Tamar, na hora do orgasmo derramava o sêmen na terra (daí que veio o problema moral do onanismo). Para dar a descendência ao primeiro filho, já que Onã também morrera, caberia ao terceiro filho coabitar com Tamar. Porém, Judá, com recebimento de perder mais um filho, devolve Tamar ao pai. Mais tarde, sabendo que Judá passaria no vilarejo chamado de Enaim, a fim de tosquiar ovelhas, Tamar, espertamente, se disfarça. Judá, pensando que ela fosse prostituta, a convida para dormir com ele. Ali, antes da consumação do ato, ela faz um acordo com ele, tomando-lhe o selo com o seu cordão e o cajado. Ela dormiu com ele e concebeu. Tendo desaparecido Tamar, após três meses, chegou a notícia a Judá que ela estava grávida. Seguindo a legislação contra a mulher, Judá manda que seja queimado. Porém, ela usa o trunfo contra seu sogro e agora pai: apresenta o cordão e o cajado. Judá refaz sua postura androcêntrica. Daí, de Judá e Tamar nasceram os dois filhos gêmeos Fáres e Zara.

Como se viu na história, aconteceu que Er morreu antes de deixar descendência. De acordo com a lei do Levirato, o cunhado, tinha a obrigação legal de garantir descendência ao irmão mais velho. Onã, o cunhado, sabendo que a descendência não seria sua, mas do irmão falecido, cada vez que se unia a Tamar praticava coito interrompido, negando um direito legal a Tamar de gerar descendência na família de Judá. Onã morreu sem permitir que Tamar fosse fecundada, deixando- a numa situação de extrema vulnerabilidade, uma vez que na cultura hebraica patriarcal, uma mulher viúva e sem filhos não tinha qualquer garantia familiar, social ou econômica. Sendo considerada uma mulher “amaldiçoada”, o sogro Judá, ordenou que Tamar voltasse a viver na casa de seu pai como viúva até que seu terceiro filho, pudesse assumir a obrigação legal para com ela. Promessa nunca cumprida. Depois de aguardar resilientemente por anos, Tamar, ficou sabendo que a esposa do seu sogro havia falecido, o que tornava Judá, seu sogro, apto a ser o seu “Goel”, redentor de acordo com a lei do Levirato.

É importante, após compreender a história de Judá, que ele foi o herdeiro conseguindo passar para trás os outros três irmãos mais velhos, Rubem, Simeão e Levi. É preciso gravar bem o nome “Judá”, porque daí vem “judeu”, “judaísmo” etc. Judá é patriarca. Isso é muito significativo. A postura de Judá com Tamar foi de um lídimo patriarca. Tamar não participa das decisões, recebe as imposições, porque são os homens quem decidem pelas mulheres. É Judá quem decidiu que ela seria a esposa de Er (Gn 38,6). É Judá quem coloca a prática legal do levirato, entregando o segundo filho, Onan (Gn 38,8). Ela não é consultada. Esta prática era para os das tribos de descendentes de Abraão. Tamar era cananéia. Mais uma vez, ela é passiva. É Judá quem manda Tamar voltar para a casa do pai (Gn38,11). Outra postura patriarcalista. Ele reina no ambiente. Se repararmos bem, nem os filhos homens, Er, Onan e Selá, participaram das decisões. Quem ditava as normas era Judá, o “pai”. Numa mente disso, como imagine a situação pessoal de Tamar, totalmente esquecida. Além do mais, culpada. Os dois esposos morreram, relacionando-se com ela. Para eles, que Tamar é esta quem não dará um herdeiro? É uma amaldiçoada.

Tamar, corajosamente traçou o plano que forçava o reconhecimento do seu direito legal. Tirou o traje de viúva, cobriu-se com um véu e sentou-se na entrada da cidade onde ficavam as prostitutas e por onde passaria seu sogro. Ao passar, Judá, aproximou-se dela sem reconhecer que era sua nora, mostrou interesse de ter seus serviços sexuais. Tamar exigiu que, antes deixasse como garantia da retribuição, o anel de selo, o cordão e o cajado, a fim de garantir a identidade de quem lhe pagaria por seus serviços.

 Três meses depois, a viúva Tamar apareceu gravida, e foi acusada de prostituição e Judá ordenou, conforme a lei, que fosse queimada viva. A viúva só poderia ser redimida por alguém da casa de Judá , fora isso, seria considerado crime de adultério.

Ao ser acusada, Tamar, prontamente disse: “Estou grávida do homem a quem pertence isto. Reconhece este anel de selo, este cordão e este cajado?” Judá ao reconhecer disse: “Ela é mais honesta do que eu!”. Tamar deu à luz dois filhos gêmeos de Judá, entrando na genealogia de Jesus: “Judá gerou Perez e Zerá, cuja mãe foi Tamar!” Mateus 1:3. Diante da injusta e sistemática negação de direito por parte dos homens da casa patriarcal de Judá, Tamar, foi forçada a construir seu próprio caminho de VITÓRIA, fazendo justiça ao significado de seu nome. Venceu as tramas patriarcais, tornando-se a primeira das nada ortodoxas mães de Jesus!

 Pindamonhangaba, 1 de dezembro de 2023


[1] Tamar: Todo o capítulo 38 do livro do Gênesis aborda a história de Judá, o filho escolhido de Jacó (4º filho). Com a mulher que se chamava “Sua” teve três filhos: Er, Onã e Selá. Aí entra a história de “Tamar”.

[2] Cananeus ou canaanitas eram um povo que dominava parte do Oriente Médio e vivia em Canaã, em regiões que correspondem hoje ao Líbano, Israel, Jordânia e Síria. O termo "cananeus" incluía jebuseus, amorreus, heveus e girgaseus.

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