Toucinho do céu; sobremesa tradicional de Portugal
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Toucinho do céu; sobremesa tradicional de Portugal

Toucinho do céu é uma sobremesa tradicional de Portugal e Espanha, de cor amarela intensa.

À base de ovos e açúcar, originou-se nos conventos, razão da denominação coletiva de doçaria conventual desta categoria de doces.

Consiste numa espécie de bolo feito com açúcar em ponto pérola ao qual se adicionam amêndoas moídas, por vezes, doce de gila e, finalmente, uma grande porção de gemas de ovos. 

O nome Toucinho do Céu deve-se ao fato de a versão original ter banha de porco como ingrediente. 

Essa sobremesa é preparada em todo o país, com diferenças de região para região, sendo os toucinhos do céu mais afamados os de Guimarães, Murça e Trás-os-Montes.

Mais do que preparar os pratos, em alguns casos, gosto de conhecer as origens daquilo que ensino aos meus alunos. 

Existem diversas receitas de toucinho-do-céu, que pertencem às diferentes regiões de Portugal, e a receita do Alentejo é uma das mais populares, destacando-se por utilizar algumas especiarias.

Porquê um nome tão curioso? Imagina-se que tudo se deve ao aspecto do prato, que é parecido com uns doces que são fabricados com toucinho moído e que são precisamente conhecidos por toucinhos.

Contudo, julga-se que a receita original de toucinho-do-céu foi criada por freiras que estavam isoladas no mosteiro em Murça, em Vila Real, e há também quem defenda que o seu nome se deve ao fato de, nessa receita, em vez da manteiga, ter sido preparada com banha de porco.

Saiba que o Convento de Santa Mónica, em Évora, foi o primeiro da Ordem de Santo Agostinho, tendo sido extinto em 1881. 

Só que, entre 1790 e 1792, o convento passou por muitos conflitos internos, descritos como uma história monástica. E adivinhe lá que doce aparece referido nessa história? Exatamente: o toucinho-do-céu, que se tornou um doce nacional no século XIX.

O surgimento do bolo

A transmissão de receituário conventual anda, ainda, envolta em grandes mistérios. É fascinante como uma receita dá origem a outras semelhantes, mas que tão bem se distinguem umas das outras, e criam verdadeiros ícones de doçaria regional. 

O toucinho do céu é basicamente um bolo elaborado a partir de um ponto de açúcar e depois é adicionado de amêndoas e gemas de ovo, e também doce de chila, para depois finalizar o cozimento no forno. 

A sua variedade é impressionante podendo conhecer Portugal através da rota dos seus toucinhos do céu.

Só pela designação, este doce, sugere alguma curiosidade, mas que não leva toucinho, mas um pouco de banha de porco em substituição ao óleo vegetal.

O Convento de São Bento de Murça foi criado por vontade de Simão Guedes, nono Senhor de Murça, na segunda metade do século XVI como um albergue para acolhimento de viandantes peregrinos e para assistência de pobres e enfermos. 

Mais tarde pediu aquele senhor licença à Santa Sé para transformar o albergue em convento e solicitou aos superiores da Ordem Beneditina o envio de religiosas para dar início a uma nova comunidade. 

O novo convento continuou com a obra assistencial do albergue, designadamente tratar dos enfermos e servir refeições aos pobres, e aumentou as suas funções acolhendo senhoras e instruir e educar raparigas. 

Foi com esta nova atividade do convento que se terá desenvolvido um apuramento das artes culinárias e possivelmente porque os seus instituidores viviam ao lado, mantendo a mesma capela comum ao convento e que aos senhores serviria como jazigo da família. 

Um texto publicado pelo Município de Murça menciona a influência do convento de S. Bento que marcou profundamente a vila e o concelho de Murça, mencionando pratos da cozinha local, bem como alguns costumes.

No artigo di que as donzelas e senhoras da região primavam pelas boas maneiras; as rosquinhas, os cavacórios, as queijadas e o toucinho-do-céu corriam as bocas da região, e a Vila ganhava fama de bem receber e de bem servir o seu povo e os seus visitantes.

Não sendo um convento de grandes dimensões há especialidades doceiras que prevaleceram. Uma das últimas criadas do convento, Serafina Rosa Alves, teria reunido em um caderno as receitas principais, tendo ela doada à sua afilhada Hermínia Alves o citado caderno. 

Deixarei para outra crónica outros doces que surgiram nesse convento. Sobre o toucinho do céu escreveu António Luis Pinto da Costa, em O Concelho de Murça, 1992, que o toucinho do céu era a única iguaria que poderia ser oferecida a Jesus Cristo, acaso Ele voltasse a este mundo.

Cristina Castro escreveu em A Doçaria Portuguesa do Norte, no ano de 2016, o seguinte texto sobre o nome deste bolo: é interessante o fato de toucinho do céu associar o divino aos prazeres da doçaria.

Será uma tentativa de tornar o doce imediatamente apelativo pelo nome? Ou será uma forma de justificar (pois se ele é do céu) a vontade pecaminosa de o comer? Provavelmente, será um misto das duas coisas.

No famoso caderno encontramos uma receita para Toucinho do céu e outra com uma denominação curiosa que é Bom Bocado de Murça à Moda de Braga que também é um toucinho do céu, ligeiramente diferente do tradicional de Murça. 

Consta que esta receita terá sido trazida por uma freira que passou por conventos de Braga e Guimarães. Mas o que tem de diferente o toucinho do céu de Murça de outros? Especialmente a forma retangular em que é cozido no formo e depois cortado em fazias regulares. 

Os ingredientes são os de outros: açúcar, ovos, amêndoa, canela e doce de gila. 

As proporções dos ingredientes é que mudam e daí a magnífica variedade de toucinhos do céu. 

Há outros pequenos detalhe que podem variar, mesmo em Murça, como a gordura de barrar, ou não, a forma. E apresentaram-me outro numa forma diferente para inovar.

Gila (abóbora)

A abóbora gila, também conhecida como simplesmente gila, é uma abóbora com um exterior verde e branco e um interior branco com sementes pretas.

Diferente da abóbora tradicional, tem várias utilidades na cozinha, sendo que o doce de gila é sem dúvida o mais habitual em terras portuguesas.

Os ingredientes para a preparação são os seguintes:

600 gramas de açúcar

150 gramas de amêndoa sem pele

220 gramas de água

3 colheres de sopa de doce de gila

18 gemas de ovo

2 claras

Desejo aos meus leitores uma ótima Sexta Feira que se aproxima!!

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