Trabalho, um mundo à parte?
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Trabalho, um mundo à parte?

Olhando para o passado, para o modo como a estrutura do trabalho foi forjada, fica evidente que este espaço foi projetado para homens, afinal, vivemos numa sociedade patriarcal. O que isto significa? Significa que, no cerne da mentalidade coletiva, ainda paira a noção da mulher enquanto propriedade privada. Para tanto, mecanismos de controle e subordinação do corpo feminino foram implementados e, mesmo em meio às nossas lutas, tais mecanismos ainda estão muito arraigados na nossa sociedade.

Para contextualizar, apresento aqui duas informações:

1. No Brasil, mulheres só puderam frequentar a escola básica a partir de 1827, quando a legislação liberou a abertura de escolas públicas femininas;

2. Até 1962, uma mulher casa só poderia trabalhar fora de casa se o marido concedesse uma autorização.

Não por acaso, muitas vezes nos sentimos estranhas no ninho ao buscar crescer na carreira. Não por acaso também nos deparamos com problemas tais como a disparidade salarial entre gêneros. Não por acaso, nós, mulheres, ainda somos minoria nos cargos de liderança devido ao teto de vidro.

Em outras palavras, aqui estamos lidando com um problema estrutural.

Quis trazer um panorama e reflexão sobre o passado para então vislumbrar o futuro do trabalho. Acredito que estamos caminhando, a duras penas, para a integração dos universos que nós, enquanto seres humanos, habitamos.

Ser gente pressupõe inúmeras facetas. A mesma mulher que é uma baita profissional é também filha, mãe, irmã, amiga, esposa, mulher (...) Isso vale para os homens e talvez agora, aos poucos, eles estejam se dando conta disso.

É a partir dessa mudança de mentalidade e, o mais importante, a partir da nossa mudança de comportamento e dos constantes questionamentos sobre o status quo das relações profissionais, que estamos redesenhando esse espaço e tornando-o mais amplo e saudável.

É dessa maneira que vamos desconstruir a ideia de que há uma hierarquia onde o trabalho vem em primeiro lugar, em detrimento de todas as outras áreas da nossa vida, em detrimento, inclusive, da nossa saúde mental e emocional. Inclusive, foi pensando dessa maneira que Burnout se tornou uma doença ocupacional, não é mesmo?

Trabalho, um mundo à parte?

Deixo aqui uma provocação: muitas vezes mergulhamos no "mundo do trabalho" como se ele fosse um mundo à parte, um espaço descolado dos nossos outros lados e facetas.

Vivenciar nossas escolhas profissionais desse modo mecaniza, desgasta e drena nossas energias. A longo prazo pode também nos fazer perder o senso de propósito, autorrealização e desfrute.

O trabalho não é um mundo gravitando à parte e imune às tantas outras escolhas que fazemos e aos acontecimentos que nos atravessam.

Os lutos que a vida nos apresenta, os relacionamentos nos quais embarcamos, as mudanças de cidade e fuso horário, as descobertas de novos hobbies e gostos, as tantas e tantas fases e temporadas pelas quais passamos e ainda vamos passar.

Trabalho, porção de vida e pedaço do tempo

Por fim, deixo aqui uma reflexão conceitual e poética sobre a palavra "trabalho".

O trabalho é um ofício que escolhemos, após décadas de aprendizados cotidianos. Predisposições e gostos que decidimos monetizar e nos quais decidimos investir para nos tornarmos cada vez melhores.

O trabalho é também uma atividade habitual que desempenhamos e na qual vamos nos especializando pela constância e pela busca de novos conhecimentos e experiências.

Em outras palavras, é um processo, um pedaço do nosso tempo, uma porção da nossa vida.

E processos... processos são lentos, como se tivessem um relógio à parte. Processos são também holísticos, complexos e, por vezes, caóticos.

Processos se desenrolam com mais fluidez quando temos espaço para vivenciá-lo e observá-lo, num eterno movimento de tomar distância para ter uma visão panorâmica e mergulhar para coletar aprendizados que apenas a experiência nos traz.

Trabalho, mais do que uma busca insana por sucesso, é uma oportunidade de crescimento humano. Um tempo de muita ação, análise, aprendizado, erros e acertos que nos possibilitam também nos apropriarmos da nossa história, esse desenrolar de acontecimentos repletos de reviravoltas, ápices, decepções e conquistas.

Tudo isso, em conexão, faz sentido e nos ajuda a encontrar o motivo maior da nossa existência. Agora, quando compartimentamos tudo, corremos o risco de nos partimos ao meio, de dispersarmos nossa energia e, quando menos esperamos, nos flagramos sem rumo, como se vida pessoal versus vida profissional fossem coisas concorrentes e até mesmo antagônicas.

Assim continuará a ser enquanto nós, profissionais que transitam e ocupam esse espaço, não nos encarregarmos de mudar essa realidade.

Integração. Esse é o futuro que tanto busco e que vai nos transportar para um "mundo do trabalho" mais humanizado, leve e possível.

E você? Qual futuro vislumbra para o universo das relações profissionais? Me conte nos comentários. Estou curiosa para saber!

Lilian Leal

Inspetor Plena da Qualidade | Auditoria de Produto | Melhoria contínua | Auditoria de Processo| Gestão da Qualidade

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Parabéns pelo artigo execlente Flay Alves gratidão por compartilhar conosco.

Alessandra Trigo

TOP 6 BRASIL HR Influencers 2024. TOP 100 PEOPLE 2023 TOTVS, Top 100 Influenciadores de RH 2023, TOP VOICE, Top 200 Creators 2024 - Favikon. Consultora, Mentora e Palestrante em Diversidade, Inclusão e Acessibilidade.

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Realmente há muitos vieses, em relação a nós mulheres, que precisam ser quebrados.

Regina Mesquita Dezidério

Sócia Proprietária da DM. / Engenheira & Tecnóloga Civil. / Influenciadora Digital. / Marcas e Gestão & Marketing dos Negócios. / Digital Influencer. / Jornalista. / Instagram:@reginamesquita

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