Transições em Primeira Pessoa

Os tempos nos chamam a questionar e a nos conectar conosco mesmo, e estes mesmos tempos nos mostram a complexidade envolvida quando quase tudo acontece junto e misturado.

A realidade sistêmica sempre existiu, mas hoje ela se faz muito viva e presente diariamente, e do nosso espaço mais intimo começamos a observar e repensar nossas prioridades.

Neste processo quase todos encontramos algo que parece não fazer mais sentido, que nos perguntamos o porque de continuar a fazer, mas percebemos que não sabemos como e por onde começar a mudar.  

O trabalho e as carreiras têm sido um dos alvos frequentes destes questionamentos, fruto talvez da consciência de que algumas atitudes coletivas precisam ser abandonadas e precisamos ter coragem individual para a transição.

A transição é um estágio intermediário, uma passagem de um estado ao outro, momento em que tudo parece ficar “suspenso”, aguardando o novo que vai começar.

Falamos de ciclos, que são comuns, curtos ou longos, com fases similares de satisfação, inspiração, confusão e resistência em que as transições podem ser mais ou menos marcantes.

Passei por três transições de carreira importantes e é dividindo esta experiência em primeira pessoa que encontrei uma forma de acolher e inspirar muitos que hoje passam por isso.

Minha primeira transição: sair de banco para trabalhar em consultoria, sair do país para viver os desafios da expatriação, levar marido e filha de 1 ano, tudo muito diferente! A decisão foi difícil, desafiava muito mais que minhas competências técnicas, sabia que teria que enfrentar preconceitos e que o caminho exigiria sempre reafirmar meu desejo, e fortalecer laços. O tempo da “suspensão”, talvez tenha se iniciado, quando na condição de mãe, para conquistar espaço precisava fazer mais que os outros, e que a valorização demoraria mais. Confuso e complicado de aceitar!

Mas foi na minha história que descobri a força e motivação para o “salto”, me conectei com meus valores e com o que desejava perpetuar e, em um impulso, fui para ação.

Após 5 anos trabalhando com diferentes culturas, fazendo parte de vários times e com o segundo filho tive certeza de que a qualidade da minha presença poderia mudar e influenciar a vida de muitas pessoas e fiz a segunda transição: de consultoria para liderança de equipe, de ação para delegação. Não sabia como o próximo passo se estruturaria, ou até qual seria, mas dentro de mim o desejo de mudar e transformar estava vivo.

E aqui o desafio foi sustentar a decisão!

Apesar da satisfação presente, precisei mergulhar em uma jornada rica de autoconhecimento e conexão com meu propósito para descobrir o impacto que queria gerar, e aprender a usar minha força para influenciar e mudar.

E se você acha que depois de duas transições a terceira foi mais fácil, vou dizer que não existem fórmulas! Este foi o período mais longo, onde cometi mais erros e claro, aprendi mais.

Fechar este ciclo significou abandonar coisas que foram importantes e me despir de crenças que limitavam exercer todo meu potencial.

Para este movimento precisei de silêncio, para me conectar com a visão mais clara do que queria viver, um silêncio que despertou sentidos e que fortaleceu o caminhar na incerteza, no vazio com significado próprio.

De funcionária a empresária, do eu para o outro. 

Se neste momento as coisas parecem confusas e você está inseguro com os próximos passos: respire! Deixe que um novo ar entre e se espalhe pelo seu corpo, ele ajudará a coloca-lo no momento presente, para que possa pensar em uma pequena ação, e desta pequena ação a próxima, e com a próxima a outra, e a outra...

Os tempos são líquidos, e você não está só.

Na sua singularidade busque se conectar com seus valores, suas motivações, seu propósito, se imagine vivendo esta realidade e escreva sua história!