Tudo está em cheque na indústria da mídia
Atualmente, ao ver um anúncio de lançamento na área de entretenimento, penso logo no desdobramento natural: iniciativa off-line ou on-line?
Se for on-line, o sucesso depende da estrutura de transmissão de dados. Hoje, sem alto potencial de transmissão de dados, faz-se quase nada! Só que pouco se fala em investir na infraestrutura das redes móveis, terrestres e satelitais.
Para exemplificar minha preocupação, me propus um exercício mental a partir da divulgação de que a rede social X, vai lançar um aplicativo de streaming de vídeo chamado X TV.
A plataforma social foi comprada, em abril de 2022, por Elon Musk Musk, que já era dono:
Menciono tudo isso, porque, goste-se ou não do homem prestes a se tornar o primeiro trilionário do mundo, ele tem uma visão ousada sobre negócios e não teme conflitos com ninguém.
Exatamente por esta característica, me peguei questionando se a falta de informações oficiais sobre o que exatamente será a X TV era sinal de que se trata de algo bem menos tímido do que parece.
Onde há fumaça há fogo
Há várias suposições possíveis sobre a X TV:
1- O que significa o slogan “ser seu companheiro ideal para uma experiência de entretenimento envolvente e de alta qualidade, em uma tela maior”? É um aplicativo para televisores conectados ou um aplicativo em um smartphone que transmite para uma TV? Eu pressuponho que será equivalente ao app do YouTube para as SmarTVs.
2- A promessa de prover conteúdo em tempo real, com ampla disponibilidade tem correlação com a vontade de Musk em fazer do sistema de IA Grok um filtro-distribuidor de notícias que aparecem nas timelines da plataforma X, conforme anunciado no começo do mês?
Aparentemente, o plano é usar IA para combinar notícias de última hora e comentários dos usuários do X em torno de grandes histórias, apresentar a compilação ao vivo e permitir que você se aprofunde por meio do chat.
Uma vez ajustado, nada impede que o Grok entre no app de streaming…
3- A X TV conseguirá ser o super app com sistema de pagamento embarcado com que Musk tanto sonhou? Ele permitirá ao usuário fazer compras, enquanto assiste aos conteúdos?
Inicialmente, esta modelagem estava direcionada à própria rede, mas foi postergada.
4- Haverá alguma personalização parruda no novo app, que ajudará a disputar verbas de publicidade com os serviços de streaming? Ou o sistema mostrará conteúdos indiscriminados?
5- E que conteúdos são estes – produzidos profissionalmente pela indústria ou gerados pelos usuários-criadores? A ideia é criar um competidor a altura do YouTube, para as pessoas utilizarem o X não apenas para mensagens, mas principalmente para videos e, de quebra, ter canais com conteúdos próprios?
Não enxergo a viabilidade de Musk ter canais em várias línguas, com conteúdos locais. Nesse sentido, seria bem parecido com o YouTube TV – forte nos EUA e inexistente em quase todo o mundo.
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Em teoria, tirando a barreira linguística, Musk tem o potencial e o alcance de distribuir esse aplicativo para o planeta inteiro, independente das redes móveis e fixas, por ser dono dos satélites de órbita baixa Starlink.
A X TV poderia se tornar a maior rede de distribuição de conteúdo do mundo? E se isso acontecer, os países conseguiriam bloquear, filtrar, controlar, ou ter algum tipo de gestão sobre esse canal, uma vez que quem possuir uma antena compatível recebe a conexão diretamente? Como regular isso?
Para termos de comparação, as redes de televisão convencionais são essencialmente concessões do governo e formam redes que unificam a transmissão e a produção das informações e conteúdos.
Qual sistema de transmissão será usado pela X TV – broadcast, unicast ou multicast? A resposta disso impacta na possibilidade de ser lançada uma TV via satélite com cobertura geográfica global.
Para responder, tive de pesquisar sobre arquitetura técnica e os protocolos utilizados pela Starlink.
Possibilidades
Se há alguém com dinheiro e poder para lançar uma TV global é Elon Musk. Porém, depois de consultar especialistas como o amigo Jurandir Pitsch, cheguei à conclusão de que isso não é suficiente.
O impedimento – veja a ironia – está na estrutura técnica, algo a que Musk se dedica com afinco em seus demais negócios.
Se a X TV fizer o streaming usando a conexão da Starlink, haverá enorme dificuldade para otimizar a relação conteúdo-custo. O risco de congestionar a capacidade dos beams (feixes de um satélite) é grande e seria preciso colocar mais satélites em órbita para aumentar a capacidade.
Outro fator complica. Hoje, a Starlink funciona como conectividade de internet pura – os gateways estão conectados à internet e o terminal remoto das casas funciona como um modem. Então, sem mexer na arquitetura atual, a X TV funcionaria com uma conexão ponto a ponto, gerando um enorme tráfego na rede.
Para escalar o negócio e ter competitividade, seria preciso mudar a Starlink para um sistema multicast, que até o momento, nem os serviços de streaming têm.
Acredito que a hipótese de Jurandir seja a mais acertada: o app X TV é estratégia para ampliar o alcance comercial da plataforma, sem depender da Starlink. Ao mesmo tempo, ampliar a presença da Starlink como conectividade primária - o usuário recebe X TV e também os competidores.
É interessante observar o movimento de emissoras convencionais europeias informando os reguladores que quando terminarem suas licenças de difusão atuais, não as renovarão. Pretendem colocar o conteúdo em IP (na Internet), em redes abertas.
Aposto que essa moda vai pegar em todos os cantos. Resta saber quem vai financiar o aumento de velocidade de conexão.
*Omarson Costa é especialista em transformação digital da indústria de mídia e conselheiro de administração.
Diretor-Geral do Grupo Cidade de Comunicação | Vice-Presidente da ADVB | Conselheiro de Administração | Mestre em Administração.
5 mÉ verdade, a indústria de mídia está passando por um momento de grande transformação e incerteza. Com mudanças rápidas no consumo de conteúdo, avanços tecnológicos e novas demandas do público, muitas práticas e modelos tradicionais estão sendo reavaliados. É um momento crucial para inovação e adaptação, e as empresas que souberem se ajustar às novas realidades terão uma vantagem significativa.
C-Level Marketing e Vendas | Diretor de Negócios I Investidor e Mentor de Startups I Conselheiro de Empresas
5 mExcelente análise, Omarson C.. Veremos se ele tira algum coelho da cartola, que ninguém imaginou.
Empresário e fundador da Fiandeira Tecnologia, escritor de contos infantis, e outras coisas interessantes.
5 mque interessante, Omarson C.. Belo artigo. Estou curioso em ver os próximos passos
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5 msempre com conteúdos fantásticos!!! Valeu Omarson pela aula
Sr. Engineer | Customer Success | Broadcast Consultant | Agile | ITIL | Team Lead
5 mConsiderando que até pouco tempo "foguete não dava ré", não acho impossível.