Um Retrocesso Civilizatório

Conforme Byung Chul Han, as mais recentes evoluções sociais e a mudança de estrutura da atenção aproximam cada vez mais a sociedade humana da vida selvagem. Como tenho destacada em artigos anteriores, o excesso de positividade traz consigo o aumento de estímulos, informações e impulsos diversos que fragmentam e destroem a atenção profunda.

 A sobrecarga de trabalho, a multitarefa não representa nenhum avanço na sociedade trabalhista e de informação pós-moderna, é sobretudo um retrocesso civilizatório. A multitarefa está comprovadamente presente na vida dos animais selvagens como técnica de atenção imprescindível a sobrevivência. Assim como os animais, não é difícil encontrar pessoas ocupadas no exercício da mastigação de sua comida, se ocupando ao mesmo tempo de outras tarefas. Os animais ao se alimentar, ficam vigilantes quanto a ataques externos, o mesmo, parece acorrer com o homem pós-moderno, que não dispõe do sossego para comer.

O homem, assim como o animal em estado selvagem, está obrigado a dividir sua atenção em diversas tarefas. Desse modo, não pode mergulhar contemplativamente no que tem diante de si, por si encontrar exageradamente atarefado, o que gera uma atenção ampla, contudo, rasa.

Chul Han alerta que o tédio profundo constitui o ponto alto do descanso espiritual. Apenas o desmoronar-se contemplativo dar acesso ao longo fôlego, ao lento. No estado contemplativo saímos de nós mesmos e mergulhamos nas coisas. Apenas a atenção profunda interliga a instabilidade dos olhos, gerando o recolhimento que está em condições de delimitar as mãos errantes da natureza.

Frederick Nietzsche no séculos passados já alertava para o fato de que é preciso conservar algum elemento contemplativo, pois. por falta de repouso, nossa civilização caminha para uma nova barbárie. Portanto, cabe a reflexão: em nome de que ou de quem agimos da forma que agimos? A quem beneficia essa forma de agir? Quais as consequências dessa forma de agir para nosso desenvolvimento pessoal e para o avanço da civilização humana?

Adriano Batista, Psicanalista e MBA em Psicologia Organizacional

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