Uma aventura no aeroporto
Primeira parte: no Aeroporto da Portela os passageiros são instruídos a manter a distância devida em todos os momentos e a desinfectar as mãos continuamente. Contudo, o desafio do afastamento torna-se impossível de cumprir no momento em que se dá a entrada nos depreciados autocarros aeroportuários. Aí, numa viagem de sorte, o próximo passageiro estará a uns 30-40cm. No momento da entrada para o voo TAP com destino a Itália percebo que o avião é um Embraer E190, portanto usado em pequenas rotas. Voei muito nesses modelos na ponte aérea Lisboa-Porto e Lisboa-Madrid, mas nunca para Itália nas várias vezes que lá fui. Esses aviões são diminutos e com apenas quatro lugares por fila. A correr bem e esquecendo os contactos vários entre pernas e braços, a distância máxima será de cerca de 10-20cm para o passageiro do lado. Segunda parte: há vários dispensadores de desinfectante ao longo do Aeroporto da Portela. Estão lá para quem os quiser usar. Todavia, foi curioso constatar que não estava nenhum à entrada do voo para facilitar a desinfecção antes do embarque, à semelhança da restauração ou supermercados. Assim, quem não perpetuou o bom comportamento de lavar ou desinfectar as mãozinhas antes de entrar no avião levará consigo uma boa dose de bactérias ou, quem sabe, a pop star do momento no mundo dos vírus. Terceira e última parte: dentro do avião foi relembrado aos passageiros o uso obrigatório de máscara durante todo o voo. Paradoxalmente, a companhia aérea portuguesa comercializa snacks e bebidas que levam os mesmos a tirarem a máscara durante largos intervalos de tempo. Sim, os tais que estão a 10-20cm de distância do colega do lado. Conclusão possível: apesar do período pós pandemia ainda não ter chegado, creio que chegou a altura de apaziguar a mente humana. Possivelmente o relaxamento trará melhores e mais ponderadas decisões. Talvez a primeira seja assumir com convicção que 'viver' acarreta riscos - mais ou menos os de sempre. E aqui não se trata da ridícula questão de colocar o capital acima do indivíduo. Esse ponto de viragem já aconteceu há cerca de 10.000 anos, em tempos de Revolução Agrícola. Depois daí todos os movimentos significativos da raça humana foram sempre no sentido de entronizar o capital, mesmo antes desse ser inventado. Vamos lá deixar estas questões menores, este extremismo cínico tão acelerador do individualismo social, e começar a voltar aquela espécie de vida normal. Pela nossa saúde física e mental e, já agora, pela saúde da nossa economia!