VAI / Paulo Matta: um esporte, um sonho, um propósito
A história de um garoto rico que sacrificou tudo para ver o voleibol brasileiro chegar no lugar mais alto do pódio
Paulo Matta tinha 15 anos e um sonho: ver o Brasil se tornar uma potência no voleibol, sua grande paixão. Naquele momento, ele vivia muito bem com a sua família em uma das fazendas de cacau que eles tinham no interior da Bahia. Pensando que teria mais chance de alcançar seus objetivos se estivesse na capital, deixou tudo para trás e resolveu migrar para a cidade maravilhosa.
Morou por vários anos no porão do colégio que pertencia a um tio. Se sentia muito solitário mas nunca reclamava; afinal, sabia aonde queria chegar e porque todo aquele esforço valeria a pena.
Fez faculdade de Educação Física, se tornou professor universitário e passou por diversos clubes, inicialmente dirigindo as divisões de base e, depois, como técnico da equipe adulta. Em meados da década de 1960, assumiu o comando da seleção brasileira. A partir daquele momento, seu pai passou a considerar a sua escolha profissional como digna de respeito. Até então, não escondia de ninguém que não se conformava com o fato de seu filho não ter sido "doutor" - médico, advogado ou engenheiro. Mas não era esse reconhecimento que Paulo buscava. Ele queria ver o voleibol brasileiro se tornar competitivo, chegar no ponto mais alto do pódio e por lá permanecer por muito tempo.
Quem vê hoje os investimentos milionários que cercam o voleibol talvez tenha dificuldade em entender a dimensão dos desafios pelos quais todos - atletas, famílias, equipe técnica e dirigentes - passaram quando o esporte ainda era 100% amador.
Para ilustrar essa realidade, Paulo costumava contar diversas passagens, como a de quando, às vésperas de uma olimpíada, precisou pagar do próprio bolso lâmpadas e todo o material de limpeza para tornar o ginásio emprestado por algum órgão do governo minimamente adequado para a preparação da seleção; ou de quando, ao voltar de uma competição internacional, foi recebido com a notícia de que estava demitido do clube onde trabalhava.
Mas nada tirava o seu ânimo. Numa época em que registros em vídeo ainda eram raros, ele sempre investia o que tinha e o que não tinha para montar uma estrutura que permitisse mostrar para seus alunos e atletas como jogavam países como a União Soviética, o Japão e outras super-potências do esporte.
Uma vez, em um mundial, seu time realizou o feito inédito de ganhar do Japão, de longe a melhor seleção do mundo naquela época. Sua esposa correu as agências internacionais de notícias - lembrando que a internet ainda estava longe de existir -, descobriu o resultado e mandou um telegrama que alcançou a equipe no café da manhã do dia seguinte. A equipe toda comemorou o fato de que pelo menos uma pessoa no Brasil sabia da vitória impossível que eles tinham acabado de alcançar. Outros tempos…
Em 1992, já aposentado, Paulo ganhou de presente duas passagens para a Europa. Não teve dúvida: o destino seria Barcelona; o objetivo: assistir os Jogos Olímpicos. Como já estava muito perto do início da olimpíada, foi muito difícil conseguir comprar ingressos. Recorreu a amigos da CBV, do COB e até do COI e repartiu os convites com seu filho, então jornalista do Globo, que o acompanhou naquela viagem histórica. Enquanto um estava nas piscinas assistindo a medalha de prata de Gustavo Borges, o outro testemunhava as façanhas daquele que foi considerado por muitos o melhor time de basquete de todos os tempos, o Dream Team americano, com Michael Jordan, Magic Johnson e companhia.
Por uma dessas coincidências da vida, se é que elas existem, pai e filho só assistiram juntos a uma partida que foi justamente a final do vôlei masculino que consagrou o Brasil com o primeiro ouro olímpico da sua história. "Pensei que ele fosse cair duro", contou seu filho ao voltar para o Brasil. A vida dele tinha valido a pena! O voleibol do Brasil tinha chegado lá! Pouco importava se ele estava no banco, como treinador ou um pouco mais distante, na plateia. Aquela conquista era a única coisa que realmente importava para ele...
Até aqui, contei a história desse exemplo do esporte de fora, de longe, como um relato. Agora, me permito acrescentar uma informação como filho: quando meu pai morreu, criamos um grupo fechado em uma rede social batizado de "Os filhos do Paulo Matta". Tenho muito orgulho de ser filho de uma pessoa que perseguiu um ideal por toda uma vida. Ao criarmos esse grupo, abrimos espaço para que gerações de atletas, alunos e técnicos pudessem falar da importância que ele teve nas suas vidas. Certamente, essa foi a sua maior conquista!
Solutions Architect | Software Architect | Technical Product Manager | Senior Developer | Business Analyst
4 aCaramba, me identifiquei muito com esse texto! Mamãe era jogadora da seleção amazonense e posteriormente treinadora de vôlei em Manaus nessa mesma época, e tiver o prazer de levar ela pra ver jogos de vôlei do pan do Rio. Parabéns!
Ouvidoria, Relacionamento com Clientes, Comunicação
4 aMuito inspirador o relato! Determinação e foco no objetivo são a chave para conquistar tudo o que se quer, por mais que possa parecer um sonho distante e improvável.
Sócio na Barbosa & Porto Advogados Associados
4 aPrezado Eduardo, tive o prazer e a honra de ter sido atleta do Paulo Matta no Flamengo, em especial entre 1975 e 1977, onde conquistei vários títulos sob o seu comando e só tenho boas recordações. Apesar de todo o trabalho que demos a ele, pois a equipe juvenil, bi-campeã carioca, era formada de atletas extremamente inteligentes e indisciplinados, em especial Coelho, Leonardo Burlamaqui, Osso, Maurício Pedrosa, Camelo, Fernando Levenhagem, dentre outros (leia-se indisciplinados no bom sentido, pois todos adorávamos uma bagunça e em especial provocá-lo com alguma questão polêmica), mas a melhor lembrança que tenho dele, antes de ele ser um fantástico formador de atletas, é como educador, essa carrego comigo até hoje. Tenha sempre muito orgulho do teu pai, ele foi realmente uma pessoa especial
Planejador Financeiro | Corretor de Seguros
4 aGrande história Eduardo e parabéns a seu pai. Meu pai, João Claudio França, jogou na seleção brasileira de 1960 a 1966, participando do mundial na Russia, foi campeão pan americano em 1963 e foi a olimpíada de Toquio em 1964. Já ouvi muitas histórias desta época e lembro bem de falarem com muita admiração sobre o seu pai. Tenho certeza que o trabalho que ele fez e o legado que ele deixou foram muito importantes para definir o patamar que o nosso volei está hoje. Parabéns mais uma vez!
CEO Confitec - TI para o Mercado Segurador
4 aGrande história Eduardo! Fiquei super feliz e emocionado com a história dele! Pessoas que buscam realizar seus sonhos fazem a diferença! Grande abraço.