VENDA DE ATIVOS EM REFINO DA PETROBRAS É POSTA EM DÚVIDA APÓS REVÉS NO DIESEL
Analistas e especialistas que acompanham de perto a Petrobras levantaram dúvidas sobre a saúde futura do programa de desinvestimentos em refino da empresa depois do revés no ajuste do diesel ontem.
A estatal decidiu suspender um aumento no diesel de 5,7%, anunciado ontem, após pressão do presidente Jair Bolsonaro, que teme uma nova greve dos caminhoneiros. Bolsonaro confirmou há pouco que ligou para o presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco.
De acordo com o sócio-fundador e diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), Adriano Pires, após a decisão da empresa de voltar atrás no ajuste, cresce o risco entre os empresários de comprar ativos da estatal. "Você acha que um cara vai comprar uma refinaria no Brasil se ele achar que a qualquer momento o governo vai obrigá-lo a vender combustível mais barato no mercado nacional?", questionou, colocando em xeque o sucesso no desinvestimento de ativos na área de refino e na BR Distribuidora.
"O papel da Petrobras agora, que tem de ser ajudada pelo governo, é falar que esse evento de ontem foi aleatório. Que isso não vai se repetir. E que o governo vai retomar a política de preço. Para retomar essa credibilidade, a estatal precisa estar na frente dessa campanha, mas ajudada pelo governo", disse, Pires, que chegou a ser cogitado para compor o ministério de Bolsonaro.
Segundo os analistas André Hachem e Leonardo Marcondes, do Itaú BBA, a decisão da estatal injeta mais incerteza sobre o programa de desinvestimento, sobretudo no refino - etapa esta considerada por eles importante para demonstrar de fato uma melhora na governança corporativa da empresa. "A interferência na política de preços da Petrobras e sua liberdade de acompanhar a paridade internacional poderiam levantar dúvidas entre os participantes que poderiam estar investigando os ativos e, assim, impedir esse desinvestimento", disseram, colocando em xeque a disposição de players no negócio em meio às incertezas nos preços.
Ainda conforme a equipe do Itaú BBA, a capacidade da Petrobras de definir os preços dos combustíveis no mercado doméstico decorre do seu monopólio. "Abrir o segmento a terceiros garantiria que as práticas de mercado fossem aplicadas no mercado doméstico e restringiria a capacidade da empresa de controlar os preços", afirmaram.
Na mesma direção, a equipe do BTG Pactual ressaltou o risco que paira agora sobre o processo de venda de refinarias, que deve se iniciar em breve. Os desinvestimentos, segundo os analistas, são cruciais para a redução do risco da empresa.
Além disso, os analistas Thiago Duarte e Pedro Soares, do BTG, disseram que os acontecimentos do dia elevam também a percepção de risco sobre a liberdade operacional da estatal de controlar o preço dos combustíveis. (Cristian Favaro, cristian.favaro@estadao.com)