Verdades Mentirosas!

Verdades Mentirosas!

Era 1943, tempos dificílimos para o Brasil e para o Mundo que estava enfrentando a 2a. Guerra Mundial.

Duda e sua mãe Zezé, viviam na cidade de Bodocó no sertão Pernambucano.

Zezé, mulher de garra, se virava como podia para sustentar sozinha, os seus 7 filhos e Duda era o seu primogênito pelo qual, Zezé nutria uma predileção.

Duda, desde pequeno era um inconformado, vivia sonhando em sair da cidade, prometendo para Zezé que ia ser um homem famoso! Queria ir para Recife e lá iria se dar bem ou até quem sabe, iria para outros Estados e Países!

Zezé o apoiava apesar de saber que Duda era um pouco loroteiro e não muito dado ao esforço, pelo contrário, ao invés de ajudá-la, ficava sentado no Bar do Seu Boió, onde tinha o único rádio AM da cidade, ouvindo músicas e notícias sobre a tal de guerra.

Não foi fornecido texto alternativo para esta imagem

Um dia, Duda passando pelo posto dos correios, viu um cartaz e junto dele, um oficial com a informação que o exército brasileiro estava convocando pessoas para lutar na guerra na Europa.

E então, Duda, num misto de "coragem, patriotismo" e vontade de sair de Bodocó, decidiu se alistar sem consultar Zezé.

O Oficial lhe disse que teria até duas semanas para se apresentar no quartel do exército em Recife para o início dos treinamentos.

Duda, talvez sem imaginar o tamanho da "encrenca" em que tinha se metido, foi feliz para a casa para contar a novidade para a sua mãe:

"Mainha, Mainha, nem te conto!" exclamou Duda com a carta na mão.

"Não me conta o que meu fio? Digue logo!" retrucou Zezé.

"Mainha eu vô lutá na guerra contra aquele safado do tal de "Rita"! O exército me chamou e eu vou viajar prazeuropa! Tô feliz, pois nunca saí daqui nem sequer pra ir pra Juazeiro pra vê Padim Ciço"

Vendo que o documento era realmente do exército, Zezé começou a passar mal e depois de muita choradeira acabou por aceitar a situação.

Dias depois, lá estavam Zezé, Duda, seus 6 irmãos e mais um punhado de gente, no ponto de ônibus se despedindo do valente filho de Bodocó.

Numa das várias paradas no trajeto, em Caruaru, sentou-se ao lado de Duda uma moça chamada Belinha, moça de família que também ia para Recife, mas para estudar.

Foi tiro e queda, Duda que nunca havia visto moça tão bonita e Belinha que nunca tinha ouvido tanta lorota bonita, acabaram por "se apaixonar" durante o trajeto e passaram a noite na praça da rodoviária até o sol raiar.

Duda num ato de paixão disse a Belinha:

"Pensando bem, quero ficar com você aqui em Recife e não vou me apresentá no exército!"

"Mas o que é que você vai dizer para a sua mãe?" Perguntou Belinha.

"Nada! De tempo em tempo mando notícias dizendo que estou bem nazeuropa e tento me virá com trabalho aqui" respondeu Duda.

E assim decidiram que iam ficar juntos!

Meses depois, Belinha deixou os estudos pois ficou grávida e também mentia para os pais, dizendo que as coisas estavam caminhando bem. E Duda, periodicamente enviava cartas para Zezé e pedia para ela ajudá-lo com dinheiro para comer, porque o exército brasileiro só dava café com pão e um rancho na hora do almoço e não tinha janta.

Pedia para mandar o dinheiro para um endereço do exército em Recife (sua casa) e Zezé, se desdobrava para poder ajudar o "valoroso" filho.

Haviam-se passado um ano e pouco, Duda e Belinha, com um filho e outro na barriga, viram comemorações nas ruas e descobriram que a guerra tinha acabado. Ficaram muito felizes, mas rapidamente veio a pergunta de Belinha:

"Mas e agora! O que é que você irá dizer para dona Zezé? Vai contar a verdade?"

"Nem pensar, minha mãe me mata! Num sei se digo que eu morri na guerra ou se volto e conto alguma coisa diferente" e concluiu:

"Pensando bem, num posso contar que eu morri porque ela não ia acreditar ou ia morrer antes de ver que era mentira. Já sei! Vou escrever para ela dizendo que voltei casado para Pernambuco e nós vamos para Bodocó! Vou dizer que você é italiana, muda e que tivemos o nosso filho lá. Ficamos um pouco em Bodocó e depois voltamos para o Recife."

Belinha, mesmo não gostando muito da ideia de ser muda, aceitou e Duda escreveu para a mãe.

Ao receber a carta, Zezé emocionada, saiu pela cidadezinha alardeando aos quatro ventos que Duda, estava regressando depois de ter batalhado na guerra.

O prefeito da cidade, mandou preparar a recepção par o seu filho pródigo e toda a população estava à espera do grande momento.

Quando Duda e a sua familia desceram do ônibus, foi uma agitação! Palmas, ovações e muita emoção.

Ao chegarem na prefeitura, o povo queria saber das histórias de Duda. Zezé, ansiosa, virou uma repórter ocasional e começou a fazer perguntas:

"Mas meu fio, você tá bem demais! Todo corado e gordo, nem parece que estava na guerra"

"Mainha, você sabe que aquele dinheiro que você mandou, deu para eu comer bem e tô corado assim porque justamente no lugar onde fiquei tinha um sol de rachar coco!"

"Sei, mas me conte mais! E esta moça e o minino? Por que ela não fala nada e tem cara e jeito de Pernambucana?

"Mainha, tu é muito ignorante visse! Num fala por que ela é muda e se parece com a gente por causa da convivência!"

E desconversou:

"E vamos mudar de assunto porque o prefeito tá aqui e isto é coisa pessoal!"

"Tá bom, tá bom, e como foi na guerra? Parece que você não tem nenhum machucado."

"Graças ao meu Padim Ciço!! Você sabe que sempre fui muito ligeiro! Era bala pa cá, bala pa lá, mas eu consegui escapá de todas e sem nenhum arranhão!

"Sei, e o tal do "Rita"? Você soube dele?"

"Ôxi! Tanto soube que fiquei cara a cara com o cabra da peste!

"Encontrou o Rita??!!!!"

"E porque cê acha que a guerra acabou mainha? Eu tava andando na mata e encontrei ele saindo dum buraco! Daí sem pestanejar apontei meu revorve e disse:

"Rita seu cabra safado!!! Agora tu vai se vê comigo seu desgramento!

"Nooossa! e aí meu fio, o que é que o Rita falou?" Perguntou Zezé, num misto de incredulidade e espanto.

"Daí ele disse: "Meu Deus, Duda de Zezé por aqui? Então eu me entrego! Aliás num me entrego não, me mato!" E deu um tiro nas próprias ventas!

Meu Deus!! O "Rita se matou por sua causa? Mas.... se ele era dazalemanha e você num fala outra lingua, como é que ele entendeu o que voce disse?"

Entendeu de medo mainha, de medo!! finalizou Duda já sem muito o que dizer.

Eis que no meio da multidão aparece Rosinha, uma namorada que Duda tinha deixado para ir para guerra, mas que tinha jurado amor eterno.

"Duda meu amor!! Que saudade!! exclamou Rosinha e tacou-lhe um beijo.

"Meu amor???!! Quem é esta quenga? Berrou Belinha sem se dar conta de que ela era "muda".

Ôxi! Mas ela fala e com sotaque daqui?? Perguntou Zezé.

E Belinha e Rosinha foram para briga. A confusão estava armada, sem controle e para piorar, chegaram soldados do exército e prenderam Duda por deserção. Foi um fiasco que só!

Obviamente, esta história não tinha outra maneira de terminar senão com a verdade aparecendo.

Quem nunca contou uma mentira aqui ou acolá, até mesmo a usando como uma forma de brincadeira.

Eu mesmo, minto aqui, pois o caso acima nunca existiu e neste caso a mentira foi usada para criar esta ficção que lhe entreteve até agora.

Mentir faz parte da cultura do ser humano, tanto que a mentira tem até o seu dia mundial, o 1º de Abril.

Mas a "graça" termina aqui.

No caso de Duda, as suas mentiras geraram dores e frustrações para outras pessoas, principalmente para a sua mãe, que além de ser enganada, sentiu-se totalmente constrangida e envergonhada pela situação.

Na realidade, a mentira está ligada às questões psicológicas e servem, por exemplo, para dar uma falsa sensação de segurança para o mentiroso que geralmente é ansioso, inseguro e tem medo de julgamentos, críticas ou frustrações.

Entretanto e o mais preocupante é que num mundo regido pelas redes sociais, mentiras tem se tornado matéria prima para atitudes abusivas como como bulling, fake news e manipulação das massas.

Estão usando a mentira profissionalmente! Ela passou a ser uma ferramenta usada propositadamente para desequilibrar as pessoas e o Mundo e não tem exagero na minha afirmação.

Pessoas perdem empregos, amizades e até a familia por uma mentira contada e jogada nas redes sociais.

Crianças e adolescentes sendo doutrinados ou massacrados mentalmente gerando casos de violência ora agredindo ora sendo agredidos.

Casos de depressão e até suicídios gerados por uma mentira somada com a maldade aflorada em muitos.

Se juntarmos as pessoas, políticos e empresas de má fé aos interlocutores desatentos ou despreparados para detectar notícias ou informações mentirosas, vemos exatamente o que está acontecendo atualmente.

Centenas de notícias mentirosas com o intuito de enganar, de destruir imagens, biografias e gerar confusão e comoção com intuito de instigar uma ou outra parte, viraram atitudes ordinárias e usuais.

Portanto, ainda que o causo contato acima tenha sido contado de forma bem-humorada, a essência deste tema tem de ser combatida.

A mentira, nunca foi e nunca será positiva e temos que combatê-la veementemente!
Para isto, devemos monitorar o conteúdo que os nossos filhos estão recebendo em seus aparelhos de celulares, checar a veracidade das notícias recebidas, verificar a real intenção que o gerador do conteúdo tem e principalmente, não mentir!

Temos uma grande responsabilidade de zelar pela verdade, somos exemplos para os nossos filhos e liderados, temos compliance a serem cumpridos, portanto não podemos nos ver metidos em mentiras ou sendo influenciados por elas.

E você conhece algum Duda na sua vida?

Quais são os impactos que você acredita que este assunto está causando na sociedade?

Comente!


*Nota: muitas palavras neste artigo foram más escritas propositadamente e sem nenhuma intenção de denegrir personagens, regiões ou a lingua portuguesa.

Dedico este causo ao meu grande amigo Eriberto Sarmento, pernambucano, compositor de várias marchinhas do Galo da Madrugada, pessoa extremamente inteligente e carinhosa, mas que infelizmente já não está entre nós. Ficávamos horas no bar do Novotel de Manaus, trocando causos como este e nos divertindo!

Auriana Ramos

Advogada e Sócia Sênior da RAMOS E GOUVÊA ADVOGADOS

2 a

Éramos mais felizes quando "causos", como este, não passavam da mesa de bar, das novelas, filmes ou do livro de cordel... Hoje, além de entrar em nossa casa e em nossa mente, como um divisor temporal que,  atualmente, com a utilização de uma verdade mentirosa soltam alguns, e com uma séria brincadeira prendem outros... Parabéns,  meu amigo! É sempre bom vê-lo por aqui e sentir a brasilidade em suas veias! 😉 Um forte abraço para toda família!

Jorge Luiz Ferreira

Especialista em Serviços de Recursos Humanos e Integração de Novos Colaboradores | Implantação do RH do Zero | Consultor Empresarial | Big Voice In 2023 - Liderança & Networking | Professor Escola de Pessoas

2 a

Adorei o "causo", amigo Luiz Damas! E olha que ainda tem muita gente na rede que é bom em "causos" como o Duda.

Paulo Moura

CEO & Founder | Conselheiro Consultivo Certificado ConCertif™ | Governança Corporativa | Finanças | Gestão de Risco | Compliance | ESG | Reestruturação Financeira | Planejamento Estratégico |

2 a

Excelente amigo Luiz Damas Se brincar teve esse causo lá mesmo! Rsssss.

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