A Vida Não Termina aos 50: Como Transformar Incertezas em Propósito

A Vida Não Termina aos 50: Como Transformar Incertezas em Propósito

O desafio de envelhecer na carreira

Meu pai sempre dizia: “Vi, aproveita a vida. Porque quando você olha para os lados e vê que conseguiu alcançar os objetivos que há tanto persegue, estará com 50 anos”. Hoje, aos 40, vejo que ele estava certo. A vida depois da faculdade é um turbilhão em que nós não temos tanta certeza de como estaremos amanhã. É uma sequência de angústia, ansiedade, trabalho, aprendizado, comemorações, medos e todos os sentimentos que nem sabíamos que existiam no dicionário. 

E há um fator traiçoeiro: não percebemos o tempo passar. Aliás, como naquele filme do Adam Sandler, “Click”, queremos que o tempo passe mais rápido a maioria das vezes. Queremos pular aquele vídeo que não gostamos, desejamos que os episódios de nossas vidas fossem um story de Instagram, ou um Shorts de YouTube em que pudéssemos pular os momentos mais chatos e difíceis e ir logo para o próximo.

O problema é que, de pulo em pulo, nosso filme acaba. E, ao contrário dos aplicativos, não conseguimos voltar para rever aquele momento que passou e que tomamos consciência de que era muito bom só agora. Passou. Não volta. Então, depois que me dei conta disso, procuro aproveitar o momento e vivê-lo na plenitude - o que, com as distrações que temos atualmente, é muito difícil.

E o que você entende por aproveitar? Para mim é fazermos as coisas que fazemos, não apenas o lazer ou a bebedeira com os amigos. É o resolver um desafio na empresa, estipular uma meta, montar um quebra-cabeça com a minha filha e ajudar a organizar seus brinquedos pela enésima vez. Além disso, é entender que não precisamos da perfeição para estarmos tranquilos. Que manter-se calmo também é uma habilidade que precisamos desenvolver.

Vai ser difícil, depois que colocamos mais complexidade na vida, alcançarmos aquele sossego que tínhamos na infância ou adolescência. Era mágico. Domingo após o almoço, deitava na sala da casa dos meus pais para ler o Estadão. Aos jovens, o jornal antigamente era impresso. Lia cada um dos cadernos e comentava. Papai lia a Veja e minha mãe, as manchetes de ambos.

Ao final da tarde, ia fazer a minha caminhada com meu amigo de infância. Caminhávamos muito, às vezes 6, 8 e até 9 quilômetros. Para mim, que passei a adorar as corridas, é uma distância pequena hoje. Mas naquela época, era apenas pretexto para um bom papo acerca do jornal e das nossas angústias. Será que encontraríamos alguém que gostasse da gente? E a faculdade? Quando nos graduaríamos? Ou então o tema emprego: trabalharíamos com nossos pais? Seríamos funcionários públicos? Executivos? Enfim, tudo era acalmado quando retornava para casa e jantava com meus pais.

Antes do jantar, claro, uma cervejinha após a maioridade. Ou melhor, uma smirnoff ice (não me recrimine pela quantidade de açúcar que tinha nela). E, ao dormir, a certeza do sono dos justos e protegidos, pois nossos pais só iriam morrer quando estivessem bem velhos - e nós éramos imortais. No máximo, pensava: tenho 20 anos, meu avô, 80. Assim, é justo supor que conseguirei viver mais 4 vidas como as que tive até agora. Se demorou tanto para chegar dos 0 aos 20, dos 20 aos 80 é um tempo infinito. E caía no sono.

Quando pensava no futuro, as angústias eram reduzidas pela situação confortável que vivia e pela certeza de que o próximo ano seria igual ou muito parecido. No terceiro ano da faculdade, sem nenhuma reprovação, estava tranquilo para encarar o quarto. Afinal, era senso comum que o pior já havia passado. E não havia alternativa. O futuro estava na sala ao lado em que os alunos do quarto ano estudavam. 

Mas, aos 40, não tem sala ao lado. Dos meus pais, foi-se 50%. Dos avós, 100%. Até 2017 havia meu avô e meu pai; hoje, a referência sou eu. No trabalho, ao contrário da época da graduação, há incertezas e turbulências. Podemos continuar crescendo e atendendo um número cada vez maior de clientes, mas também podemos enfrentar alguns tropeços.

E na família, tenho a plena consciência de que não tenho controle de pouca coisa. Na saúde, nos resta seguir os protocolos de alimentação saudável, exercícios e pouco álcool; mas, mesmo assim, não há certeza de nada. Por isso, se sonharmos com a falsa sensação de controle e segurança que tínhamos e a colocarmos com condição meta, nunca seremos felizes. Na carreira, é a mesma coisa. Vire a chave e aprenda a aproveitar e ser feliz mesmo sob condições incertas, confiando nas fundações e valores que construiu na sua vida e principalmente em sua educação. Não há nada melhor.

Nei Freitas

Gestão de Processos | Gestão de Projetos | Lean Six Sigma Green Belt | SAP MM

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