Tem pra que? O poder do questionamento simples que evita grandes erros

Tem pra que? O poder do questionamento simples que evita grandes erros

Tem pra que? Pra que fazer isso? 

Você já ouviu esse questionamento? Não sei se é um termo de utilização ampla no Brasil, mas quando lembro do meu pai, lembro dessas perguntas. Sempre que colocávamos uma ideia não muito tradicional, a pergunta era automática: “tem pra que fazer isso?” E, pensando um pouco, na maioria das vezes a resposta era não. 

Com esse questionamento quase cômico, papai nos fazia pensar e refletir sobre o que havíamos acabado de falar. Às vezes podia ser uma manobra arriscada no carro, na bicicleta ou em algum meio de transporte. Outras, uma alternativa mais econômica, como comer em algum restaurante claramente arriscado, só para economizar algumas moedas. Havia, ainda - e nesse que vou me ater no texto -, os questionamentos estratégicos nas empresas.

Pra que corporativo

Logo que comecei a trabalhar com meu pai, recém vindo do meu estágio num banco de investimentos em São Paulo, o “pra que” me salvou. Com cabeça de multinacional e ímpeto de 22 anos, cheguei na pequena indústria da família. Lá, num cenário totalmente diferente, me deparei com outra cultura e, claro, outra velocidade.

Bastaram alguns dias para que eu fosse falar com meu pai, sugerindo um caminhão de mudanças. Ele, como sempre, me ouviu e perguntou: “tem pra que fazer isso?”. Pensei rapidamente e vomitei uma série de argumentos prontos que havia lido sobre como deveria agir um profissional responsável por coordenar uma empresa. Então, se queríamos uma empresa mais lucrativa e em crescimento mais acelerado, deveríamos fazer uma demissão chave.

Após ouvir pacientemente, meu pai fez um segundo questionamento: “você irá assumir o lugar da pessoa que quer desligar? Quer dizer, você virá aqui sempre que acontecer um problema como uma parada de equipamento no meio da madrugada? Cuidará da gestão da manutenção e também de realizá-la quando for necessário? Posso ficar tranquilo com isso? Se sim, manda ver”.

Diante da reflexão forçada, ficou claro que a frase “feito é melhor do que o perfeito” é útil. Pela cultura da empresa e pela situação financeira, não teríamos condições de recrutar um time tal qual havia trabalhado no banco. E, o profissional que tínhamos, se treinado no que eu queria implementar, seria ótimo. Além disso, se peitasse a mudança, assumiria uma responsabilidade maior do que minha capacidade, não conseguindo dar conta de outras coisas mais importantes.

E desde então, toda vez que estou diante de uma situação nova e que não refleti com seriedade, penso no velho: “tem pra que fazer isso, Vi?”. E os 5 minutos de reflexão que surgem a seguir já me salvaram de fazer muita besteira. Querem ver exemplos?

  • Desistir da faculdade de engenharia e mudar para economia na crise do segundo ano;
  • Pedir demissão no primeiro questionamento;
  • Demitir funcionários quando a meta não é alcançada;
  • Gastar mais do que deveria comprando algo inútil só porque está barato, como uma televisão de plasma quebrada em um leilão;
  • Andar acima do limite de velocidade; etc.

Portanto, se puder dar uma dica, faça o teste do “tem pra que fazer isso?” na sua ideia. Ou, se preferir uma pegada mais formal, use o modelo que aprendemos com o Deming: 3 questões da melhoria. Responda:

  • O que eu quero realizar com isso; quer dizer, qual o meu objetivo?
  • Como saberei se a minha ideia deu certo, ou seja, quais indicadores eu quero impactar, qual o impacto e em quanto tempo?
  • Como é mesmo a minha ideia de mudança?

Assim, não cairá nas armadilhas do ego ou das ideias geradas pelo famoso disparo de amígdalas… Terá que passá-las pelo crivo de uma avaliação mínima que seja. Isso economizará dores de cabeça e dinheiro, muito dinheiro.

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