Você é rabo de leão ou cabeça de gato?
Você já ouviu esse provérbio? Gosto muito dele e penso que ele faz muito sentido no contexto profissional.
Explico! Em 2007 eu conquistei meu primeiro emprego depois de formado. Era longe de casa, dos amigos e familiares. Mas longe mesmo, quase no Uruguai. Bons tempos de aprendizado.
Depois de quase um ano, voltei para “a minha terra” para fazer pós-graduação na mesma universidade que havia me graduado. Infelizmente tive que parar tudo, trabalho e estudos, por conta de um AVC.
Com muita paciência, dedicação e fisioterapia, recuperei boa parte dos movimentos perdidos e me animei para voltar a trabalhar. Ah, eu não contei ainda... mas era dentista!
Aqui surge a cabeça do gato: uma clínica minúscula, numa cidade minúscula, com faturamento menor que o salário de muitos funcionários municipais à época. Não tinha necessariamente um horário rígido, as vizinhas iam bater papo entre um e outro atendimento, levavam bolo e café. Nos dias mais quentes, conversávamos (nós e outros funcionários da prefeitura, logo à frente) na sombra da árvore que cobria a fachada da clínica. A demanda da empresa era inversamente proporcional ao meu sonho naquela época: ganhar o mundo, crescer profissionalmente, me aperfeiçoar.
Cerca de 10 meses depois de iniciar meus trabalhos naquele lugar bucólico, me mudei novamente para a cidade de São Paulo, desta vez por conta de uma namorada (minha esposa hoje). Recém contrato pelo setor comercial da Imbra, me sentia um completo "estranho no ninho”, uma mistura de dentista e vendedor de seguros.
A fase da empresa era boa, diariamente se ouvia falar em planos de expansão, o universo corporativo aos poucos foi ficando familiar e a cada dia seduzia mais. Foi aí que dei meu primeiro passo focado para me tornar o que sou hoje. Muitos cursos de curta duração sobre finanças, contabilidade, vendas, gestão de pessoas, PNL e ... muita estratégia (a paixão da minha vida). Eu enxergava oportunidade em quase tudo, tinha boas ideias e as vendia bem para meus colegas de trabalho. Uma pena que nunca chegavam sequer, aos olhos dos tomadores de decisão da empresa.
Por um lado, eu adorava fazer parte de uma empresa com muitos funcionários, faturando dezenas de milhões ao mês (dos quais eu e minha equipe colaborávamos diretamente). Por outro, ser tolhido a cada nova ideia e começar a entender que quase nada poderia ser como eu queria, aos poucos foi drenando minha motivação. Era um leão! Com vontade própria, feroz, forte e com domínio territorial... mas muito independente de mim.
Antes que a Imbra falisse eu já havia me empregado em outro local, cujos 4 anos foram marcados por muito aprendizado. Um leão menor, que hora ou outra me permitia ajustes, mas como bom leão que era, mantinha suas decisões acima das minhas, por mais geniais ou matematicamente benéficas que fossem.
Novamente desmotivado, me recordava com certa alegria daquela clínica pequena, que mais parecia a varanda de uma grande casa de veraneio. Mas o que havia ali? Faturamento pífio, salário ruim, benefícios inexistentes, equipamentos defasados, infraestrutura rudimentar e, independência.
Hoje, entendo que a independência absoluta de fato, não exista (e acho isso bom, afinal o mundo é "share"). Qualquer carreira dependerá de outras pessoas (clientes internos ou externos), mas assumir a “cabeça de gato” como estilo de vida, me permitiu olhar para mais lugares, acessar novos espaços, interagir com outros stakeholders. Não posso tomar decisões absolutamente sozinho, afinal meus projetos sempre têm muitos tomadores de decisão envolvidos e eu faço questão de participa-los. Mas essa “liberdade condicional” me fez acreditar plenamente que eu tenho um livro aberto com páginas em branco e boa parte da história, está nas minhas mãos (a tal da estratégia).
Não tem nada a ver com ser melhor ou pior, tem a ver com o seu propósito e estilo de vida. Tenho amigos gestores de multinacionais, donos de microempresas, donos de grandes empresas, funcionários, prestadores de serviço... de todos os tipos, alguns plenamente alinhados profissionalmente com o seu propósito de vida (felizes) e outros, nem tanto.
Por isso, tanto faz... leão ou gato, rabo ou cabeça, tudo se justifica quando tem propósito envolvido.
Espero que o seu propósito seja pleno, visceral... suficiente para te guiar para a escolha correta!