“Waze” cognitivo

“Waze” cognitivo

Para explorarmos um melhor desempenho do nosso cérebro, na intenção de evoluir e lapidar o modelo decisório presente, é preciso conhecer as armadilhas cognitivas a qual estamos suscetíveis. Porém para escaparmos de tais armadilhas temos que preliminarmente compreender o que são atalhos cognitivos. Por sua vez, para chegarmos ao significado de atalhos cognitivos é imprescindível relembrarmos o conceito de cognição.

Cognição “é a forma como o cérebro percebe, aprende, recorda e pensa sobre toda informação captada através dos cinco sentidos” (Wikipedia). Os cinco sentidos são as únicas ligações que nosso universo cerebral tem com o mundo externo. Dessa forma é necessário lapidarmos nosso modelo cognitivo constantemente, com a finalidade de compreendermos a quantidade e qualidade dessas informações que chegam por esses canais, e questionar como são absorvidas por nosso cérebro.

Por que questionar tal absorção? Por uma simples razão; o modelo arcaico de funcionamento do cérebro prioriza a preservação da vida, colocando atenção primária no estado de sobrevivência. Funcionamento benéfico, porém ele parte de apenas um único requisito: economizar energia.

Se olharmos para a história de nossos antepassados (uma lente na savana africana), esse “requisito único” fazia total sentido e era suficiente para aquele contexto. Entretanto se o mundo externo fosse um “App de Smartphone”, podíamos dizer que tal mundo sofreu incontáveis atualizações. Em contrapartida o modelo básico de funcionamento do “App cerebral” ficou bem desatualizado, pois recebeu pouquíssimos upgrades.

Precisamos atualizá-lo com discernimento no que diz respeito aos novos requisitos do contexto contemporâneo. Continuar utilizando apenas o requisito de economia de energia, sem usar “novas funções”, fomenta nosso “App cerebral” quase sempre procurar caminhos curtos (atalhos cognitivos) na busca de interpretações e ações rápidas.

Para melhor ilustração e compreensão desses atalhos, farei uso de uma metáfora com o aplicativo Waze. Qual sua lógica de funcionamento? Ao habilitá-lo, uma das primeiras perguntas, após a definição do destino requerido, é consultar se você quer seguir pelo caminho mais curto ou pelo caminho mais rápido.

Se o Waze fosse nosso cérebro, teria a tendência de seguir pelo caminho curto que em tese demandará menor dispêndio de energia. Uma dedução deflagrada pelo requisito de economia de energia. Contudo na prática, talvez o mais rápido (apesar de mais longo), pode ser o mais econômico.

É sabido que o Waze possui diversas funções que podem ser habilitadas, viabilizando diversas alternativas de caminho com opções de inúmeros recursos, cujo propósito é otimizar ainda mais a jornada e chegada ao destino. Habilitar tais funções ou recursos é o que torna um aplicativo “mais inteligente”.

Porém se usarmos apenas as funções básicas ou elementares, e partindo da hipótese de você sempre escolherá o caminho mais curto, para todas as trajetórias que pretende fazer ao longo de um ano; qual a probabilidade de que você tenha gasto mais tempo e energia neste período?

Se usarmos todo potencial do aplicativo, é possível “escapar de algumas armadilhas”, aplicando ajustes à navegação, evitando pedágios, localizando vias expressas, habilitando sistema de alerta de engarrafamento, localizando radares, pontos com acidentes, evitando passar por locais perigosos ou ruas não pavimentadas. O aplicativo oferece inclusive informações de outros usuários que já passaram pelo trajeto. Ou seja, um complemento da metáfora, considerando que a qualidade e quantidade de informações também são oriundas de experiências de outras pessoas procedentes do mundo externo.

Quando não habilitamos tais funcionalidades estamos “jogando fora” a possibilidade de melhor desempenho (recurso, tempo, energia) na jornada para alcançar o destino desejado.

O exemplo do aplicativo Waze serve para ilustrar que não devemos nos condicionar a escolher sempre o mesmo “trajeto cognitivo”. O ideal é habilitar as inúmeras opções de navegação que possuímos dentro de nosso cérebro.

Em trajetos mais curtos ou “decisões atropeladas”, que teoricamente são as mais “ágeis”, podemos ter “contratempos” como efeito de decisões paliativas, tendo assim que enfrentar situações complicadas por ter escolhido o atalho supostamente mais oportuno. O conveniente é que a cada “trajeto similar” deveríamos reinterpretar as informações tempestivas, como exercício contínuo de julgamento e discernimento.

Portanto se você está acostumado a usar repetidamente o mesmo modelo decisório, terá provavelmente resultados apenas aceitáveis ou de baixa qualidade. Precisamos aprender a usar nosso cérebro de forma diferente da rotina existente. O ideal é usarmos nosso cérebro bem além das poucas alternativas automáticas oferecidas pelo modelo primitivo, que “o faz escolher” o que é supostamente mais fácil para ele. É primordial explorarmos outras possibilidades que nosso cérebro oferece, pois assim como no aplicativo, ele possui muitas funções que podem ser habilitadas e usadas a nosso favor no processo decisório, sejam em diagnósticos (fatos presentes) ou prognósticos (incertezas futuras).

“...o ser humano parece ser mestre em repetir o mesmo erro. Mas a gente não precisa disso. E como é que a gente dá o primeiro passo? A gente precisa dar a primeira modificação do comportamento, e depois da primeira, a gente precisa lembrar de repetir, repetir e repetir. Essa é a única forma da gente mudar esse comportamento. E aprender repetindo, repetindo e repetindo, até que esse novo comportamento fique cristalizado e mais fácil...” Claudia Feitosa Santana (mestre e doutora em neurociências)

Tadeu Yoshida - Consultor e Especialista em Gestão Empresarial

O meu objetivo é promover a redução de custos, melhorar a qualidade e produtividade, através da transformação organizacional, pela busca da Excelência Empresarial, Inovação, Inteligencia Artificial e Melhoria Contínua.

4 a

Excelente reflexão!!!

Ricardo Abelheira

Design Consultant at Embraer

4 a

Isto aí, Wantuir! Muito bom. Einstein dizia que " loucura é fazer as coisas do mesmo jeito e esperar resultados diferentes...". Mas parece que sempre caímos em tal armadilha cognitiva. Boas dicas e insights!

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