Web Summit Rio 2023: diversidade, inteligência e negócios.
Demorei para escrever sobre minha experiência e não acho que a reflexão sobre ela vai terminar tão cedo. Provavelmente você já viu um milhão de artigos e postagens sobre o Web Summit Rio 2023 e nem terminou de ler metade delas. Era mais do mesmo? Espero que aqui você reflita sobre um recorte para além do trivial.
Fui ao Summit com objetivos definidos, quase como um objeto de estudo: queria conhecer mais da tecnologia, estar por dentro dos assuntos, ser parte da comunidade feminina em tech, principalmente entender como as pessoas percebem o que está acontecendo.
Minha participação se deu através da The Women Chapter, grupo de afinidade da ília , empresa que me acolheu e efetivamente me deu espaço, oportunidade e confiança para crescer. A última vez que publiquei aqui eu era Analista Júnior, hoje, sou Gerente de Projetos em People.
A Revolução da Inteligência
Indiscutivelmente a maior pauta do evento foi a Inteligência Artificial e (quase) tudo que se relacionasse com ela. Em todos os lugares havia alguém discutindo sobre o assunto e a tão temido questionamento sobre se vamos perder nossos empregos para inteligência artificial pairava no ar. As IAs tem uma capacidade inumana de aprender sobre diversas coisas, mas será que entendem também de gente?
Atividades padrão e corriqueiras certamente perderão postos de trabalho, foi assim que aconteceu lá atrás também quando a revolução das máquinas entrou na história, mas a revolução da inteligência será ainda mais transformadora porque ela acessa lugares de privilégio. Ao contrário das máquinas, que tantas vezes tocaram apenas o chão da fábrica, a IA vai tocar o topo, principalmente aqueles que ainda se recusam a perceber que inovação não se faz de um ponto de vista único.
É exatamente em um evento que tem inovação como centro, empreendedorismo, economia de criadores, estratégia, criatividade, dados, dinheiro, que ainda me assusta ver o quão se fala sobre diversidade de uma maneira tão bonita no discurso e frustrante na prática. Na sexta-feira anterior ao início, em uma reunião da chapter onde falávamos sobre nossas expectativas, lembro de questionarmos sobre a real representatividade de espaços teoricamente aclamados por serem diversos.
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Nesse caso discutíamos especificamente sobre o espaço do dedicado à iniciativa do Women in Tech. Enquanto um evento para “fazer negócios” quantos “negócios” efetivamente saem de um espaço físico que não representa nem 10% do total? Foram quase 100 países participantes num evento sediado na América Latina. Quem eram as pessoas desses países? Quem eram essas mulheres? Qual a cor e de onde eles vinham? Foi preciso pensar ativamente em acessibilidade para incluir alguém? Quais brasileiros estavam lá? Quais as métricas de sucesso? As do “negócio” refletem a sociedade?
Preciso ressaltar aqui que no primeiro dia me surpreendi positivamente com a quantidade de soluções discutidas que tinham foco em micro e pequenos empreendedores. Durante os outros dias, porém, me peguei diversas vezes pensando se não estávamos falando “mais do mesmo”, tangenciando o raso. Tive, em variados momentos, a sensação de que estávamos perdidos, fazendo as mesmas perguntas, correndo atrás do rabo. E embora saiba que as perguntas movem o mundo, tenho certeza que não vamos quebrar ciclo algum ficando apenas na superfície dos problemas.
E para onde vamos?
Mais uma vez voltamos aos espaços diversos, onde realmente se encontram as pessoas que não tem outra opção fora colocar o dedo na ferida. Quanto ao Summit, ainda há perguntas difíceis de entender:
Aqui não cheguei a mencionar Equidade ou Inclusão, até porque, embora devessem caminhar juntas, ainda são fases diferentes de um processo grande, que, definitivamente, não é filantrópico. Tratar DE&I a parte da estratégia do negócio é negar o poder de retorno de investimento que elas tem sobre os resultados. Não é a mais, não é favor e nem olhar social. É dinheiro, lucro, produtividade e aumento do potencial de solução. Você confia numa inteligência que não considera a intersecção de diferentes fatores?
Vamos continuar com esses temas permeando profundamente apenas as rodas de conversa daqueles que precisam colocar o dedo na ferida?
Para os meus isso é mais do mesmo, para muitas inteligências humanas, que precisam entender de gente, ainda é papo chato. Eu espero que, principalmente para esses, a revolução da inteligência não demore a chegar onde deve.
Desenvolvedora Front-End @ Zenklub | Front-End Developer
1 aElis, muito boa e necessária a sua reflexão! Espero que cada vez mais o mercado de tecnologia (e os eventos da área tbmmm) se dê conta que ter o envolvimento de pessoas de origens e experiências diversas não é moda, "lacração", favor ou caridade, mas um movimento que agrega valor, gera resultados e inovação. Não dá mais pra discutir tecnologia de maneira separada do elemento humano, impactos sociais e questões éticas.
Sua participação foi surpreendente, Elis Ponce. Sempre em busca de dados e processos de melhoria para trazer mais diversidade e inclusão para a empresa, preparada para a próxima?
COO at aca.so | Pós-júnior
1 aÓtima reflexão querida. Me fez pensar muito aqui, bora conversar mais, super me me interessei em alguns tópicos.
Especialista em Carreira | Expert em Gestão de Pessoas e Liderança | Palestrante | Facilitadora de Treinamentos | Empresária
1 aExcelente reflexão, Elis! Realmente, o seu texto não foi mais do mesmo. Trouxe muita humanidade, muitos esclarecimentos e muitos pontos de interrogação ao mesmo tempo 😅 Continue compartilhando, é um prazer acompanhar!
Advogada | Gestora Jurídica
1 aPassei 40 minutos para ler o texto porque li 10 vezes e todas as vezes que li você conseguiu mostrar um ângulo diferente. Incrível sua leitura de mundo e a maneira como você consegue colocá-la no texto. Parabéns!!!