Camila Antunes - Filhos no currículo

Por Camila Antunes

Autora da coluna Filhos no currículo

 


Este ano, que começou cheio de surpresas, agora se encerra de uma maneira que eu jamais imaginaria. A imprevisibilidade da vida é um dos aprendizados mais valiosos que tive em 2023. Em maio, descobri que estava grávida pela terceira vez, aos 40 anos. Uma gestação diferente das anteriores, mas muito mais leve, me trazendo a oportunidade de viver o momento presente sem muitas cobranças. O Tom já me ensina que eu ainda não tenho certezas e respostas de como tudo será — porque nunca teremos — e só vou aceitar mais uma vez o convite de viver essa transformação.

Ilustração de mulher grávida — Foto: Freepik
Ilustração de mulher grávida — Foto: Freepik

Existe uma analogia que gosto muito – de que uma família é como um móbile. A cada nova peça, as estruturas balançam até encontrar o novo ponto de equilíbrio. E um bebê é uma nova peça nessa estrutura que já estava em equilíbrio. Vamos balançar novamente. O movimento vem. Para mim, para o pai, para os irmãos. Tudo mexe até se acalmar.

Aos oito meses de gestação, percebo o privilégio de ter tido uma experiência tão positiva, o que atribuo, em grande parte, à minha empresa, que ajudei a fundar há 5 anos justamente para cuidar da parentalidade e bem-estar dos colaboradores. Aqui na Filhos no Currículo estamos preparadas para isso, e essa jornada me fez me sentir cuidada, fortalecida e amparada. Agendei reunião com a minha liderança e com o time individualmente, falamos muito sobre a transição das minhas tarefas, planos de substituição, soluções criativas e inovadoras. Tudo isso envolve uma boa preparação de licença.

No meu caso, não só trabalho na empresa como sou também sócia e fundadora. No chapéu de empresária, as preocupações ficam diferentes. É a primeira vez que vou viver uma licença-maternidade nesta condição. E, sendo sincera, não é simplesmente desligar as máquinas e deixar a minha cadeira. Eu nem quero fazer isso. Quero saber o que está acontecendo, participar ativamente, criar e me preparar para que eu possa sair e, caso queira aparecer, que seja uma escolha. Isso é um imenso privilégio que reconheço.

Por outro lado, enquanto estou com todas essas abas abertas na minha cabeça, pensando como vou fechar o ano, como vou sair de licença, eu me deparo com o fato de que esse é um tema que não ocupa tanto a cabeça dos homens.

Pouca gente sabe, mas a licença-paternidade prevista na nossa Constituição é transitória. Ou seja, desde 1988 a sociedade brasileira espera pela regulamentação da licença-paternidade no país, que atualmente concede apenas 5 dias de afastamento, enquanto as mães têm garantidos por lei um período de 120 dias.

Isso quer dizer que esse homem, quando vira pai, fica afastado do trabalho menos tempo do que quando há a emenda do feriado do carnaval. Pois é! Cinco dias é pouco e sai caro para todos: para as crianças que não podem construir vínculo com seus pais, para as mulheres que seguem assumindo todos os dilemas e desafios da criação da criança, para os homens que não podem viver os bônus da paternidade protagonista, para as empresas que deixam de ter colaboradores mais engajados e potentes… sem contar no valor para a marca empregadora e a sociedade que paga caro por isso.

Dados não faltam para mensurar os benefícios da presença do pai na criação dos filhos. De acordo com uma pesquisa do Instituto Promundo, incorporada ao estudo “Helping Dads Care”, no Brasil, menos de um terço dos pais entrevistados tiveram os 5 dias de afastamento recomendado. Além disso, a pesquisa aponta que, entre os entrevistados, em todos os grupos de renda, grupos etários e em todas as regiões do país, os pais que tiram licenças mais longas (20 dias ou mais) tiveram melhor saúde mental, melhor satisfação com a sua vida e com seu trabalho.

Neste mês isso começou a dar indícios de mudança. O Supremo Tribunal Federal (STF) reconheceu oficialmente a omissão do Congresso em regulamentar a licença-paternidade e fixou prazo de 18 meses para que o Congresso Nacional edite a lei nesse sentido.

A Coalizão Licença-Paternidade, da qual faço parte, é formada por um grupo de pessoas, empresas, coletivos e instituições que trabalham de forma voluntária, por meio da atuação em relações governamentais e fomento da opinião pública, pela regulamentação da licença-paternidade.

No último dia 5, lançamos nas redes sociais o Movimento “5 dias é pouco” em defesa da licença-paternidade estendida, obrigatória e remunerada no Brasil, e de mais protagonismo paterno na vida dos filhos. Além de Lázaro Ramos, Piangers e outros embaixadores incríveis, eu também sou orgulhosamente uma das embaixadoras desse movimento (assim como outras mulheres), e isso porque essa não é uma dor só do homem, é também da mulher.

Estamos cansadas dessa sobrecarga histórica colocada no ombro feminino. Um atraso de 35 anos nesse tema não pode ser naturalizado. Aqui seguiremos acreditando e lutando para que possamos equilibrar os direitos após o nascimento de nossos filhos, possibilitando também a maior e merecida participação da mulher no mercado de trabalho. Falar de Economia do Cuidado só no Enem não vai virar o jogo. Precisamos ficar em cima e acompanhar essa pauta até conquistarmos o avanço que merecemos.

Camila Antunes é mãe da Isabel e do João e uma das fundadoras da consultoria Filhos no Currículo, auxiliando empresas a se tornarem ambientes de trabalho pró-família a partir de capacitações, trilhas de conteúdos e projetos de consultoria para pais, mães e lideranças. Já ministrou mais de 300 palestras sobre temáticas associadas aos temas de parentalidade e carreira — Foto: Patrícia Canola
Camila Antunes é mãe da Isabel e do João e uma das fundadoras da consultoria Filhos no Currículo, auxiliando empresas a se tornarem ambientes de trabalho pró-família a partir de capacitações, trilhas de conteúdos e projetos de consultoria para pais, mães e lideranças. Já ministrou mais de 300 palestras sobre temáticas associadas aos temas de parentalidade e carreira — Foto: Patrícia Canola

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