Como eu perdi 14kg e o que isso tem a ver com inovação

Se você veio aqui somente para saber como eu perdi 14kg, pode rolar até o final deste artigo e ler o item "A rotina". A última frase é a mais importante para você.

Se você quer saber o que isso tem a ver com inovação, fica aqui comigo.

Eu sou de humanas. Minha formação profissional vem da música e do marketing, da época em que o marketing não conseguia (ou não queria) medir (quase) nada. E eu corroborava com essa posição. Achava que metas engessavam processos de construção e criação.

Quando comecei a trabalhar com inovação, lá em 2014, metas, métricas e KPIs me foram impostos e não tive como fugir. Para minha sorte. A partir do momento em que comecei a ter objetivos, setar metas e mensurá-las para saber se haviam sido alcançadas, muita coisa mudou na minha vida.

Do faturamento à perda de peso, à quantidade de livros que leio por ano.

Acontece que durante a jornada do emagrecer, identifiquei muitos paralelos com uma jornada de inovação. E vi nisso uma ótima oportunidade para usá-la como exemplo, para explicar e refletir sobre inovar, que dividi em 12 pontos.

1- Todo processo de inovação começa com um problema

O que eu tinha no começo era um incômodo. Tinha acabado de ter meu segundo filho, estava muito acima do meu peso histórico e não me sentia bem comigo. Queria me sentir bonita novamente, queria que minhas roupas coubessem.

Me olhava no espelho e não me reconhecia. E só fui ter consciência disso depois de perder uns 10kg, em um dia que acordei, me olhei no espelho e falei "caraca, olha eu aí. Eu sempre fui assim. Essa sou eu".

Mudando a lente para um business, vemos que a dor genuína faz com que surjam oportunidades no mercado.

A minha dor abriu oportunidades de venda para apps de regime e exercício, academias, frutarias, sites e perfis de Instagram com receita saudável e práticas. E eu consumi quase tudo isso, que antes de existir a dor não consumia ou consumia pouco.

2- Não entre nessa jornada sem ciência

Emagrecer é algo muito vago. Emagrecer quanto? Em quanto tempo? Como? Essas perguntas precisam ser respondidas. Mas nem sempre é possível responder todas elas no início.

Para entrar nessa jornada, sugiro fortemente que, assim como em processos de inovação, utilize um método ou framework para mapear suas incertezas, hipóteses, riscos e saber onde quer chegar, de forma mensurável.

Eu usei o Funil da Jornada, framework que desenvolvi ao longo dos anos, depois de mudar de carreira 4 vezes em 6 anos, que é o mesmo framework que uso para definir minhas metas profissionais. Resumindo, o FJ guia minha vida.

Ele me dá um objetivo de longo prazo e o que tenho que fazer todo santo dia para alcançar esse objetivo, de uma forma que me mantém sempre motivada.

Dito isso, vamos para o seguinte ponto, que vai completar esse raciocínio.

Se quiser conhecer o FJ, baixa o ebook, que é gratuito.

3- Você vai chegar onde mirar

Quando decidi sair dos 64kg para os 50kg, estava incomodada, assim como processos de inovação, que começam com um problema, uma vontade de fazer (neste caso, ser) melhor.

E na busca por perder peso, aonde você vai chegar depende de onde você mira.

Quando defini os 50kg, escutei de algumas pessoas que "55kg está bom", "50kg é demais, você vai sumir" ou "agora que perdeu 10kg já chega, né?".

Depende. Eu poderia ter parado nos 54kg. Seriam 10kg a menos e já estava muito melhor. Mas não estava extraordinário. E eu sabia que poderia chegar no extraordinário.

Aqui vai uma importante lição: defina metas ambiciosas (moonshot) para alcançar o extraordinário. Não pare no bom. Não é justo com você.

Se quiser saber mais sobre moonshot, pesquise sobre OKRs.

4- Nem tudo é concreto o tempo todo

Processos de inovação podem (e às vezes precisam) ter uma elasticidade e possibilidade de serem ajustados. O que se mede no começo é diferente do que se mede no meio e no fim. Porque as hipóteses vão sendo validadas ao longo da jornada e outras incertezas surgem. Algumas delas, nem estavam mapeadas. E outras, que eram quase concretas, deixam de fazer sentido.

Da mesma forma, meu objetivo nesse processo evoluiu algumas vezes e o caminho foi ficando concreto conforme fui evoluindo. No início, a única certeza que tinha era o incômodo com meu peso, mas não tinha ideia do que faria para emagrecer, nem quanto ou em quanto tempo.

Para descobrir, eu precisava começar. O famoso "vai lá e faz". E fui evoluindo assim:

1º objetivo: quero criar o hábito de fazer exercícios físicos.

Tarefa diária: ir à academia de segunda a sexta por, pelo menos, 30 minutos.

Quando criei o hábito de fazer exercícios, meu objetivo evoluiu:

2º objetivo: perder peso (quantidade a definir)

Não sabia ainda exatamente quanto, minha busca estava mais focada em encontrar uma forma de fazer isso.

Tarefa diária: ir à academia de segunda a sexta por, pelo menos, 30 minutos, e manter minha zona cardíaca em nível 3 (Garmin) por metade a 1/3 do tempo.

Primeiro problema identificado: mesmo executando religiosamente minha tarefa diária eu não estava perdendo peso. Continuava com 64kg. E não estava disposta a intensificar o treinamento. Ficou claro que precisava fazer algo diferente. O caminho lógico seria mudar minha alimentação, que eu não queria de jeito nenhum. Mas foi aí que encontrei a solução.

Conheci por acaso, vendo um perfil de UX no Instagram, um app chamado Foodvisor , que me ensinou a comer mais saudável e mudou completamente o jogo. Recomendo fortemente a todas as pessoas que queiram fazer reeducação alimentar.

Nesse momento, eu já estava mais consciente do meu corpo e dos meus limites e senti que poderia me desafiar fazendo uma importante atualização no meu objetivo.

3º objetivo: chegar aos 50kg.

Tarefas diárias: por em prática reeducação alimentar, me pesar todos os dias, beber 1.5L de água por dia, caminhar de 20 a 40min de segunda a sexta.

Agora sim eu tinha uma meta clara, específica e mensurável, como metas devem ser. E tarefas claras sobre como chegar lá.

Não setei um prazo para chegar aos 50kg porque ainda não sabia qual seria minha velocidade em perder cada kg. E aqui fica uma lição: quando você não tem parâmetros, apenas execute e acompanhe. Somente quando tiver dados, sete metas quantitativas. Já vi projetos de inovação morrerem por isso: seu sucesso era medido baseado em metas sem concretude.

5- Rápido ou devagar?

Por me pesar todos os dias, vi que estava demorando de 10 a 15 dias para perder 1kg. Isso é rápido ou devagar? Não importa. E não importa também o tempo médio das outras pessoas. Meu objetivo não era perder peso rápido ou mais rápido que a média dos outros, seja lá o que rápido signifique. Mas perder peso no meu ritmo, de uma forma que não me fizesse perder a motivação. Me manter motivada era a peça-chave para eu não desistir.

Então, tendo eu como referência perder 2kg por mês, estimei atingir minha meta no início novembro, já que iniciei essa jornada em 01 de maio.

Atingi os 49.7kg em 26 de outubro.

6- Encontrar um objetivo não significa que executar será fácil

Agora que eu tinha um objetivo final definido, minha única responsabilidade era, todo santo dia, executar minhas tarefas diárias. E foi o que fiz. Até chegar os 50kg.

Se essa jornada fosse fácil, esse artigo poderia acabar aqui. Mas é preciso rever hábitos, mindset, gula e gatilhos envolvidos para que essa nova rotina seja possível. Bem parecido com o mundo corporativo, não é? Esses eram meus obstáculos e tive de encontrar formas de contorná-los, criando novos hábitos, fazendo novas receitas e por aí vai.

7- Posso abandonar tarefas e metas?

Eu não gosto de malhar. Mas gosto de caminhar. Mesmo depois de ter criado o hábito de ir à academia, o que realmente estava me fazendo alcançar meu objetivo era a reeducação alimentar. Por isso, parei de ir à academia e passei a caminhar de 20 a 40 minutos por dia.

Aqui a lição é a seguinte: você deve abandonar as tarefas e as metas que não estão te ajudando a alcançar seu objetivo e focar somente naquilo que está dando resultado.

8- Comece pequeno e evolua

Já pensou se eu começasse mudando minha alimentação, me obrigando a beber 1.5L de água por dia, fazendo exercícios todos os dias, me pesando, tudo isso de uma vez? Com certeza iria desistir nos primeiros três dias. São muitas mudanças radicais e muita coisa para absorver de uma vez.

Eu comecei com um piloto, criando um hábito, depois outro e assim por diante. Da mesma forma como parte dos processos de inovação devem acontecer em empresas.

No começo, minha principal hipótese era que os exercícios iam me fazer perder peso. Eu não queria mexer na minha alimentação. No final, o que aconteceu é que eu continuei sem ter gosto por exercícios e amei a reeducação alimentar. Foi uma das melhores coisas que aconteceram na minha vida.

Ou seja, nós só saberemos testando. Por isso o piloto é importante, é um ambiente em que você pode testar e errar. Só assim irá validar suas hipóteses, mesmo que esteja completamente errado, como eu estava. E estar certo ou errado não é importante. O importante é fazer, coletar a analisar dados, mudar rotas e saber por onde ir e não ir.

9- Fique atento aos benefícios não mapeados

Muitas coisas melhoraram no meu corpo com a reeducação alimentar. Apesar de serem ganhos esperados, eu estava tão focada em executar meu plano que não estava olhando para isso.

Foram eles: melhor qualidade de sono, disposição, humor, criatividade, produtividade, qualidade da minha pele e cabelo. São consequências e bônus muito impressionantes. Entendi na prática o ditado "você é o que você come".

Tudo isso me motivou ainda mais a continuar e te garanto que o mesmo irá acontecer nos processos de inovação que você rodar.

Alguns que já presenciei: 1) uma série de executivos se tornaram investidores anjo depois de participarem de programas de inovação; 2) áreas passaram a se comunicar melhor e trabalhar de forma mais integrada depois da implementação de determinado software de startup; 3) área implementou conceitos de agile para rodar seus projetos depois de ter contato com startups.

10- Se algo não está dando certo, não desista. Tente de uma forma diferente.

Eu bebia uns 500ml de água por dia. Muito pouco. O Foodvisor me deu o desafio de beber 1.5L por dia e eu não estava conseguindo, apesar de ter marcado os mls na minha garrafa de 1L. Ou seja, eu tinha ferramentas e conhecimento para isso, estava realmente tentando, mas estava pecando na execução.

Então percebi que o compromisso de beber 1.5L de água por dia era grande para mim. Percebi que precisava mudar a lógica do jogo e comecei a contar quanto de água bebo por hora. Por hora, preciso beber uns 150 a 200ml. Isso eu consigo fazer!

Hoje, bebo 2L de água facilmente, às vezes até mais.

A lição aqui é: pode ser que você esteja fazendo algo que é certo, mas de uma forma que não está te ajudando. Tente fazer diferente. Como saber quando isso acontece? Use os dados que tiver e interprete-os com bom senso e intuição. Nessas horas, intuição e criatividade salvam.

11- "Para de se pesar todo dia!"

Uma amiga me disse isso porque estava com medo que eu desanimasse. Uma preocupação válida. Meu marido teve a mesma preocupação quando comecei.

Às vezes você faz tudo certo e o peso na balança sobe no dia seguinte. O Foodvisor te prepara psicologicamente para isso. Mas ele quer que você se pese todo dia para que seja possível enxergar uma real evolução no longo prazo e, caso não esteja evoluindo, tenha dados suficientes para uma mudança de rota.

O mesmo pode acontecer ao inovar. A depender do seu projeto, você vai precisar lidar com variações e volatilidade, e isso não pode te abalar. Você vai fazer tudo o que parece ser certo e nem sempre irá obter os resultados esperados. Mesmo assim, você não pode parar de executar, medir e investigar.

Isso não significa retrocesso, significa que você está mapeando um cenário e coletando dados sobre ele para fazer algo extraordinário com essas informações e poder tomar as decisões certas.

12- Nada de ruim acontece comigo

O gráfico ao lado mostra minha evolução de perda de peso. Quando cheguei nos 61kg meu peso ficou um mês e meio estagnado (por culpa minha, é claro). E por várias vezes pensei em desistir. Estava muito difícil abrir mão de alguns hábitos. Me identifiquei com o segundo "D" dos 6D's do Peter Diamandis: deceptive.

Mas aconteceu uma coisa ruim que foi muito boa: peguei Covid e uma bactéria, passei 3 dias no hospital e perdi 2.5kg em 1 semana. Fiquei muito mal. E acabei tendo que mudar minha alimentação do dia para a noite sem ter escolha. E não foi tão ruim assim.

Por isso digo que nada de ruim acontece comigo. Tomei essa situação como oportunidade para recomeçar. Era exatamente o que eu precisava.

Esse nível de adversidade acontece muito em jornadas empreendedoras e intraempreendedoras. E são presentes, que te farão mais forte e com mais quilometragem.

Nessas horas, não devemos desistir, devemos agradecer, aprender e seguir.

Inovar, assim como emagrecer, é possível. Desde que tenhamos o mindset e as ferramentas corretas em mãos. Espero que minha jornada tenha te inspirado a inovar (e, quem sabe, emagrecer) e que o exemplo do emagrecer tenha te aproximado ainda mais desse processo tão incrível e transformador, que é inovar.

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A rotina

Eu usei a versão paga do Foodvisor por uns 3 a 4 meses e me valeu cada centavo. Ou 14kg a menos. Fiz todas as aulas, registrava tudo o que comia, fazia (quase) tudo o que eles orientavam e peguei várias dicas legais com a nutricionista. Sim, eles têm uma nutricionista no app.

Com esses aprendizados, minha rotina ficou assim:

• Acordar, ir ao banheiro, tirar a roupa e me pesar. Registrar meu peso no Foodvisor.
• Café da manhã: todos os dias de manhã comia pão 7 grãos com queijo cottage e mel. Às vezes trocava por tapioca com queijo cottage e peito de peru. Meu café da manhã antigo era misto com nescau.
• Lanche da manhã: nem sempre fazia. Mas, quando fazia, comia uma fruta, só para não chegar no almoço morrendo de fome. Antes, não costumava fazer lanches de manhã, mas por conta disso arrebentava no almoço.
• Almoço: eu sempre comi muito bem, nós aqui cozinhamos todos os dias. O que fiz de diferente foi diminuir a quantidade de comida, eliminar 100% o suco da fruta (apesar de super saudável e gostoso, tem açúcar e não ia me ajudar a alcançar meu objetivo), incluir salada no cardápio diário (ou quase) e experimentar coisas novas e mais leves. Os ingredientes que mais entraram na rotina e antes não existiam foram salmão e abacate. Também aumentei muito a quantidade de legumes. Mas não deixei de comer nada: bolonhesa, lasanha, picadinho, feijão etc. Até aprendemos a fazer um burrito sensacional, da massa ao recheio.
• Sobremesa: jamais deixaria de comer chocolate. Mas nem todos os dias tenho vontade. E às vezes a vontade vem à tarde, então, nesses dias, eu lancho algum docinho. E nos dias normais eu como sobremesa normalmente depois do almoço. Mas, no lugar de comer um colherão de doce de leite, agora pego uma colher de sobremesa normal, sem ser super cheia.
• Lanche: por incrível que pareça, para mim não é algo tão necessário. Mas varia de coisas saudáveis, como uma fruta, até uma pequena quantidade de chocolate, como 2 ou 3 Bis. Depende do dia.
• Jantar: alguns dias acabo não jantando porque não aguento e durmo junto com as crianças. Nos outros dias, janto guacamole, omelete, variadas receitas de torradas com abacate, tomate, queijo e outras combinações, comida japonesa (hoje dou prioridade às peças sem arroz) etc.
• Água: 2L de água por dia. Impossível emagrecer sem beber muita água.
• Praticamente cortei refrigerante e comidas delivery. Antes, consumia de 1 a 3x por semana.

Importante levar em consideração: tem dias que sentimos mais fome, outros menos. Respeite seu corpo.

Importante dizer: nenhum segundo passei fome, nenhuma vez me obriguei a comer algo que não gosto porque dizem que é saudável.