À frente do seu tempo
Eric Hobsbawm (1917 – 2012), historiador marxista britânico de renome internacional, declarou em 2011 por ocasião do lançamento de seu último livro que
“Não podemos confrontar os problemas do século XXI com soluções e sistemas oriundos do século XX.”
Apesar de essa afirmação fazer alusão a matérias político-sociais e a sistemas econômicos, sou pessoalmente da opinião de que questões da mesma ordem provenientes das ciências do conhecimento, aplicadas também ao desenvolvimento de software, à criação e distribuição do saber e da arte, bem como às próprias atividades sociais, figuram como principais precursoras dos avanços de todo tipo que deverão ocorrer nos anos que virão. O que caracteriza todas essas soluções são os esforços colaborativos que embasam o seu desenvolvimento – algo que o método científico vem exercitando há mais de meio milênio, conforme publiquei anteriormente alhures.
Assim, a pesquisa científica, o conceito de Software Livre e de Open Source Software, diversas iniciativas de Crowdsourcing (Wikipédia, OpenStreetMap etc.) e Crowdfunding (financiamento coletivo), a instituição de padrões abertos, a criação de empresas sociais e de cooperativas, além das próprias redes sociais etc., são alternativas colaborativas para um sem-número de atividades através das quais o Homem já apreendeu que, quando se pensa simultaneamente no bem pessoal e no bem comum, as soluções produzidas são evolutivamente imbatíveis.
Compareci várias vezes em eventos de lançamento de novos smartphones, sempre apresentados ao mercado com pompa e circunstância. Durante essas apresentações de produtos, invariavelmente nunca consegui me furtar de imaginar que toda a tecnologia que equipava a “maquininha da vez” advinha de décadas de esforços colaborativos hercúleos, na grande maioria das vezes voluntários, o mesmo acontecendo do lado da infraestrutura responsável pelo fornecimento dos dados necessários ao funcionamento satisfatório de seus aplicativos. Enquanto produto de massa, pouco importa para o consumidor final o arcabouço tecnológico que faz essa solução primordial de computação pervasiva funcionar, mas o fato é que, sem os avanços oriundos do desenvolvimento colaborativo, é muitíssimo provável que a criação desse tipo de dispositivo demandasse muito mais tempo para acontecer.
O mesmo vale para praticamente todas as iniciativas de tecnologia de consumo existentes no mercado atual: elas assentam sobre atividades colaborativas, que têm o poder de democratizar o acesso à informação e de efetivar a inclusão digital nas sociedades. Essas iniciativas barateiam processos de produção, transformam a informação em bem coletivo, pavimentam o caminho para o DIY – Do It Yourself (do inglês, “Faça você mesmo”), o que resulta em uma civilização mais empreendedora, produzindo cultura e conhecimento, e realimentando um círculo virtuoso capaz de reduzir desigualdades e de criar oportunidades a todos. Isso é o futuro, hoje, à frente do seu tempo, e os sistemas políticos e econômicos deverão, pouco a pouco, assimilar esses princípios, de modo a permitir que o Homem se ocupe tão somente da sua evolução intelectual e moral, razão precípua para a qual vivemos, no final das contas.
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9 aValei amigo bom texto, parabens
Co Founder 4Linux and Rankdone
9 aApesar de eu não concordar muito com todas as ideias do Eric Hobsbawm, o texto do Rafael é melhor do que o pensamento do próprio historiador ;-)