É possível medir felicidade nas organizações

É possível medir felicidade nas organizações

Sim, é mesmo possível. Porém, vamos combinar aqui algumas premissas, que aprofundarei nesse artigo:

1) felicidade não significa alegria o tempo todo (por isso prefiro a expressão "felicidade autêntica");

2) felicidade é, antes de tudo, decisão e responsabilidade de cada indivíduo, nunca terceirizadas para empresas, líderes ou demais pessoas ao redor;

3) promover felicidade por meio da cultura e da liderança não pressupõe roubar dos indivíduos sua parte de responsabilidade nisso;

4) culturas e lideranças que promovem felicidade de verdade não são "boazinhas", são inteligentes;

5) felicidade autêntica promove alta performance.

Vamos explorar todos esses pensamentos, começando pelo embasamento do que para mim e para nós, em nossa HR Tech, a Winx , significa felicidade de verdade.

A psicologia positiva e o conceito de felicidade autêntica

A psicologia positiva é um campo da psicologia que se concentra no estudo dos aspectos positivos da experiência humana, buscando entender e promover o bem-estar, a felicidade e o florescimento pessoal. Ela se diferencia das abordagens tradicionais da psicologia, que frequentemente se concentram na identificação e tratamento de distúrbios mentais, ao direcionar sua atenção para os fatores que contribuem para uma vida plena e significativa.

Felicidade autêntica é um conceito central na psicologia positiva. Ela se refere a uma forma genuína e duradoura de felicidade, que vai além da satisfação momentânea e se baseia em uma sensação de realização pessoal, propósito de vida e bem-estar geral. Está relacionada ao bem-estar subjetivo, que inclui emoções positivas, satisfação com a vida e um senso superior de significado.

Alguns dos principais conceitos e referências na psicologia positiva incluem:

1) Martin Seligman: é frequentemente considerado um dos fundadores da psicologia positiva. Ele propôs a teoria do PERMA, que descreve cinco elementos-chave para o bem-estar: Positive Emotion (emoção positiva), Engagement (envolvimento), Relationships (relacionamentos), Meaning (significado) e Accomplishment (realização). Seligman também enfatiza a importância de buscar uma "vida com significado" como um componente fundamental da felicidade autêntica.

2) Mihaly Csikszentmihalyi: é conhecido por seu trabalho sobre flow (o estado de fluxo), um estado de profunda concentração e satisfação que ocorre quando as habilidades de uma pessoa estão equilibradas com os desafios de uma atividade. Flow é caminho para a felicidade autêntica, pois envolve a completa absorção e imersão em uma tarefa significativa.

3) Ed Diener: é um renomado pesquisador do bem-estar subjetivo e da satisfação com a vida. Desenvolveu escalas de medição para avaliar o bem-estar subjetivo e contribuiu significativamente para a compreensão das dimensões da felicidade autêntica.

4) Barbara Fredrickson: é conhecida por sua "teoria do alargamento e construção", que sugere que emoções positivas têm o poder de expandir nosso pensamento e ação, contribuindo assim para a felicidade autêntica e o florescimento pessoal.

Esses são alguns dos teóricos que nos embasam aqui na Winx . Em resumo, a psicologia positiva tem como objetivo não apenas entender o que torna as pessoas felizes, mas também desenvolver intervenções e práticas que ajudem as pessoas a aumentar seu bem-estar e encontrar significado em suas vidas. Trata-se de uma abordagem holística para o estudo da mente humana, focando não apenas nos problemas e patologias, mas também nas forças e recursos que podem impulsionar uma vida feliz e significativa.

Os escândalos corporativos dos últimos anos no Brasil colocaram no banco dos réus um tipo de cultura organizacional antes tomado como referência sagrada e única para o sucesso. Muito comum, até então, vermos empresas em diferentes ramos imitando essas culturas tidas como exemplo irrefutável a seguir. Isso mudou. Estou convencido de que a psicologia positiva e o conceito de felicidade autêntica abrem espaço para moldarmos novos paradigmas culturais para nossas empresas.

Felicidade de verdade não significa estar alegre o tempo todo

Alegria é uma foto, felicidade é um filme. Tristeza é uma foto, infelicidade é um filme. Não podemos misturar esses estados de espírito, muito diferentes em seus significados.

Digo sempre que pessoas felizes às vezes parecem aborrecidas. No trabalho, elas se importam tanto que expressam certa chateação, que pode ser confundida com tristeza, ou desengajamento. Pelo contrário! Pessoas autenticamente felizes se importam como donos da empresa, sentem-se indignadas e não economizam a demonstração de seus pensamentos e sentimentos, nem sempre alegres.

Insurgência é uma característica destas pessoas: a postura questionadora diante do status quo, a disposição quase "heróica" de enfrentar o mundo quando ele resiste em avançar, em evoluir. Este estado insurgente se liga a outros 3 I's: impaciência, inquietude e inconformismo.

Pessoas autenticamente felizes sentem-se impacientes com a ideia de que tudo o que é bom ocorrerá no futuro, aquele lugar sempre longe das mãos e dos olhos. Ficam inquietas quando as pessoas aceitam apenas coisas melhores: por vezes, precisam ser também diferentes! Ficam profundamente inconformadas quando a tradição lhes é empurrada como regra fixa de como "as coisas funcionam por aqui".

Movidos por esses pensamentos e sentimentos, tornam-se agentes da transformação, "loucos" o bastante para acreditarem que as coisas podem mudar, são os que acabam por promover as mudanças mais urgentes e necessárias.

Embora a paisagem comportamental desses indivíduos não seja de sorriso o tempo todo, não há como negar seu comprometimento superior, de corpo e alma, que chamamos de engajamento. Daí a conexão entre felicidade autêntica e engajamento.

Pessoas felizes de verdade, em flow!

O livro "Flow: A Psicologia da Experiência Ótima", de Mihaly Csikszentmihalyi, define flow como um estado mental de imersão total e envolvimento em uma atividade, caracterizado pela completa absorção e satisfação intrínseca.

O conceito central do livro é este estado mental de fluxo, que ocorre quando uma pessoa está profundamente concentrada em uma tarefa desafiadora que está perfeitamente alinhada com suas habilidades. Nesse estado, o tempo parece passar rapidamente, a autocrítica desaparece e a pessoa se sente completamente imersa na atividade.

Csikszentmihalyi descreve alguns elementos que compõem o estado de fluxo, incluindo metas claras, feedback imediato, desafio equilibrado com habilidades, concentração intensa, perda da noção do eu (quando a pessoa sente que "desaparece" enquanto realiza aquela tarefa) e um senso de controle sobre a situação. A experiência de fluxo está intimamente ligada à autoestima e à satisfação na vida. Quando as pessoas vivenciam fluxo com frequência, tendem a se sentir mais realizadas e satisfeitas.

O autor da teoria do flow explora como encontrar significado na vida por meio de atividades que nos desafiam e nos permitem utilizar nossas habilidades na direção de uma vida plena. Também explora como o flow pode ser experimentado tanto no trabalho quanto no tempo de lazer, e como pode ser cultivado em diversas áreas da vida. Ele examina como se relaciona com a psicologia, a motivação e o desenvolvimento pessoal, destacando como sua busca pode ser uma maneira eficaz de melhorar a experiência de estarmos vivos.

Todo este modelo conceitual moldou como enxergo, de forma ideal, as culturas, o modo de liderar, o desenvolvimento humano e organizacional. Fontes das quais nossas duas empresas também bebem, a devello e a Winx .

O índice de felicidade: como medir nas organizações

Em 2023, por ocasião do aniversário do Capitalismo Consciente Brasil , Instituto do qual a Winx é parceira, vivemos uma experiência inédita: em um painel com 9 organizações, de diferentes portes e setores, medimos seus índices de felicidade, ou seja, a medição de quão promotoras de felicidade autêntica são suas culturas e lideranças. Como este índice foi estruturado? Em quatro fatores:

1) favorabilidade geral do engajamento: % dos colaboradores dessas empresas que responderam concordo totalmente e concordo parcialmente às questões sobre engajamento;

2) colaboradores totalmente engajados: % daqueles que estão satisfeitos em relação às questões transacionais (remuneração, benefícios, condições de trabalho, recursos e ferramentas para trabalhar), que se sentem desafiados e em crescimento pessoal e profissional, em um ambiente seguro e com alto senso de pertencimento;

3) as cinco chaves que destravam o engajamento (MAGIC): baseado na metodologia da DecisionWise , o MAGIC é a composição de 5 palavras - Meaning (Significado), Autonomy (Autonomia), Growth (Crescimento) e Connection (Conexão);

4) percentual de colaboradores em flow: conforme respostas que os colaboradores dão a 5 perguntas do questionário da Winx , classificam-se em 3 grupos - fora do flow | entrando em flow | em flow. As perguntas específicas para flow são as seguintes:

a. Estou tão absorvido, imerso, focado e concentrado que chego a perder a noção do tempo.

b. Sinto-me competente no que faço e os resultados do meu trabalho são visíveis e contributivos.

c. Sinto-me pessoalmente identificado com o que faço, pois sei que meu trabalho é relevante e significativo.

d. Sinto urgência em realizar meu trabalho, com um comprometimento intenso e entusiasmado.

e. Meu desafio atual é alto e nunca aprendi tanto.

Pessoas que estão em flow são aquelas que respondem concordo totalmente com essas cinco afirmações.

O que chamamos de índice de felicidade é a média desses 4 fatores, com igual peso entre eles.

Felicidade autêntica tem tudo a ver com engajamento

E engajamento tem tudo a ver com alta performance. Por quê?

Nas organizações em que o índice de felicidade é puxado para cima, pela média dos 4 fatores acima, haverá mais pessoas engajadas em razão da melhor experiência delas em relação a seus três contratos de trabalho:

1) contrato transacional: remuneração, benefícios, condições de trabalho, recursos e ferramentas para trabalhar;

2) contrato com marca e cultura: admiração que os colaboradores têm pelos atributos da marca, artefatos da cultura e pela relevância da proposta de valor da organização, por meio dos seus produtos e serviços;

3) contrato psicológico: sensação de que o trabalho é significativo, em um ambiente seguro em que os colaboradores podem agir como donos, desafiados, em aprendizagem contínua, com feedback constante, orgulhosos dos resultados contributivos que produzem e com alto senso de pertencer a algo maior do que eles mesmos.

Quando o employee experience é expressão coerente do que a organização prometeu oferecer em seus 3 contratos de trabalho, o efeito colateral será mais engajamento. Natural esperar que este nível superior de comprometimento impacte positivamente o desempenho e, por sua vez, os resultados.

Por um novo modelo de cultura organizacional

Temos hoje não apenas a oportunidade - mas a necessidade - de forjarmos um novo paradigma de cultura. Estou convencido de que todo este trabalho em torno da felicidade autêntica pode sinalizar bom atalho para isto.

ROGÉRIO CHÉR é consultor, escritor e conferencista, sócio-fundador da devello e da Winx .

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Eliz Casagrande

Mentora | Palestrante | Consteladora Familiar | Desenvolvimento de Líderes | Mentoria MULHER PRÓSPERA

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Tatiana Livramento

Palestrante - Professora - Mentora - Consultora Especialista em Resiliência Organizacional e Desenvolvimento Profissional

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Com o conceito da Resiliência Reversa, venho trabalhando a importância da antecipação às crises a partir dos pilares Finanças, Inovação, Comunicação e Agilidade. Refletindo sobre seu artigo, acho que preciso acrescentar a Felicidade em meus estudos. Obrigada por compartilhar tão importante tema!

Hugo Bethlem

Presidente do Conselho | Senior Advisor | Conselheiro | Palestrante | Mentor | Varejo | ESG | Startups | Capitalismo Consciente | Autor do Livro "A estratégia do varejo sob a ótica do Capitalismo Consciente"

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Rogério Chér obrigado pela parceria e ótimos resultados, que mostram que colaboradores felizes e não iludidos, trabalham melhor, são mais produtivos porque acreditam no propósito da empresa alinhado ao seu e consequentemente geram mais retorno a rosis Stakeholders incluindo a si mesmos. Aqui uma definição que gosto muito do Raj Sisodia “negócios são uma forma organizada, escalável, gratificante e autossustentável para os seres humanos se desenvolverem e servirem ao outros, sem causar danos no processo” isso é o que acreditamos no Capitalismo Consciente Brasil

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