#22# O que a Governança Clínica pode ensinar após quase 30 anos do seu surgimento?

#22# O que a Governança Clínica pode ensinar após quase 30 anos do seu surgimento?

O termo governança em saúde pode ser entendido como o conjunto de regras, normas, decisões e hábitos que mostram a forma como as organizações de saúde são geridas, tendo como principal objetivo trabalhar o desempenho dos sistemas e seus resultados. Esses dados deveriam, em tese, guiar governos, comunidades e grupos na busca da saúde como elemento essencial do bem-estar da população, trazendo maior equilíbrio entre os diferentes níveis de atenção e utilizando abordagens de promoção à saúde, prevenção e monitoramento de doenças.

Muito se fala sobre governança clínica nos eventos do setor, publicações científicas e mídias sociais, mas para que possamos efetivamente entender do que se trata e da relevância do modelo, precisamos voltar um pouco no tempo e entender o contexto do seu surgimento no Reino Unido há quase 30 anos.

O sistema nacional de saúde do Reino Unido ou National Health Service – NHS, pode ser equiparado ao Sistema Único de Saúde - SUS, salvaguardando suas devidas proporções, afinal de contas é menos complexo organizar a saúde em um país com 67 milhões de habitantes, renda per capita 4 vezes superior a nossa e um dos mais altos níveis educacionais do mundo, quando comparado ao nosso com 213 milhões de pessoas, das quais, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE, 52 milhões são pobres e 13 milhões vivem abaixo da linha da pobreza, associado ao fato de vivermos em um país com dimensões continentais, que apresenta desigualdades colossais e diferentes realidades e costumes nas diferentes regiões.

Desde o surgimento do NHS em 1948, a qualidade era vista como intrínseca ao sistema, sustentada pelas habilidades dos profissionais que nela trabalhavam. Para se ter uma ideia, até 1990, restringir custos era considerado o principal fator de qualidade, uma meta totalmente apartada da melhoria da eficiência. Foi nesse mesmo período que uma série de eventos clínicos começaram a ser reportados ao sistema, juntamente com a crescente concordância de que o NHS necessitava fazer melhor uso dos recursos disponíveis e conduzir um reexame da qualidade, que nasceu em 1997 a governança clínica, uma estratégia com o objetivo de melhorar continuamente a qualidade dos serviços de saúde, garantindo um alto padrão de atendimento, colocando o paciente no centro do cuidado e criando um ambiente de excelência clínica, através de uma gestão transparente, dinâmica e eficiente, caracterizada pelo:

  1. Compromisso da alta administração: o envolvimento e acesso da alta administração é fator chave para o debate de problemas ou obstáculos encontrados; 
  2. Inclusão: assegurar o mapeamento, envolvimento e atualização de todos os grupos relevantes junto aos objetivos e propósitos comuns; 
  3. Boas relações: construção de parcerias internas e externas caracterizadas pela transparência, ética e ganhos compartilhados;
  4. Monitoramento do progresso: mensuração de resultados, atualizações e mudança de planos que se façam necessárias;
  5. Comunicação assertiva: direta, objetiva, levando em consideração, independentemente da forma, os elementos:

Emissor – que dá inicio ao processo;    

Mensagem – o que eu quero comunicar;

Ambiente ou contexto – local e momento em que ocorre a comunicação;

Canal – o veículo que carrega a mensagem;

Receptor – quem recebe, analisa e interpreta seu significado

Contudo, para o alcance dos melhores resultados, uma gestão mais comprometida, uso eficiente de recursos e melhores experiências é preciso adotar estratégias que envolvam executivos, gestores, líderes, profissionais e usuários em torno de um mesmo objetivo. O modelo requer o comprometimento, engajamento e atuação ativa da equipe multidisciplinar, interdisciplinar e transdisciplinar, sendo guiada por 4 pilares principais:

  • Cuidado coordenado e centrado no paciente:  considera as expectativas e experiências prévias, ou seja, o paciente deve ser entendido como membro da equipe e passa a ter atuação ativa; 
  • Gestão de riscos: identifica fatores que impactam direta e/ou indiretamente o alcance dos melhores resultados;
  • Efetividade e eficiência clínica: avalia os desfechos e a eficiência, entendendo a relação custo X benefício ofertado, sendo esse o principal pilar da governança clínica.
  • Auditoria Clínica: avalia a execução dos processos com foco na melhoria continua;

O modelo pode ser entendido como "engrenagens” que transformam os princípios da gestão na prática clínica diária, entendendo que para incorporar qualquer processo de melhoria é necessário mudar os processos responsáveis pela produção do cuidado, através de uma gestão estruturada, capaz de identificar cenários e definir estratégias de acordo com o contexto vivido. 

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No momento que temos uma estrutura organizacional bem concebida, fica claro para os profissionais o motivo pelo qual a organização existe, seus objetivos e propósitos, assim como a coordenação entre unidades, divisão do trabalho, definição de papeis, responsabilidades e entregas. Em contrapartida, quando temos uma estrutura desalinhada e mal definida, a governança torna-se disfuncional, o que contribui para uma maior discordância entre os processos clínicos e corporativos, com consequente aumento na ocorrência de falhas nos sistemas.

O trabalho da governança clínica, permite uma maior compreensão das estratégias e objetivos organizacionais, bem como sua disseminação pela organização, reconhecendo a contribuição de todas as partes, inclusive do usuário, para o movimento da melhoria continua. Dessa forma a decisão clínica passa a fazer parte do contexto gerencial e organizacional, ficando evidente que a dimensão assistencial tem papel central na governança e nos processos de melhoria.

Diante dessa nova era, novos padrões precisam ser desenvolvidos para se adequarem às novas condições, que envolvem parceiros, expectativas entre os diferentes atores, crise da força de trabalho, ambientes de trabalho, responsabilidades e entregas, o que nos permite dizer que o êxito passado não garantirá o mesmo sucesso futuro, afinal de contas estamos falando e lidando com obstáculos e necessidades diferentes. 

Temos pela frente o grande desafio de instituir uma gestão que possibilite aos profissionais sentirem-se responsáveis pelos serviços, partilhando suas ações, comprometendo-se com os resultados, processos de melhoria e sendo reconhecidos por isso. Uma gestão de excelência é capaz de promover ações conjuntas do próprio e de outros setores em busca de interesses comuns. Para isso, a adoção de políticas sinérgicas, muitas das quais situadas em setores que não o da saúde, além de setores externos ao governo podem apoiar as estruturas e mecanismos, permitindo uma maior colaboração entre todos. 

Taís Pozza

Empresária Ítalo/brasileira/Mentora e Influenciadora| Mestre/Esp. Saúde Estética|Criadora da Mentoria Desenvolver Gestão p/Prof.da SAÚDE |Título de Tricologista internacional |CEO Trikhos e Vivaldi Estética Integrativa.

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Bruno assunto pertinente. Parabéns pelo artigo. Uma das maiores lacunas no setor da saúde é estar fixado somente na área. Sabemos que processos de melhoria contínua aliando saúde com outras áreas como por exemplo, a gestão, os resultados são ainda maiores.

Temos que trabalhar muito nesse assunto! Trata se de um enorme desafio para melhorar a assistência e levá-la à excelência com menores custos: VALOR.

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