#3 Hard skills ou soft skills?
As organizações são por natureza locais onde, para além do desenvolvimento das actividades inerentes a cada função, se criam e estabelecem-se relações interpessoais. O ambiente interno das empresas é constituído pelo conhecimento, atitudes, valores, crenças e cultura organizacional presente entre todos os membros da organização. É nesse espaço que se define a missão, a política, os processos e as estratégias a seguir pela empresa na persecução dos seus objectivos, daí a sua importância no «clima social» que se vive nas organizações.
A principal questão é como é que podemos avaliar isso numa fase de recrutamento, ou mais difícil ainda como podemos estimular o «bem-estar» entre todos no seio organizacional.
Como recentemente afirmou Fernando Santana (Director da FCT) são "[a]s ‘hard skils' [que] garantem a entrevista, mas são as ‘soft skils' que garantem o emprego". Efectivamente e, numa era cada vez mais tecnológica, dominada pelos currículos digitais, entrevistas pelo telefone ou pelo skype, torna-se cada vez difícil às organizações conseguirem percepcionar as reais competências relacionais do candidato. Acredita-se que o mais importante é a experiência profissional, os locais de referência onde desempenhou funções, as línguas que domina ou as aplicações que utiliza, isto é, considera-se que a capacidade de trabalho em equipa, a aptidão para a liderança, o espírito de entre-ajuda e orientação vêm com o tempo na organização. Nada mais errado! Concordo que as hard skils são o primeiro elemento "chamativo" mas as soft skils são as decisivas, aquelas que realmente fazem diferença no seio de uma organização. Afinal é com os colegas de trabalho que passamos uma parte significativa do nosso dia...
Mas que relevância tem este tema no futuro?
Peter Drucker (1986) caracteriza as organizações «como lugar[es] de criação de consensos, de negociação e de compromisso, [...] como [um] novo pólo de identidade social, quer para o individuo, quer para os grupos profissionais”.
O custo de um mau recrutamento em termos de soft skils paga-se caro, muita vezes revelado pelo mau estar gerado entre os colegas de trabalho, ao considerarem que o “novo elemento” não está de acordo com aquilo que é a filosofia da empresa – cultura organizacional. Por outro lado, para quem chega à organização e depara-se com um distanciamento entre aquilo que são os seus valores e atitudes face às acções do seu empregador, gera dentro de si sentimentos de desmotivação e consequentemente menor produtividade.
Torna-se fundamental que as empresas “trabalhem” e “analisem” a compatibilização dos seus recursos humanos com aquilo que é o seu grupo de trabalho. Para tal, é necessário a existência de uma cultura organizacional forte, onde as relações humanas sejam a sua principal vantagem competitiva. Quando todas as estruturas organizacionais trabalham em sintonia e numa base de confiança entre todos os seus membros estão lançadas as bases para o sucesso, aquelas que suportam os ventos da desilusão e o pulos de alegria.