ANTONTE E O FUTURO
WILLIAN FAGIOLO
Preciso tirar duas horitas do seu valioso tempo para contar-lhes umas coisas, pois desejaria poder entoar uma encurtada composição com três acordes que em meu peito guardei: recordar, rememorar e pensar.
Os anos passam rápidos, não só nos corrimões das escadas, diga-se, mas continuam a desfilar na estreita ponte pênsil do eterno aprendizado. Temos que ser rigorosos quanto ao amebeu, à métrica em rimas e quanto à riqueza e raridade dos momentos felizes. É por isso que são freqüentes os hipérbatos, as palavras eruditas e difíceis, as rimas e as piadas forçadas, porém imprescindíveis.
Nós, os verdadeiros protagonistas da vida, enfrentamos momentos que nos fazem infelizes, mas nos deliciamos com os momentos felizes. Resumindo, a vida é um grande baile em que almas e corpos se encontram, se esbarram se encoxam, se roçam de forma mais caliente como nos forrós, se unem e se separam. Cada qual bailando a seu modo, puxando o negócio para o lado direito, para o lado esquerdo, cheios de esperanças, em inocentes suspiros e sussurros, em inesquecíveis momentos de amor e paixão, de rostos colados. O ruim de tudo é que o baile acaba na alvorada e temos que volver marchando como zumbis para casa.
Naquele tempo, os bailes eram o nosso norte, sul, o meu leste e o seu oeste. Quantas promessas de amor eterno. Nem percebíamos que era hora de apagar as estrelas, guardar a lua, de dar partida no sol brilhante e jogar fora os sonhos e virar abóbora, o “é isso, cara de chouriço”, pois nada mais poderia dar certo daquela hora em diante. Quem leu W. H. Auden sabe do que estou falando.
A vida é pra valer, curta, escorregadia e sem pista de escape.
Vou ao âmago da questão.
Nossas cidades precisam decidir rapidamente se querem, através da arquitetura, da cultura, da arte e da política, ciência, da saúde, educação, ...se tornar um fenômeno do mundo e um fenômeno da vida. Poderão ser as duas coisas ao mesmo tempo, desde que se libertem das aparências mundanas, da alienação, da ignorância e das vicissitudes. Exemplo mórbido: O negacionismo!
Nossas cidades precisam decidir rapidamente se querem romper com os espertalhões, os dissolutos e os desavergonhados.
Nossas cidades precisam decidir rapidamente se querem deixar de ser o invariável sítio de simples mortais perturbados que cumprem a sua sina de mortais que apenas existem, se arrastam. Balem ovelhas, os bois mugem, os cavalos relincham, os burros zurram.
O atraso condena à ruína tudo o que toca e envolve. Precisamos de pessoas com mentalidade alargada, visão de futuro, coragem, honra e caráter firme.
Agulha no palheiro?
Sei, já sei que não nos têm em boa conta aqueles que não querem mudança alguma nas cidades etc. etc. etc.
Não me incomodo. É sempre assim, qualquer tentativa, por mais original, um pouco sequer, e lá vêm eles a trombetear que a única e exclusiva chance de felicidade está em manter suas políticas e, portanto, em nada mudar. Mostram que almejam deter-se para sempre no pior do passado. Entretanto, não importa o tamanho da cidade e, sim, o salto qualitativo, seu status de cidade, cuja vocação para a contemporaneidade inclui recuperação, desenvolvimento, organização urbana, sustentabilidade, condições adequadas de mobilidade e infra-estrutura. É isso, ou caminharemos para a etapa terminal da vida urbana.
É preciso desmontar o tabu do poder e rumar para a defesa das regras do jogo democrático, evitando, com isso, ficar à mercê, sem combate, das correntes totalitárias, decadentes, neonazista, e outros que tais.
Pelo jeito, continua tudo como dantes, como antonte.
E o futuro?