Aprendizagem contínua
Na engenharia como em outras profissões, para exercer a profissão não basta obter o “canudo”.
A formação contínua deve ser assumida por cada indivíduo, como uma ferramenta importante no desenho do seu percurso profissional. As universidades estão longe de poder garantir a um seu aluno, a aprendizagem plena de todas as ferramentas necessárias para a sua vida profissional. As universidades, embora desempenhem um papel importante, apenas garantem o kick-off para o exercício da profissão, importando amadurecer e dar continuidade aos conceitos apreendidos.
Esta ideia é muito importante, pois nos dias de hoje continuo a observar comportamento de profissionais que nos seus primeiros anos de atividade se acomodam em determinadas posições, e que cuja atividade se resume à aplicação de receitas apreendidas, criando uma zona de conforto ilusória. As mudanças na vida surgem quando menos se espera, e os acomodados comummente pagam caro a inércia de procura de mais conhecimento e de novas experiências de trabalho.
Um engenheiro tem hoje um papel na sociedade que tem sido injustamente vulgarizado. O seu trabalho é cada vez menos bem pago, e o seu esforço poucas vezes reconhecido. A conceção de uma estrutura pode vir a salvar vidas em casos de solicitações extremas (ex. sismos) e isso não deve ser ignorado e normalmente só é valorizado após a sua ocorrência.
Contudo, quem opta pela vida na engenharia não poderá esquecer, que é afinal de contas um cientista e como tal, deve esforçar-se por evoluir os conhecimentos adquiridos, experimentando novas situações e procurando a excelência do trabalho oferecido.
Como Engenheiro de Estruturas, tive a oportunidade de viver diferentes experiências profissionais, e em particular, a oportunidade de chefiar por duas vezes departamentos de Engenharia em diferentes empresas, pelo que não tenho dúvidas que a experiencia adquirida e a formação contínua me permitiram voltar a tomar um novo rumo profissional, sempre que terminei outros projetos profissionais.
Outro aspeto importante na formação profissional tem a ver com os meios atais para adquirir o conhecimento. Nos nossos dias tornou-se vulgar, sempre que surgem dúvidas em áreas nunca exploradas, abrir uma página do Google para a procura de respostas que solucionem o problema. Não poucas vezes tive oportunidade de observar que, encontrado o primeiro resultado da busca se aceita a nova informação como se de uma verdade absoluta se tratasse. O segundo resultado já nem é opção. Não é lícito contrariar esta tendência de busca de conhecimento, pois este está presentemente disponível de uma forma assustadora e sabendo procurar obtém-se soluções com uma rapidez outrora inimagináveis. Mas cuidado!! É importantíssimo não encarar a primeira informação como a verdade absoluta. O espirito de crítica e a confrontação de informação de várias fontes é importantíssimo neste processo de pesquisa. Embora no nosso país ainda exista uma tendência (que felizmente diminui) de esconder o conhecimento técnico em capelinhas de grupos de propensos intelectuais, pode observar-se que em países como o Brasil, o conhecimento é normalmente colocado no universo “internáutico” sendo fácil obter teses de investigação e trabalhos de grande valor com um simples click.
Hoje em dia é difícil um colaborador numa empresa obter formação patrocinada por esta. Com a crise e o emagrecimento de gastos que as empresas foram obrigadas a realizar, a formação foi quase sempre um alvo fácil. Mesmo as empresas que continuam a permitir tal “luxo” obrigam os seus colaboradores a justificarem muito bem o seu interesse e sobretudo o que a empresa pode vir a ganhar com este ganho de conhecimento.
É por isso importante que cada individuo encare a sua formação como uma atividade individual, que pode ser patrocinada por outros, mas que não deve depender destes para que exista. A proatividade neste campo deve existir em cada um de forma individual.
Os empregos passam, mas o conhecimento conquistado ao longo da vida profissional de cada individuo, fica com ele próprio.
Saber mais, nunca é de mais…
Ricardo Luís
Eng.ª Hidráulica na ENGIMIND - Traffic and Mobility Consultants
9 aEstou plenamente de acordo com as tuas palavras, Ricardo! A formação contínua deve/deveria ser um ato paralelo à actividade profissional e apoiada pelas chefias, independentemente se a formação é paga ou não pela entidade patronal. O que tenho visto ao longo dos meus (poucos) anos de carreira (11) é que na maioria das vezes um profissional que pretende alargar os seus conhecimentos, quer seja na área que actualmente exerce quer seja noutra distinta, não é devidamente apoiado e muitas vezes é duramente criticado (já aconteceu comigo!). Um Eng.Civil é um pouco como um médico, todos temos +/- a mesma formação de base mas depois cada um escolhe a área que mais lhe agrada especializando-se nela. No entanto, e cada vez mais, é necessário saber fazer um pouco de tudo ou, no mínimo, ter noções gerais do mundo profissional que nos rodei. Um engenheiro de estruturas, ou de hidráulica, ou de vias, ou de eletricidade, ou de avac, etc, raramente desenvolve um projecto única, pura e simplesmente da sua especialidade, há cada vez mais interacção entre as diversas especialidades. Por isso, sim, sou plenamente a favor da "auto" formação contínua pois hoje em dia "já não há empregos para a vida" e dada a "agressividade" do mercado de trabalho, em quantas mais áreas tivermos conhecimentos, mais hipóteses teremos! Acreditem, vale a pena, é o que a minha experiência me diz! ;)