Aspectos psicológicos do Big Brother e de outros realities shows

Aspectos psicológicos do Big Brother e de outros realities shows

Não importa quem está confinado, nós temos o instinto de sentir prazer em observar o comportamento humano  

No mês passado, uma nova edição do Big Brother Brasil iniciou. Reality exibido pela Rede Globo de Televisão, que, desde sua estreia em 2002, desperta sensações, emoções e o interesse de um público cada vez mais fiel. Público este que, desde o ano de 2020, vem consumindo uma nova equação do programa que integra famosos e anônimos na disputa pelo prêmio de 1,5 milhão de reais. Mas o que faz com que esse tipo de programa atraía tantos olhares e movimente números extraordinários de interação com os telespectadores?

Se olharmos pelo prisma da Psicologia, o confinamento e o fato dos participantes estarem sob pressão psicológica constante podem potencializar comportamentos ruins e fazer com que o ser humano, colocado sobre esse patamar, demonstre o seu pior lado. A audiência estrondosa do programa pode, inclusive, estar relacionada a essa pressão. Os integrantes são pessoas que perderam sua privacidade, estão sendo monitoradas 24 horas por dia, estão confinadas e, naturalmente, vão produzir o que o público quer ver: agitação. Uma agitação manipulada pelo estresse, pela irritação, pelo medo, angústia, insegurança e pela intimidade devassada, ingredientes importantes para alimentar e aguçar a curiosidade alheia e, assim, prender o telespectador, com uma pitada de tensão e muita inquietude.

Uma questão importante é entender de que forma e em que intensidade o psicológico dos participantes pode ser afetado ou prejudicado ao fazer parte do elenco de um reality como o BBB. Na verdade, tudo vai depender do controle emocional de cada um. O quanto ele suporta pressões. O participante, para conseguir controlar seu emocional, deve saber manejar muito bem suas atitudes e suas reações, nunca esquecendo que existem mais de 50 câmeras espalhadas pela casa.

Uma experiência que exige resiliência

Confinamento, perda da privacidade, ficar preso com pessoas extremamente diferentes de você, regidos pela atmosfera da competição, controlados pela impaciência e intolerância, são alguns motivos para chocar quem assiste. Temperos suficientes também para instigar a criticidade do telespectador, este que acaba por se identificar com alguns “personagens” da casa. Essa identificação é uma busca por entender como cada um agiria se estivesse na pele daquele participante.

Naturalmente, como seres humanos, possuímos características pinceladas por julgamentos. Sentimos prazer em analisar e julgar os comportamentos alheios. Além disso, podemos citar a provocação exercida por cada edição, em suscitar o voyeur que existe em cada um de nós, aguçando a nossa curiosidade em saber, por exemplo, como se dará a relação cotidiana entre anônimos e famosos? Como o famoso se comporta no dia a dia? O espelhamento também é um fator crucial que pode justificar o sucesso do Big Brother Brasil e outros realities que possuem formatos parecidos. Temos características inerentes ao ser humano que nos permitem criar afinidades e empatia, que justificam o aumento da audiência da atração.

Enfim, a formatação mostra que, ao perderem o equilíbrio, os participantes usam o lado primitivo do cérebro e acabam levando seu espírito de luta para o combate. Isso dá muito ibope e gera muitos comentários pós-programa. Ao assistir, experimentamos a falsa sensação de passar por aquelas situações mostradas nesta grande vitrine de exposição que é o reality. Viver a pressão do confinamento e da falta de privacidade exige, além de muitas outras coisas, autoconhecimento, o que é fundamental para o equilíbrio desse processo.

Dra. Andrea Ladislau.

Psicanalista.

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