A beleza na escola

Como regra geral, nossa arquitetura escolar, salvo raras exceções, é despida de beleza. Não se trata de simples desleixo, o que também acontece. Há muitas escolas bem cuidadas, muitas vezes, mas sem encanto.

É o chamado padrão prussiano de modelo escolar, bem conhecido por educadores, alunos e famílias: salas retangulares, mobiliários idênticos, algumas grades em certos ambientes, uma sala de professores com uma grande mesa e paredes em tom pastel. Arrisco generalizar, mas não se pode dizer que isso esteja longe da verdade

Esse modelo se naturalizou em nós. Não estranhamos esses padrões, pouco nos damos conta do quanto o modelo pode ser facilmente confundido com um hospital, por exemplo. Ao contrário disso, ficamos algo perplexos quando esses padrões são quebrados e novas propostas arquitetônicas aparecem. Por vezes, nem acreditamos que se trata de uma escola.

É claro que a beleza da escola não está apenas em sua arquitetura. Ao contrário. A alegria dos alunos, o empenho e generosidade de todos os educadores, tornam o espaço mais leve, mais equilibrado, podemos dizer.

No entanto, e algumas experiências recentes vêm mostrando isso, o desenho arquitetônico desenha também nossa forma de pensar. Escolas com design mais alegres, com ambientes mais circulares, estimuladores de colaboração, com cores vibrantes, dão forma a uma forma de pensar mais criativa e construtiva.

Nossos alunos precisam ser estimulados ao belo,  ao transcendente, ao exuberante, também por meio de nossos espaços físicos. Precisamos de mais arte, de mais beleza. Os espaços precisam parecer mais com um lar acolhedor e estimulante do que com um espaço burocrático e pasteurizado.

É claro que bons professores e demais educadores conseguem contornar isso, de alguma forma. Mas a beleza deveria ser um componente imprescindível de uma escola, pois como disse Dostoiévski, a beleza salvará o mundo.

Flávio Luís Rodrigues Sousa - professor

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