Buscando objetividade?
Se sim, responda a pergunta antes de seguir na leitura: Quanto objetivo você tem sido ultimamente no seu dia a dia?
Nós, seres humanos, percebemos o mundo à nossa volta a partir dos nossos sentidos, tudo que vemos, ouvimos, sentimos e tocamos percorre o nosso cérebro como um fluxo de informações e dados sem sentido ou significado. Com base na avaliação desses dados que nosso cérebro faz, algo acontece e que acaba por nos ajudar na determinação de como iremos agir e ou se comportar.
Por exemplo, se os receptores de calor na sua boca detectam que uma sopa que irá tomar está muito quente, você cospe no mesmo instante. Se alguém for agir de forma agressiva com você, seus olhos e sentidos detectam e rapidamente você se protege. Se esta dirigindo e vê que alguém entrará na frente do seu carro, automaticamente freia, dito de outra forma, existe uma certa objetividade que o cérebro produz, que é capaz de nos levar a uma decisão e consequentemente a uma ação de forma extremamente veloz e efetiva, portanto levar essa prática e conceitos conectados para uma reflexão agregando mais conhecimento sobre as nossas decisões do dia a dia é o objetivo central desse texto.
Durante o nosso dia a dia de trabalho nos deparamos com dificuldades diversas, mas um ponto que tenho notado em reuniões, projetos e encontros entre líderes, empresários, gestores e suas equipes que participo é que existe uma grande falta de objetividade, tanto que assuntos que poderiam ser resolvidos em 20 minutos levam horas e até dias em função dessa questão.
Em verdade noto que confundimos algumas coisas em nossa cabeça que precisam ser mais bem entendidas e compreendidas para uma melhor ordenação, pois podemos acabar achando que ser objetivo é simplesmente agir de forma superficial e rápida, como se já tivéssemos algo definido previamente como um passe de mágica ou até intempestivamente.
Podemos inclusive confundir o ato de “se antecipar” a algo com “o reagir” a algo, levando o “ser objetivo” para um estágio impulsivo do agir, daqueles do tipo quase que imediato e instantâneo dos filmes de ação que nutrem a imagem de um instinto privilegiado.
Porém, ser objetivo é completamente diferente disso, em realidade é ter a capacidade de não se deixar enganar pelas falsas percepções que temos do mundo a nossa volta e somente depois desse complexo processo de compreensão e entendimento, identificar a melhor ação que deverá ser realizada.
Para ficar mais claro, objetividade é a capacidade de lidar com as nossas ideias subjetivas que se misturam nesse processo de captura de dados objetivos, transformando-os em ações assertivas de forma direta e no menor tempo possível, para que a tomada de decisão seja a mais sistêmica, equilibrada e completa, gerando assim um resultado positivo.
Vale comentar que com o tempo, esse tipo de prática do dia a dia, por vez não percebida por muitos, vai se tornando algo extremamente comum e claro, mas que qualquer processo realizado de forma contínua e ininterrupta promove um exercício e desse, naturalmente vai habilitando uma execução cada vez mais precisa e refinada.
Contudo entendemos que a habilidade de tomar decisões mais claras e assertivas e toda a sua cadeia posterior surge a partir dessa forma fluída, que se encontra contida nesse subprocesso de tomada de decisão cerebral, tanto que o nosso organismo demonstra claramente essa capacidade intrínseca, basta nos atentarmos a esse mecanismo da objetividade tão fascinante que o notaremos facilmente.
Agora que já começamos a compreender um pouco mais sobre a objetividade, talvez comece a se explicar que a falta dela nos traz inúmeras consequências. Uma que podemos citar aqui a título de exemplo é o mal-estar que sentimos quando percebemos um bloqueio constante em nós diante de algumas situações ou se preferir, dos momentos em que procrastinamos.
Sem perceber nos tornamos reféns dessa falta de objetividade e com isso criamos o que chamamos de ciclo de falsas redundâncias, dito de outra forma, construímos um sistema falho, formado por falsas escolhas, que acabam por nos gerar uma enorme dificuldade na tomada de decisão, mas que se manifestam em geral em momentos cruciais ou de quando precisamos assumir uma posição mais firme em assuntos que nos impactam diretamente e essa demora de ação é terrível.
Para aprofundar mais no assunto, aporto um novo dado que julgo valioso, que é a existência de regras, isso mesmo para a objetividade acontecer, existe um sistema de formação de regras.
Antes que fiquem mais ainda em dúvida, vale contextualizar que ao longo da nossa evolução humana o cérebro foi se desenvolvendo, parte a parte e de tempos em tempos, com isso, ele foi construindo as tais regras básicas de operação para as tomadas de decisões que estou citando acima.
Regras essas que foram atribuídas pela ciência atual como um produto dos modelos mentais. Aqui é o ponto que atribuo o predicado valioso, pois eu demorei muito para entender que temos modelos mentais operando em nosso cérebro criando as regras de como agimos, nos deixando então mais objetivos ou menos objetivos.
Interessante isso, pois essas regras não são imutáveis, qualquer modelo mental pode ser revisto, melhorado e desenvolvido. De uma forma simples, também compreendemos que os modelos mentais são ideias e conceitos armazenados em nosso cérebro, que ao longo do tempo foram criados com o objetivo de nos demonstrar como o mundo físico funciona, gerando um padrão ou até uma lógica de ação, mas não vamos esquecer que somos humanos e não máquinas configuradas.
Contudo, esses conceitos e ideias são elementos subjetivos de primeira ordem, pois cada um dos nossos modelos mentais em operação podem também serem avaliados por sua correspondência com a realidade e isso gera o que chamamos de grau de objetividade, mais objetivo e menos objetivo, diga-se de passagem que inclusive é uma competência muito valorizada no mundo dos negócios.
Todas essas informações são um prato cheio para os nossos processos de educação e como uma boa nova, todos podem ser desenvolvidos e trabalhados, desmontando o paradigma determinista, conhecido no Brasil como a síndrome de Gabriela, aquela que é representada por uma canção que diz “...eu nasci assim, eu cresci assim, Gabriela...”
O assunto da objetividade e dos modelos mentais se transformaram em pontos de extrema atenção e relevância nas escolas de negócios como Harvard, que tem programas exclusivos como o “Mental Models: Towards a cognitive Science of language, inference and consciouness”, que vem nos revelando boas informações, não somente sobre os modelos, mas também sobre o processo de tomada de decisão aplicado ao trabalho.
Um outro fato que foi descoberto é que muitas de nossas confusões mentais são entre ideias subjetivas e fatos objetivos e num desses estudos realizadas pelos pesquisadores Harris, Cohen e Seth, publicada no “Annals of neurology” com o nome de “Functional neuroimaging of belief, disbelief, and uncertainty” foi demonstrado que as nossas ideias subjetivas sobre o funcionamento do mundo, despertam os mesmos sentimentos e tal afirmação e explicação é tão interessante que resolvemos partilhar com você.
O exemplo que o estudo traz é: “2+2=4” e isso nos fazem ter a plena convicção de que essa é uma afirmação verdadeira, mas em relação ao mundo físico essa é uma afirmação falsa, pois o número não é real, são elementos abstratos e subjetivos que podem ser associados aos elementos objetivos reais, ou você já encontrou um número dois andando na rua? Ou até um sinal de soma pedindo um café numa padaria? Mas é claro que não, mas ao lidarmos com números o tempo todo, podemos ter a aplicação da probabilidade de achar que pessoas são iguais a números e esse tipo de modelo mental pode gerar decisões que reduzem pessoas a números, pois no fim o que estamos afirmando é que um modelo mental poder ser o gerador do tal problema do absurdo como verdade irrefutável e no mundo do trabalho e dos negócios, tal inversão gera grandes impactos, afinal que nunca presenciou um absurdo sendo afirmado como se fosse a única verdade do mundo dentro de um trabalho?!
Portanto, quanto mais conhecermos os nossos modelos mentais e trabalharmos o desenvolvimento deles, mais ampliaremos e melhoraremos consideravelmente a nossa objetividade.
A falta dela em um indivíduo, tem o potencial de nos levar a uma forma perigosa de cegueira, podendo ser individual ou coletiva e para que isso não aconteça não deixe de coletar diferentes tipos de percepções, de desenvolver o pensamento crítico e de questionar a sua intuição e dogmas, afinal, a busca pela verdade é uma jornada sem fim e essa tem uma relação estreita com a nossa tomada de decisão diária e ser objetivo é questão de sobrevivência.
Agora, o quanto você tem sido efetivo na sua objetividade? Esse é um outro assunto que se desdobra a partir desse da objetividade e dos modelos mentais que irei abordar posteriormente, acompanhe.
Keine Alves
Líder educador e pesquisador
Gerente de Contratos na Afonso França Engenharia
4 aKeine, seu assunto é de extrema importância, principalmente em relação ao nosso trabalho é particularmente no setor de construção civil, onde tenho mais experiência. Venho estudando um modelo amplamente conhecido que é o Scrum, para o gerenciamento de projetos ágeis, visando fazer entregas frequentes aos clientes, como também na mitigação de riscos, transparência no planejamento e avaliação dos stakeholders. Também analiso o modelo de gestão das empresas, algumas com processos morosos e limitam a tomada de decisão, desencorajando os profissionais a serem mais objetivos. Por outro lado também existem profissionais que tomam decisões sem analisar todo o contexto, trazendo sérios problemas para as empresas, principalmente junto aos clientes. Esse tema é sem dúvida uma ótima oportunidade de conhecer melhor essas tomadas de decisões e analisar como devemos agir de forma mais objetiva e assertiva. Abraços
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4 aO medo virou uma trava no tempo de tomada de decisão... e a demora, pode ser fatal!