Chá sem açúcar no matabicho!

Chá sem açúcar no matabicho!

Estive em Malanje pela segunda vez no mês de abril. A primeira vez deve ter sido em janeiro caso a memória não me esteja a falhar, e nem sequer havia chegado à sede da província, fui visitar as famosas Quedas de Kalandula com os amigos e logo regressei. A minha visita a Malanje fez-me perceber que de facto a vida em Luanda é muito corrida. Muito energética e com uma excitação absurda. Malanje não carrega consigo apenas paisagens deslumbrantes, mas também histórias fascinantes e desafios inspiradores. Durante a minha segunda visita, bem, não se trata de uma visita propriamente dita, foi muito mais em missão de serviço, estadia, não pude deixar de me envolver nas conversas animadas sobre os mitos da região. Hospedei-me num hotel, que para mim foi uma burla me terem dito que um quarto estrelas, digo isto porque em comparação com os de Luanda, aquele devia ter pelo menos duas estrelas, mas ignorei porque tinham sistema de água morna e fria, isso para mim é de longe ma coisa muito importante. Pus-me ao banho e pensei no trabalho queme  levou-me: BIOCOM.

A notícia sobre a BIOCOM ecoava por todos os cantos, desde a nossa comitiva, até as pesoas do hotel, até mesmo os munícipes falavam do assunto quando saímos dos nossos quartos para andar um pouco pela vila – coisa que não pretendo repetir jamais. A BIOCOM, que celebrava recentemente seus 10 anos de produção, é uma peça vital no quebra-cabeça da economia local. Com vastas extensões de cana-de-açúcar, a capacidade de gerar energia limpa e um compromisso com o crescimento agrícola, a BIOCOM é um exemplo notável de resiliência e empreendedorismo. Fomos e voltamos surpresos, ou pelo menos eu, voltei surpreso.

Na cerimônia de lançamento oficial da safra referente ao ano de 2023, realizada no município de Cacuso, em Malanje, o diretor geral da BIOCOM, Uirá Ribeiro, anunciou com grande entusiasmo a capacidade impressionante da empresa. Com uma área de 40 mil hectares e capacidade para produzir 2,2 milhões de toneladas de cana-de-açúcar, 250 mil toneladas de açúcar cristal branco e 37 mil metros cúbicos de álcool neutro, além de fornecer ao país um adicional de 136 mil megawatts de energia elétrica limpa, a BIOCOM certamente demonstra seu potencial como uma unidade fabril estratégica para a produção nacional. No entanto, uma nota de cautela se faz presente na celebração deste ano. A empresa havia estabelecido uma meta ambiciosa de produzir 120 mil toneladas de açúcar durante o presente ano agrícola. Infelizmente, essa meta não foi alcançada. Apesar das previsões positivas, a produção real de açúcar ficou aquém das expectativas. Mas há um aspecto que chama a atenção e compensa, em parte, essa queda na produção: o aumento dos preços do açúcar.

Uma avaria na fábrica da BIOCOM paralisou a produção de açúcar por mais de um mês, causando preocupações sobre a disponibilidade desse produto essencial no mercado. A BIOCOM, com sua capacidade de produção significativa e seu papel fundamental na oferta de açúcar em Angola, tem um impacto direto nos preços e na disponibilidade desse produto no mercado nacional. Portanto, a retomada da produção normal é um passo importante para estabilizar os preços e garantir um suprimento adequado de açúcar para os consumidores angolanos.

Essa avaria destaca uma preocupante realidade: a dependência excessiva de um único actor na oferta de um produto essencial no mercado nacional. A BIOCOM, sem dúvida, desempenha um papel significativo na economia angolana, sendo responsável por mais de 40% do açúcar consumido no país, outros restantes são importados. Sua capacidade de produção é impressionante, e seu impacto nos preços e na disponibilidade do açúcar é inegável. No entanto, essa concentração de poder em uma única empresa revela uma vulnerabilidade séria no fornecimento desse recurso vital. A avaria na fábrica da BIOCOM expôs o risco inerente a essa dependência excessiva. Quando uma empresa detém uma fatia tão grande do mercado, qualquer problema em suas operações pode ter efeitos dramáticos na economia e na vida das pessoas. No caso do açúcar, uma paralisação na produção por mais de um mês gerou preocupações legítimas sobre a disponibilidade desse produto, afectando os consumidores e a cadeia de suprimentos.

É fundamental que o país busque diversificar sua produção e fornecimento de açúcar. Depender exclusivamente de uma única empresa para atender à demanda nacional é arriscado e inadequado. Outros produtores locais também devem ser explorados para criar um mercado mais robusto e resiliente.

Além disso, essa situação ressalta a necessidade de políticas governamentais que incentivem a concorrência saudável no sector de açúcar, promovendo a diversificação e reduzindo a vulnerabilidade a falhas em uma única fonte de suprimento.

Em última análise, a paralisação na produção de açúcar pela BIOCOM deve servir como um chamado de atenção para a necessidade de uma abordagem mais equilibrada e estratégica na gestão dos recursos essenciais do país. A dependência excessiva de um único actor na oferta de um produto tão vital é uma vulnerabilidade que precisa ser tratada com seriedade, visando a segurança alimentar e económica do país.

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