Como Melhorar a Efetividade das Atividades de Capacitação
Graças à tecnologia e à inovação, as oportunidades de aprendizado hoje em dia se multiplicam e parecem infinitas: somos bombardeados a todo momento com informações e ofertas de diferentes tipos – cursos/programas, treinamentos e mentorias, todos nas modalidades presencial e/ou on-line. Vivemos sobrecarregados e apressados.
O objetivo deste artigo é indagar sobre a efetividade das atividades de capacitação no ambiente corporativo, com o fim de contribuir com a criação de estratégias/melhores práticas que aumentem as possibilidades de aprendizagem. Afinal, como diz o criador da pirâmide da aprendizagem, William Glasser: “cada processo de ensino tem uma eficiência”.
Se observarmos as ofertas existentes percebe-se, nos modelos utilizados, que estas ainda se apoiam em métodos do ensino tradicional, em que o papel do professor é expor os conteúdos e o do aluno, de absorvê-los (ler, observar e escutar). De acordo com Glasser (ver a pirâmide de aprendizagem mais adiante), estas são práticas passivas de aprendizagem, que possibilitam uma retenção menor daquilo que foi exposto ou explicado.
Para melhor direcionar este artigo, utilizo algumas perguntas fundamentais: como obter um aprendizado mais consolidado nos treinamentos? Que métodos utilizar para criar engajamento e aumentar as possibilidades de aprendizagem?
A Curva do esquecimento
Em 2022, participei da Semana B2B de Vendas, evento organizado pela Ploomes. Um dos palestrantes, na introdução de sua apresentação, intitulada “Como construir iscas no processo de vendas”, caracterizou o contexto em que vivemos pelo excesso de informação e, consequentemente com a dificuldade cada vez maior de prestar atenção (saturação de informação). Nesse cenário, apresentou um dado impactante: 90% dos profissionais de vendas esquecem do seu treinamento em até 30 dias. Fonte: Salesloft.
A porcentagem de esquecimento apresentada (90%) parece impactante, mas pode ser melhor compreendida, quando analisamos a curva de esquecimento, criada pelo psicólogo alemão Hermann Ebbinghaus. Em 1885, Hermann realizou um estudo com o objetivo de mensurar a retenção da memória em um curto espaço tempo, que pode ser observado no gráfico a seguir:
Como é possível observar na curva de esquecimento de Hermann Ebbinghaus, tendemos a esquecer a maioria da informação que adquirimos; em 31 dias, a porcentagem de retenção que inicia em 100%, nos 20 minutos seguintes cai para 58% e assim sucessivamente, até chegar nos 21%, quando completa 31 dias. É uma curva decrescente, ou seja, o cérebro tende a esquecer a maioria das informações que adquirimos.
O esquecimento, de acordo com a curva, é uma atividade normal do cérebro e, talvez, mais agudizada atualmente, se consideramos o excesso de informação a que estamos expostos diariamente.
Aprendizagem passiva e esquecimento
William Glasser, psiquiatra norte-americano, desenvolveu a Teoria da Escolha (1970), que entende o ser humano como um aprendiz nato e enfatiza a importância da autonomia no processo de aprendizado.
Em função de seus estudos, Glasser criou a pirâmide da aprendizagem, que apresenta diferentes níveis de retenção de conteúdo, baseado na forma de ensinar e aprender. Para o estudioso, o aluno deve ser o protagonista do seu aprendizado e o professor, o guia nesse processo, derrubando, portanto, a ideia de um ensino passivo, verticalizado.
Para Glasser, quanto mais ativa, interativa e aluno-centrada seja a estratégia de ensino, melhor a capacidade de aprender. O autor dividiu os métodos de aprendizagem em ativos e passivo e, de acordo com sua teoria, as porcentagens de retenção de conhecimento mudam em função das práticas envolvidas.
A seguir apresenta-se a Pirâmide de Aprendizagem, como concebida por William Glasser:
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Com base na análise da pirâmide, é possível identificar que, embora o aluno absorva o conteúdo de uma aula expositiva, participar ativamente da aula resulta em um aprendizado mais consolidado. Para ele, quanto mais o aprendiz se relaciona com o conhecimento de forma ativa, maiores são as chances de assimilação do conteúdo. Assim, a apresentação de um seminário ou a participação em um debate, por exemplo, pode ser muito mais eficiente do que ler ou assistir a uma aula.
Como promover aprendizagens mais efetivas nos treinamentos?
Não há uma metodologia de ensino perfeita, mas há aquelas que atendem às demandas educacionais da sociedade atual com mais eficiência, como os métodos mais ativos, que permitem a troca de ideias, trabalham o conhecimento de forma interdisciplinar e estimulam a autonomia e o senso crítico dos alunos, características essenciais para o século 21.
A metodologia ativa de ensino busca combater a postura passiva e foca em aulas que instiguem o aluno e induzam a sua participação. Dizer ou mostrar como se faz é insuficiente para provocar mudanças efetivas na performance de qualquer profissional, sabemos que este modelo não engaja e nem capacita. É preciso ir além, fazendo com que o aluno pratique o que aprendeu. É necessário que os conteúdos sejam incorporados/articulados com experiências e práticas do dia a dia.
As metodologias ativas tem sido usadas como uma forma de aumentar o engajamento, transformando a jornada de aprendizagem e buscando produzir um movimento de melhoria continua, que se traduz num círculo virtuoso, capaz de levar a resultados mais significativos.
Aprender não tem a ver com consumir grandes quantidades de conteúdo. Não é isso que determina a aprendizagem. O que realmente importa, no caso de uma atividade de treinamento e/ou capacitação, é o quanto deste conteúdo disponível impacta a prática cotidiana. Que mudanças incorporar?
Para isso é necessário que se revise as estratégias de ensino, promovendo a utilização - aplicação do conhecimento na prática e realizando um acompanhamento mais individualizado (treinamento-mentoria), que estimule uma postura ativa diante das aprendizagens.
Considerações finais
O esquecimento, como vimos na curva de Hermann Ebbinghaus, é algo natural do cérebro, o que não significa que devamos nos resignar diante dessa informação. A pergunta que fica é: como combater essa tendência?
A pirâmide da aprendizagem, especificamente no que se refere às metodologias ativas, fornece algumas pistas, tanto a nível de estudo individual como para quem se preocupa em propor atividades de capacitação, que resultem em maior efetividade, ou seja, que busque produzir uma aprendizagem mais consolidada.
Planejar um treinamento/capacitação, com base na pirâmide, requer a realização de atividades que promovam maior integração entre os aprendizes e, principalmente, uma mudança importante na postura de quem ensina.
Breve Curriculum de Maria Martha:
Doutora em Educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e especialista em Gestão e Liderança, título obtido no Instituto de Gestión y Liderazgo. IGL- Chile.
Atualmente atua na educação corporativa(B2B e B2C), realizando treinamentos e mentorias para a área comercial.
Sites consultados:
Gerente Regional de Vendas na Cargill | Professor Universitário | Linkedin Creator
1 aMuito bom, Maria Martha Dalpiaz. Tenho buscado aplicar metodologias ativas de ensino nas minhas aulas e treinamentos e realmente a retenção é o engajamento aumentam muito.
Gerente de Vendas | Desenvolvimento de Novos Negócios | Pesquisa de Mercado | Prospecção | B2B | Negociação | Gestão de Pessoas | Treinamento e Desenvolvimento | Atendimento ao Cliente
1 aMaria Martha Dalpiaz, excelente artigo. Obrigada por compartilhar esse artigo rico em informações extremamente relevantes aos nossos dias.
Especialista em Serviços | Treinamentos | Desenvolvimento e Melhoria Operacional e Comercial
1 aMaria Martha Dalpiaz excelente artigo. Obrigado por dar luz ao trabalho de Glasser. Sem dúvida, as ideias dele somadas ao conhecimento que você compartilhou, agregarão bastante no desenvolvimento do meu trabalho. Abraço