Como montar um equipe sólida e duradoura
Construir um time passa por mudar a forma como se enxergam relações de trabalho como um todo.
Na construção de uma empresa, algo é fundamental: time. Você precisa ter uma equipe com a qual você possa contar e confiar, que tenha visão estratégica e que vista a camisa da empresa para poder crescer. Acontece que justamente times tem sido o calcanhar de aquiles de boas ideias. Contratações erradas, funções infladas, salários reduzidos e relações de trabalho terminando de forma traumática.
A consequência mais direta desse cenário é a constante insegurança do empregador na hora de contratar e a desconfiança total sobre quem já faz parte da equipe. Dentro desse espectro, o responsável tenta se precaver, aumentando o controle, micro- gerenciando tarefas e inventando planilhas e mais planilhas para o colaborador preencher e para que todo mundo saiba exatamente o que está sendo feito. Tempos depois, a mesma coisa acontece… E não só os times tem alta rotatividade como a cultura da empresa como um todo é de controle.
“Será que foi a descrição da vaga que estava errada? Será que eu contrato uma empresa para fazer essa seleção para mim, porque eu não tenho mais cabeça?”
E as contratações começam a acontecer justamente num momento de crescimento da empresa. Crescer, expandir, significa, em última instância, aumentar de tamanho e, com isso, perder uma parte da visão que se tinha quando a empresa estava começando. Não importa quantas planilhas ou quantas plataformas de controle de colaborador você contrate, você perde visão de toda a empresa quando ela cresce. É aí que entra a parte mais difícil em qualquer relação humana: a confiança. E quando somos geridos pela desconfiança, tomamos as atitudes mais destrutivas para uma relação, isso vale tanto para as relações pessoais quanto para as de trabalho.
Trabalhar dentro de um ambiente de desconfiança e de constante fiscalização constrói uma cultura improdutiva. Quem gosta do seu trabalho e quer usar toda a sua criatividade e potencial para crescer dentro dele, o faz não porque o estão fiscalizando, mas porque a pessoa se sente à vontade para isso, porque quer ver a empresa crescer e crescer junto. E isso não acontece em relações abusivas e controlar um colaborador é uma forma de abuso.
“Tá, mas e aí? O que que eu faço, então, pra mudar essa cultura e extrair o melhor dos colaboradores?”
Além de fazer a investigação em como é a cultura da sua empresa e refletir sobre a opressão do ambiente de trabalho, alguns pequenos passos fazem toda a diferença.
Contrate com propósito. Mostre para sua empresa que não é um currículo que manda. Diversidade cria todo um efeito em cadeia não só nas trocas dentro da empresa quanto na sociedade, comece por aí. Seja criativo no seu processo seletivo para descobrir quem é a pessoa que você está entrevistando.
A Zappos mandava um motorista em uma limousine buscar o entrevistado e levá-lo em casa e depois perguntava para o motorista como que ele foi tratado pelo entrevistado. Na Scooto, o processo seletivo consiste em pagar para a pessoa trabalhar para a gente por uma semana. Nesse período, ela trabalha normalmente como se já estivesse contratada. A pessoa descobre se é isso que ela quer e a empresa vê a postura de trabalho. Em 3 anos, tivemos 0% de turn over por pessoas que entraram por esse processo seletivo.
Passe a função, estabeleça as entregas e deixe a pessoa trabalhar. Se topou o salário, se passou no processo, você já sabe do que ela é capaz. Explique o que ela precisa entregar e quando. E só.
Dê flexibilidade para que a pessoa trabalhe do jeito que acha melhor. Seja na cama, seja na casa de praia, seja de madrugada, dois dias trabalhando muito e parando um… Se a pessoa trabalha como ela quer, ela fica mais feliz. E, por incrível que pareça, pessoas felizes trabalham melhor. Dê espaço para que consigam isso.
O que ficou claro durante essa quarentena é que todo o ambiente de trabalho presencial tem sua origem na necessidade de controlar os colaboradores. É opressor por natureza e não é garantia de resultados. Agora, percebe-se coletivamente que, com todos em casa, o trabalho não deixou de ser entregue e que relações de trabalho não precisam ser opressoras para gerar resultados. Pelo contrário.