Créditos de Carbono: O padrão CCB e o Compasso Social na Dança Contra a Mudança Climática
A mudança climática é uma festa para a qual nós não queremos ser convidados, mas quando nos damos conta, já estamos no meio da pista dançando como se não houvesse amanhã. No incessante tique-taque do relógio, o tempo insiste em nos lembrar de que o futuro já é agora e o amanhã talvez nem haja. O nosso planeta, esse velho e generoso lar, ecoa em gritos silenciosos de sua febre, advertindo-nos sobre os impactos das mudanças climáticas. No entanto, ainda há esperança.
Entre as diversas soluções que se mostram ao alcance de nossas mãos, emergem os projetos de crédito de carbono, aparentemente uma jogada mestra nesse intrincado xadrez verde. Um sistema que faz da emissão de gases do efeito estufa uma questão econômica, transformando o inimigo em mercadoria e atraindo não somente quem gosta de abraçar árvores, mas também quem prefere abraçar o dinheiro. Não estou aqui para fazer julgamentos morais sobre o que move cada um à ação, mas de fato, ao se inserir em um mecanismo de mercado e com um viés de investimento, a sustentabilidade abarca um hall ainda maior de pessoas, contribuindo para trazer luz ao tema.
Funciona assim: Cada tonelada de CO2 que deixamos de lançar na atmosfera torna-se um crédito de carbono que pode ser vendido a quem ainda não investe na redução de suas próprias emissões. Então se determinada empresa ou pessoa física tem um projeto que emitiria 100 toneladas de carbono por ano na atmosfera e junto a esse projeto ela desenvolva ações de redução das emissões e passe a emitir efetivamente 60, esse projeto está gerando 40 créditos de carbono. Digamos que a meta de emissões desse projeto fosse 80 toneladas por ano, então o projeto teria um excedente de 20 créditos por ano que poderiam ser vendidos ou utilizados para compensar outro projeto que não atingisse a meta determinada.
Porém, permita-me dizer, meu caro leitor, que esses projetos de crédito de carbono não são apenas sobre números e gráficos, sobre transações comerciais que envolvem toneladas de CO2. Eles também têm um coração pulsante, batendo no ritmo das ações sociais e do desenvolvimento econômico das comunidades.
Estou falando de uma realidade onde florestas não são apenas depósitos e captadores de carbono, mas também berços de vida e prosperidade. Projetos de reflorestamento e conservação florestal, que incorporam o desenvolvimento socioeconômico, podem envolver a comunidade local, proporcionando melhorias nas condições de vida, renda e, o que é tão importante quanto, uma razão para que as árvores permaneçam em pé.
Esse casamento verde e social, entretanto, não é um mero acaso. Isso graças aos padrões e metodologias que avaliam e certificam projetos de redução de emissões, esses benefícios múltiplos estão sendo cada vez mais valorizados. Os projetos não estão mais confinados em silos, focados apenas em redução de emissões. Eles se expandem, tornam-se holísticos, englobando a comunidade, a economia e a biodiversidade.
Empresas têm se aproveitado disso, e não apenas para compensar suas próprias emissões. Ações sociais e projetos de desenvolvimento econômico e social em comunidades têm se tornado uma maneira eficiente de gerar mais créditos de carbono. E é aí que entra o protagonista da nossa narrativa de hoje: o Climate, Community & Biodiversity Standards, ou CCB, nosso amigo invisível que dá o aval para esses projetos.
Reflorestamento, conservação florestal, energia renovável, eficiência energética, agricultura sustentável, gestão de resíduos... a lista de modalidades de projetos que podem render créditos de carbono é longa. Mas o que o CCB quer é que esses projetos não só limitem emissões ou removam carbono da atmosfera, mas também beneficiem as comunidades locais e conservem a biodiversidade.
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Imagine uma comunidade na beira da Amazônia que, ao invés de ceder à pressão de grandes produtores para desmatar e plantar soja, receba treinamento e suporte para gerir a floresta de forma sustentável, fazendo o que já faziam seus antepassados. A floresta se mantém em pé, o carbono fica preso nas árvores, os animais continuam a viver em paz, e a comunidade tem um ganho econômico com a venda dos créditos de carbono. Todos ganham.
Mas, até que ponto esse engajamento social aumenta a geração de créditos de carbono, sendo interessante enquanto investimento? Para nosso alívio e júbilo, acredite, essa combinação é benéfica não apenas para o planeta e as pessoas, mas também para as empresas.
Não se pode afirmar de forma genérica qual o percentual de aumento de créditos de carbono, uma vez que isso irá variar de acordo com as ações previstas e metas determinadas em cada projeto, no entanto, para além do ganho do crédito por incorporar ações de desenvolvimento social e econômico no projeto, a incorporação das atividades tradicionais de manejo e o cuidado e vigia das áreas trabalhadas por parte das comunidades envolvidas, traz também ganhos para o projeto principal, em especial àqueles ligados ao manejo sustentável e à recomposição vegetal de áreas análogas às comunidades participantes. A sensação de pertencimento é o maior dos incentivos ao cuidado e proteção.
Para as empresas, portanto, investir nesses projetos não é apenas uma questão de cumprir regulamentações ou buscar uma imagem positiva. É um negócio genuinamente vantajoso. É, por assim dizer, um "ganha-ganha-ganha" - ganha a empresa, ganha a comunidade e, claro, ganha o nosso planeta.
Então, meus queridos leitores, enquanto caminhamos neste intrincado jogo de xadrez verde, lembremo-nos de que as soluções para nossos problemas climáticos também têm um coração. E, talvez, o segredo para ganhar este jogo esteja justamente aí, nesse batimento compassado que une o verde ao social, que une o planeta às pessoas, garantindo o papel do “S”, na tão citada sigla ESG.
No final das contas, o mercado de carbono não é apenas sobre reduzir emissões. É sobre garantir que, ao preservar a floresta, também preservamos os modos de vida das pessoas que dependem dela. É sobre garantir que ser sustentável também é criar empregos e desenvolver a economia local.
Na dança frenética contra a mudança climática, cada passo conta e descobrimos que, se dançarmos juntos, podemos até ganhar alguns créditos de carbono. Enquanto o relógio não para, ainda há tempo para transformar a festa. Há tempo para perceber que, embora não tenhamos pedido para estar aqui, podemos fazer dessa pista de dança um lugar melhor para todos. Com cada ação consciente, redefinimos o amanhã que queremos e, quem sabe, a música que comece a tocar não nos faça querermos ser convidados mais vezes para essa festa.
Supply Chain | Sustainability
1 aGostei do "ganha-ganha-ganha" 😉