Cursos de medicina privados: empresários, professores, brigas e soluções!

Cursos de medicina privados: empresários, professores, brigas e soluções!

Há poucos anos vê-se o início (discreto) da consolidação do mercado dos cursos de graduação em medicina, com grupos de enorme capacidade financeira realizando investimentos substanciais para “conquistar mais vagas" para suas instituições. Ao mesmo tempo, repetem-se artigos em jornais, entrevistas e declarações de médicos, professores e entidades de classe mostrando indignação frente à “mercantilização” do ensino médico e aos empresários “inescrupulosos” em busca do lucro com cursos de medicina.

Para quem se relaciona com esses empresários e administradores, fácil notar entre eles uma enorme capacidade de organização, hierarquização, logística e execução; características importantes não apenas para uma empresa, mas também para um curso de medicina e para a assistência médica em geral. Entretanto, também é claramente perceptível a dificuldade desses managers para entender como ocorre o processo do ensino médico, com destaque para a péssima relação entre os administradores/empresários e a equipe docente; sem falar na difícil relação entre muitas escolas médicas e seus alunos.

Um grande erro, comumente ignorado, na gerência de um curso de medicina é tentar mudar a natureza de cada um dos atores, seja dos empresários, seja dos profissionais que atuam diretamente no ensino. Deve ser entendido que uma empresa precisa de normas, gerar lucro, crescer. Por outro lado, a atividade do ensino médico tem um apelo artesanal que, se qualquer empresa ousar tentar mudar, pagará, em última instância, com seu Nome.

Esse artesanato se apoia no professor, que deve exercer a medicina que ensina; e ensinar a medicina que pratica. Aquele professor contratado apenas como facilitador, sem uma relação direta com seu ofício, será ele próprio o algoz dessa mesma instituição que o recrutou para um trabalho puramente pedagógico e sem relação com a prática médica.

Ainda que alguns administradores e empresários imaginem ser possível otimizar a estrutura contábil da instituição contratando docentes apenas para cumprir uma carga horária, sem relação com a medicina em si, com o tempo, o resultado invariavelmente será ruim e o preço, mais alto. Somente o professor com dedicação intensa (e extensa), que ministre aulas calcadas em sua prática profissional, poderá levar aquela escola a ter um bom reconhecimento. Falando na linguagem que essas instituições entendem: somente esses bons e verdadeiros professores levarão a instituição a ter bons resultados nas métricas de avaliação como Enade e avaliação do MEC.

Aliar as frias (e justas) necessidades de uma empresa à formação médica de bom nível exige conhecimento técnico médico e pedagógico avançados, experiência, sensibilidade e trabalho em conjunto. Atualmente, vemos poucos profissionais com esse preparo e a determinação necessária, mas existem e são os que mudam o jogo.

JM Peixoto, M.D., Ph.D.

Coordenador do Curso de Medicina I Gestor Educacional | Professor I Pesquisador I Cardiologista | Universidade Prof. Edson Antônio Velano - UNIFENAS-BH.

9 m

Excelente análise. Realmente, trata-se de um ambiente complexo, que necessita habilidades incomuns.

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