A decisão de investir em empresas precisa considerar a qualidade do time
Qual é o fator determinante para o sucesso de um negócio? Para muitos investidores, a resposta ainda se limita a um modelo de negócio inovador, escalabilidade e potencial de retorno. Não discordo. No entanto, o capital humano pode ser determinante para a execução e a perenidade de uma ideia.
Faz parte da minha rotina auxiliar fundos de private equity e venture capital na etapa de avaliação de empresas, por meio de um processo de análise de pessoas, com um olhar para empreendedores, fundadores e lideranças. Essa experiência me permitiu observar que, historicamente, os investidores se dedicaram mais a um processo de due diligence financeira, operacional e tecnológica da empresa a ser investida, e menos a uma avaliação do time de gestão. Essa lógica, contudo, dá sinais de mudança.
Na INWI, eu e minhas sócias já nos deparamos com empresas com planos de negócios impecáveis, uma avenida de crescimento teoricamente larga e longa, mas que não prosperaram por conta do time. Ao mesmo tempo, já vimos planos nem tão sólidos florescerem em função de uma boa equipe. Percebo, então, que avaliar pessoas é tão – ou mais – importante quanto olhar somente para o capital financeiro e a estratégia de uma empresa.
Uma pesquisa da McKinsey mostrou que a gestão eficaz de talentos impulsiona o bom desempenho financeiro. As empresas que reconduzem talentos com frequência têm duas vezes mais probabilidade de superar seus pares, e aquelas que investem no talento certo alcançam 2,5 vezes o retorno sobre o investimento inicial no primeiro ano.
Mas, afinal, como identificar um bom time de gestão?
Pela nossa experiência em projetos de assessments, há algumas características que podem fazer a diferença no longo prazo. Uma delas é a formação de um time com visão estratégica, que não fica restrita só à liderança. As pessoas enxergam não só o que o negócio pode ser hoje, mas o que ele pode se tornar em 5, 10 ou 15 anos. Outra é a capacidade de identificar soluções ou criar modelos de negócios e produtos que sejam estruturalmente inovadores, e não apenas cópias de mercados e tendências já existentes. Uma equipe que combine criatividade e estratégia pode ir muito longe.
No entanto, para as ideias se transformarem em resultado, é preciso um plano de ação bem estruturado e pessoas mobilizadas. É o momento em que entra em cena a gestão de pessoas, um desafio para muitos empreendedores. Isso porque muitos deles não tiveram a oportunidade de desenvolver um repertório de liderança. Os motivos são diversos: falta de experiência em outras estruturas organizacionais, juventude ou muito mais intimidade com a execução do que com a gestão. Empreendedores sempre começam como “fazedores”. Seu grande desafio ao montar um time é sair do micro e olhar para o macro.
Durante os assessments, também olhamos para as competências socioemocionais. Receber um investimento implica habilidades de relacionamento e articulação singulares – para fazer um negócio crescer é preciso, inevitavelmente, ampliar a base de clientes, stakeholders e investidores. Por isso, habilidades como escuta ativa, resiliência e comunicação são críticas para avaliar o bom desempenho de um time.
No livro Narrative and Numbers: The Value of Stories in Business, o professor e investidor indiano Aswath Damodaran argumenta que nos negócios existem os storytellers, que tecem narrativas convincentes, e os analistas, que constroem modelos e relatórios robustos. É a combinação desses dois perfis que pode levar uma empresa a prosperar, segundo o autor.
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Assessment também é feedback
O processo de assessment não é trivial – trata-se de um mergulho intenso na cultura, estrutura, dinâmica organizacional e estilo de liderança da empresa que está se abrindo para receber investimentos. Por isso mesmo, alguns empreendedores resistem inicialmente. Mas para eles, independentemente da decisão dos fundos ao final do processo, é um diagnóstico organizacional. Um recurso que, talvez, não tivessem acesso se não fosse a circunstância do investimento, e que pode ajudá-los a construir a visão de um negócio. É uma oportunidade de saber o que está, ou não, dando certo.
Para os investidores, por sua vez, o assessment não apenas traz uma clareza sobre quais são os desafios no que diz respeito ao capital financeiro, mas um diagnóstico e um plano de ação bem definidos sobre capital humano, que precisam ser feitos para mitigar todos os riscos.
A avaliação tem impacto, inclusive, na dinâmica do conselho de administração. Desde o início, os conselheiros conseguem entender quais são os seus desafios, os processos e as estruturas de governança que vão facilitar a adaptação dos novos acionistas.
Mas o impacto está, primordialmente, no planejamento de longo prazo. O assessment permite antever quais são as dificuldades relacionadas à construção de visão de futuro, capacidade de execução do business plan, liderança e gestão, alinhamento organizacional, entre tantas outras, que podem reverberar inclusive na escalabilidade, perenidade e nos processos de sucessão do negócio a curto, médio e longo prazo.
Resumindo: pessoas definem a estratégia e a estratégia trilha o caminho do sucesso no longo prazo. Por que não avaliá-las?
Diretor de Relações com Investidores, Institucionais e ESG
3 aExcelente artigo Lê! Não tenho dúvidas que pessoas são o principal ativo de uma empresa! Parabéns!