Decisões só após riscos analisados
Quero passar uma das minhas experiências numa época que eu ainda não conhecia análise de riscos, projetos usando DMAIC do Six Sigma, portanto com dados, prevenção que aprendi muito na aviação. Antes passo um pouco do contexto. Falamos de produção de aço. Na Aciaria existem grandes panelas de aço com revestimento interno de refratários, chamados conversores, onde se jogam o gusa (ferro líquido que veio do alto forno), outros tipos da materiais (calcário, sucata, silício, enxofre, cobre, etc.). Esses materiais darão a liga de aço a ser produzida naquela corrida do conversor. Em seguida uma lança desce até quase encostar no banho e injeta no mesmo uma quantidade controlada de oxigênio. Esse oxigênio se mistura com o banho e retira o carbono fazendo o ferro virar aço. Esse oxigênio mais o carbono sai em forma de gases (CO2) pela chaminé do conversor, a qual é refrigerada por uma serpentina de água. Onde entro eu? Era responsável pelo fornecimento do oxigênio e da água na temperatura adequada para refrigeração. Todos os envolvidos no processo dos três conversores foram chamados para uma reunião para serem informados que a Aciaria aumentaria a produção em x toneladas por conversor. Mesmo sem ainda ter experiência em identificação de riscos e prevenção logo levantei vários riscos. Aumentando a quantidade de banho no conversor o espaço para a reação do oxigênio e o carbono seria reduzido, poderia a queima se fazer para fora do conversor. Maior consumo também de oxigênio poderia fazer cair a pressão na linha derrubando outras unidades como os altos-fornos. A maior velocidade de gases saindo pelas chaminés poderia corroer a serpentina de água gerando vazamentos de água de refrigeração para dentro do conversor produzindo fortes explosões. Quando levantei tudo isso o superintendente ficou bravo e reclamou. Fizeram um teste com todos os conversores e o que aconteceu? Uma língua de fogo saiu do conversor e lambeu a plataforma. Sorte não estar ninguém ali. Na linha de oxigênio caiu a pressão e desarmou a alimentação de um dos altos-fornos. É fácil se determinar projetos, mas sem a devida aplicação das ferramentas não dá. Riscos existem e devem ser identificados e gerenciados (fatos e dados) e com ações de prevenção. Sugeri um tanque pulmão de oxigênio na entrada da Aciaria e nunca operar com mais de dois conversores. A água de refrigeração era esfriada por um gigantesco air-cooler que, para ser mais eficaz, precisaria de uma reforma que custaria mais de R$ 1 Mi. Contatei um fabricante de trocadores de placas e compramos um trocador novo por R$ 600 k, com 1/3 do tamanho e o dobro da capacidade de refrigeração. Com isso liberamos espaço e atendemos a necessidade de maior refrigeração na troca térmica. Logo em seguida saí da empresa para comprar um avião e montar a minha empresa de táxi-aéreo, novos desafios. Nessa siderúrgica aprendi demais e apliquei muita coisa. Apenas reforçando que o buscar a produção a todo o custo pode impactar na segurança, meio ambiente, na qualidade e no custo. Excelência e produtividade devem coexistir e não concorrer uma com a outra.