Disrupção tecnológica

Disrupção tecnológica

Por André Ramos Tavares

A compreensão inequívoca de que estamos vivenciando um momento de disrupção tecnológica ganhou tração com a criação e, sobretudo, com a ampla disseminação e acessibilidade “gratuita” de algumas das mais avançadas inteligências artificiais (IAs) que se conhece.

É um erro considerar a popularização da IA como uma mera modernidade. Como apontam Richard Dobbs, James Manyika e Jonathan Woetzel na obra No Ordinary Disruption, a velocidade, a surpresa e as mudanças repentinas de direção caracterizam os fenômenos disruptivos. Na Quarta Revolução Industrial, a ideia-força é a disruptividade, de proporções ainda desconhecidas.

Acrescento a existência de uma forte sedução discursiva pró-tecnologia, que prega existirem apenas benefícios na adesão imediata e plena às tecnologias digitais. Rigorosamente, porém, temos um novo modelo de negócios global, que busca o domínio econômico, em escala planetária, com propensão ao controle social. São as grandes plataformas digitais.

Eis aí uma profunda transformação pela força digital, que está desencadeando inúmeros outros processos socioeconômicos, como a onda de desemprego global e a desmaterialização constante, fazendo com que institutos do capitalismo tradicional, como o da propriedade de bens físicos, sofram uma revisitação profunda de seu alcance, significado e papel na economia.

Essas mudanças, de nítidos efeitos concretos — mas ainda enigmáticos —, foram rapidamente absorvidas em nossos hábitos e nas rotinas de empresas.

O Brasil é, especialmente, usuário das tecnologias digitais avançadas, mas não as desenvolve nem as domina para fazer frente aos grandes players internacionais.

Isso não significa, é claro, que não existam benefícios relevantes a serem utilizados em larga escala, como é o caso da aplicação do machine learning para diagnósticos no setor de saúde, assim como soluções no âmbito climático, a partir de computação em nuvem e IA aplicada. Mas os benefícios não são automáticos, porque dependem de compreensão, planejamento e leis para que o avanço seja qualitativo.

A questão principal é orientar a transição em prol da economia nacional e da sociedade brasileira, diante dos diversos desafios já existentes: da alta tributação, das desigualdades regionais e dos custos de obtenção e manutenção das tecnologias digitais para empresas de pequeno e médio portes.

Em 2023, a Pesquisa de Inovação (Pintec) Semestral do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou que, das 9.586 empresas entrevistadas com cem ou mais pessoas, 15,1% afirmaram não utilizar nenhuma tecnologia avançada. O principal fator para a não adoção foi o alto custo das soluções tecnológicas (70,3%). Existe, portanto, uma parcela do setor produtivo na sombra da disrupção tecnológica.

A escalabilidade e a incessante modificação dos parâmetros pelas novas tecnologias são pontos críticos para a longevidade das indústrias e para a saúde dos negócios. O contexto pode ser contornado com o planejamento imediato e adequado da transformação digital, com a participação do Estado na indução de inovação privada em setores estratégicos, com a regulamentação das tecnologias digitais e, ainda, com o fomento de pesquisa e desenvolvimento de alta qualidade nas universidades, em permanente parceria com o futuro da sociedade.

Gilberto Lima Jr.

Futurista, Humanista Digital, Líder MEI - CNI, PalestranteTEDx, Campus Party, Innova Summit, Sebrae Inova, World Creativity Day, Colunista, Ativista do Autoconhecimento e da Mútua-Ajuda, Vegano e Espiritualista

11 m

Excelente análise! Concisa e Verídica

Entre para ver ou adicionar um comentário

Outros artigos de Esfera Brasil

Outras pessoas também visualizaram

Conferir tópicos