Em busca da pupunha perdida
Na minha infância todas as vezes que tínhamos palmito em alguma refeição eu ouvia o meu pai falar que, até o ano 2000, o palmito estaria extinto. Eu costumava achar isso muito bom, já que nunca gostei de palmito e, naquele tempo, ainda não tínhamos a cultura ecológica dos nossos dias. O problema do palmito é que sua colheita era exclusivamente extrativista e ninguém estava disposto a investir em plantações cujas colheitas só se realizariam a cada 10 anos.
Até o dia em que algum biólogo ou apreciador de palmitos descobriu na Amazônia que a palmeira da pupunha (Bactris gasipaes Kunth), além do fruto que produzia também fornecia um palmito de excelente qualidade (na opinião de quem gosta de palmito). Apesar de conhecida há muito tempo e seus vestígios antecederem mais de 120 milhões de anos, essa foi uma descoberta notável, e o melhor de tudo, o palmito pode ser extraído de árvores com apenas 2 anos de idade. Além dessa característica a cada quilo de fruto de pupunha seco pode-se obter até 600 gramas de novas sementes. Ou seja, além de produzir em curto prazo ainda permite uma reprodução abundante. Para quem gosta de aproveitamento econômico, a pupunha ainda pode ser usada como madeira na indústria moveleira sendo três vezes mais resistente que o mogno e custando quase a metade dele.
Quando nos defrontamos com o planejamento estratégico de marketing de relacionamento e de marketing com dados, muitas vezes chegamos a um beco sem saída similar à história do palmito, muitas empresas estão ávidas por investir nele, mas desistem rapidamente ao descobrir que isso vai demorar um bom tempo para dar frutos. Vivemos numa sociedade de cobranças imediatistas e tudo que demora mais do que um mês para gerar algum resultado é considerado investimento inútil. Ganhar dinheiro rápido no mercado de ações é muito mais interessante do que fazer planejamento quinquenal – aliás, você lembra qual foi a última vez que a sua empresa pensou aonde vai estar num futuro tão “distante” quanto os próximos cinco anos? Você lembra qual foi a última vez que você estimou um retorno sobre investimento em anos e não em meses?
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Por outro lado, nós, marketeiros com bancos de dados e de relacionamento também temos o péssimo costume de dilatar exageradamente o prazo de retorno do investimento nessa ferramenta, até como uma forma de autoproteção profissional. É verdade que não vai começar a dar resultados depois de amanhã, mas também não precisamos de décadas para começar a ver o retorno. Não podemos fazer as coisas de qualquer jeito, mas também não precisamos estar com tudo perfeito para começar a executar ações táticas.
Enquanto nos perdemos por nossas próprias faltas todos continuam plantando soja, que pode dar até três safras por ano. É verdade que o preço da soja no mercado é muito baixo e que qualquer um pode plantar praticamente em qualquer lugar. Não tem nenhuma diferenciação, as margens são baixas e só se ganha dinheiro com produção em escala. Mas é isso que temos feito com os nossos produtos e serviços, todos estão virando soja (ainda pior em alguns casos, soja transgênica) quando, na verdade, deveríamos estar em busca da pupunha – um produto diferenciado, com margem de lucro decente, com mais de uma aplicação e que gere sua própria renovação – mesmo que isso signifique investir num prazo um pouquinho mais longo.
Marketing de relacionamento e marketing com dados precisam voltar às suas origens e demonstrar que podem ser a pupunha que alguns estão procurando e, quando encontram, transformam significativamente os seus negócios.