Velhos como um vinho

Velhos como um vinho

Se você já passou dos 50, duvido que tenha conseguido evitar dizer ao menos uma vez que você é como vinho, quanto mais velho melhor. É um dos clichês mais clássicos e batidos dos nossos dias, repetido até por quem nunca experimentou um gole de vinho. Mas sou obrigado a dar uma má notícia, nem todo vinho melhora na medida em que envelhece. Pior do que isso, pouquíssimos são os vinhos que envelhecem com classe.

O envelhecimento do vinho é um elemento importante para se aproveitar o melhor dele, mas apenas um pequeno grupo de vinhos se beneficia do envelhecimento na garrafa. A grande maioria dos vinhos deve ser consumida dentro de um ano, ou no máximo dois, após ser engarrafado. Quase todos já passaram por processos naturais ou artificiais de envelhecimento em barris ou tanques e a permanência na garrafa não vai trazer mais qualquer benefício.

Entre os vinhos brancos, aqueles com PH mais baixo (mais ácidos) e, entre os tintos, aqueles que apresentam mais taninos, são os que tem mais chances de melhorar pois, à medida que o tempo passa, esses excessos de acidez e de taninos tendem a se abrandar e tornar os vinhos bem mais agradáveis. Se o vinho branco tiver pouca acidez ou o tinto poucos taninos, com o passar do tempo eles perdem o pouco da personalidade que tinham. Entre os brancos que se enquadram nesse possível envelhecimento, estão os feitos com uvas Riesling e os grandes Chardonnay. Dentre os tintos, os feitos a partir de uvas Cabernet Sauvignon, Nebbiolo, Malbec e Syrah, dentre outras.

De qualquer forma, para deixar um vinho envelhecer em casa, além de um bom vinho que permita isso, existem alguns outros componentes que vão ser decisivos no amadurecimento produtivo da bebida. O primeiro deles é a qualidade da rolha. Um vinho fechado com rolhas de má qualidade, mal cortadas ou minimamente porosas, só consegue produzir vinagres de boa qualidade (claro, se o vinho for de boa qualidade). Por mais insignificante que seja o contato do vinho com o ar, a oxidação é inevitável. Se, ao abrir uma garrafa a rolha quebrar ou soltar pedaços, pode ter certeza de que o vinho vai estar intragável. No fundo, algumas pessoas também são como esses vinhos - quanto mais velhas, mais azedas.

O segundo componente importante é o armazenamento do vinho. Por melhor que seja uma rolha, se ela não ficar em contato permanente com o líquido da garrafa ela irá ressecar e, conforme isso acontece começam a surgir trincas e "buracos" - o resultado é o mesmo que foi citado acima, com a diferença que o vinagre ficará pronto muito mais rapidamente.

Alguns outros detalhes podem ajudar ou atrapalhar no processo de envelhecimento, mas costumam ser filigranas técnicas que não fazem parte do nosso dia-a-dia. Nem os enólogos mais competentes são capazes de fazer previsões exatas sobre o tempo ideal de maturação de um determinado vinho de uma determinada safra. O ideal seria podermos testar um vinho abrindo uma garrafa a cada ano até descobrirmos o ponto ideal, mas isso é um esporte para poucos seres que podem investir comprando várias caixas de um mesmo vinho.

Na dúvida, beba o vinho antes que ele estrague - afinal, os vinhos são realmente como as pessoas, com o tempo realçam suas qualidades e defeitos. Se forem bons, ficarão melhores. Se forem ruins, passe longe.

Marcio Barcala Nunes

MBA - Lean Seis Sigma e Excelência Operacional | Consultor e Palestrante em Liderança, Processos Produtivos e Manutenção | Coordenação de equipe | Engenharia de Manutenção | Gerente Industrial

2 a

De fato, existem pessoas que são como vinho: melhor conservar com uma rolha na boca...

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