Empreender — elementar meu caro Watson!
Seja condescendente com a referência, um pouco infame eu admito, mas me pareceu dar o tom certo ao pensamento que exponho aqui.
O que você fazia entre 2003 e 2005? Já sei... o de sempre, você respondeu. Afinal nossos dias e anos passam no frio da rotina que, de tanto em tanto, sofre interferência do calor dos acontecimentos inesperados e imprevistos, calor que não deixa de ser um alento quando conseguimos extrair das experiências vividas o aprendizado que faça valer a pena cada calorzinho.
Mencionei esses anos porque para mim o contraste é muito eloquente. Nessa época eu morava em Nassau, capital das Bahamas (o nome do país deriva da expressão em espanhol para Mar Baixo), e antes que alguém grite “vida boa”, eu estava lá expatriado pelo banco estrangeiro onde estava empregado. Mas o que importa mesmo é que naquele período, não tão longe de mim, Elon Musk, o CEO de alguns gigantes da tecnologia como a Tesla (carros elétricos) e Space-X (foguetes para o mercado de satélites e afins), diferente de observar a linda vista do mar caribenho como eu fazia nos finais de tarde, estava observando um fato peculiar, talvez até bizarro para a época, e dessa observação ele retirou a inspiração para agir.
Vamos usar a lupa do detetive nessa narrativa a seguir: a GM havia iniciado um projeto teste, com quase mil carros elétricos que foram produzidos e arrendados aos motoristas que aceitaram a oferta para que alimentassem a empresa com as observações, impressões e dados necessários ao estudo de mercado. Quando o período do experimento terminou por volta de 2004/2005, a empresa simplesmente pegou de volta todos os veículos, e salvo algumas doações para museus e unidades mantidas para avaliação, destruiu praticamente a frota inteira, gerando um curioso movimento de muitos daqueles usuários que protestaram veementemente contra a destruição, pois haviam adquirido, acredito eu, gosto pelo produto mesmo com as limitações tecnológicas e ainda sem que houvesse na cidade a estrutura que hoje existe para os carros elétricos. Eis o que a empresa sentenciou, extraído do Wall Street Journal nesse link aqui.
”There is an extremely passionate, enthusiastic and loyal following for this particular vehicle,” GM spokesman Dave Barthmuss said. “There simply weren’t enough of them at any given time to make a viable business proposition for GM to pursue long-term.” Instead, GM is developing hydrogen-powered fuel cells, a technology it hopes to market within the decade.
O que aconteceu depois é história, que continua a ser escrita e muito ainda promete, pois estamos falando da revolução no mercado de automóveis, um mercado que além da evolução tecnológica de baterias e sistemas, está sob o fluxo da onda verde que todos nós conhecemos. É fácil julgar, quando se olha um fato no passado e se analisam as opções e caminhos que cada ser humano ou a própria sociedade poderia ter escolhido. Elon Musk daria orgulho ao Sr. Sherlock Holmes, pois identificou, naqueles acontecimentos, que havia um mercado consumidor promissor caso fossem encontradas as soluções que ainda não estavam disponíveis na época, e que não faltava entusiasmo público como aquele episódio demonstrou.
Inspirado por aquela “pista” o Sr. Musk fundou a Tesla, que viria a ser a maior produtora de veículos elétricos do mundo, posição que a companhia já alcançou quando medida pelo valor de mercado em bolsa de valores. A cada ano esse visionário mergulha em mais etapas desse e outros projetos ambiciosos.
Mas o fulcro deste artigo não era nem o famoso detetive nem o Sr. Musk, e sim o fato de que no nosso dia a dia existem inúmeras oportunidades escondidas em cada uma das observações que fazemos do ecossistema com o qual interagimos. Algumas se escondem nas dificuldades que encontramos quando adquirimos serviços e produtos, seja em característica, atendimento, facilidade ou preço, ou ainda quando não encontramos aquilo que buscamos simplesmente porque aquele bem ou serviço ainda não está disponível no mercado.
Empreender, decidir realizar, tentar, ou como mais quisermos definir essa ação, deve ocorrer quando identificada uma oportunidade de realizar algo que preenche uma lacuna no mercado atual ou futuro de acordo com o que vislumbramos.
Do outro lado, as empresas já estabelecidas também precisam guiar-se pela mesma chama, pela mesma busca, pois embora já ocupando algum espaço no mercado, estão sempre correndo o risco do cliente necessitar de um novo serviço ou bem, ou talvez uma variação destes, e ir buscar em outro fornecedor porque a empresa que até o instante anterior o atendia, não mais o faz.
Estamos em tamanha revolução de hábitos sociais que se não estivermos no modo de observação constante, outros identificarão novas necessidades ou demandas e as atenderão, colocando em sério risco a posição antes ocupada por cada empresa já estabelecida.
O que funcionava até hoje já está em risco de não funcionar por muito mais tempo, pois a demanda de amanhã será ditada pela oferta de novos bens e serviços que estão sendo pensados e criados a partir do "hoje".
Que papel você e sua empresa cumprirão na história que está sendo escrita pelas revoluções do dia a dia de nossa sociedade?
— —
Se você gostou do que leu, por favor clique no botão de recomendar para que mais pessoas possam encontrar este artigo. Compartilhe também com seus amigos, e aproveite para ler meus outros artigos aqui no Medium e se conectar à minha rede aqui no LinkedIn.
Ronny Janovitz é Board Member na Dezker.com
Gerente Planejamento e Controle na Azo Inc
7 aAcredito que todo dia são criadas diversas oportunidades de empreender! Basta ter um olhar e uma mente aberta para o novo e um propósito definido do problema real que deseja resolver!