Excesso, Tempo e Saúde Mental

Os excessos que norteiam o modo de ser, pensar e agir na sociedade contemporânea têm muito a nos ensinar sobre saúde mental. E a nossa relação com o tempo também! 

A palavra “equilíbrio” ganhou espaço nas leituras sobre saúde, bem-estar e autoconhecimento. Embora seja uma busca importante para neutralizar forças extremas, como nos ensina a física, o termo está desgastado. Escuto pessoas questionando o tal “equilíbrio”, afirmando ser algo difícil de encontrar por ser relativo e até subjetivo, assim como o bom senso. 

Desta forma, me interessei por sair do clichê para tentar falar sobre a saúde mental do ponto de vista dos excessos e da relação com o tempo, estimulada por Anna Lembke (Nação Dopamina) e Maria Rita Kehl (O Tempo e o Cão).   

Sabemos que o extremo pode até gerar alguma recompensa imediata, mas não é saudável e tampouco sustentável. Nenhum excesso poderá ser positivo no longo prazo. E não me refiro apenas aos excessos negativos ou tóxicos, o excesso de prazer também pode ser deletério.  

Na neurociência, a dopamina, por exemplo, é um neurotransmissor crucial na regulação do prazer e da dor, e o desequilíbrio desse sistema pode levar a problemas de saúde mental. A obcecada e incessante busca por prazer imediato leva ao aumento de comportamentos aditivos. E as adições modernas não são apenas as drogas tradicionais, mas incluem também novas formas de dependência, como a tecnologia, redes sociais e até mesmo o consumo de bens e de informações. 

Assim, aprender a tolerar o desconforto e a dor é essencial para alcançar um verdadeiro equilíbrio e bem-estar. A vida é composta por percalços e aprendemos muito na forma como resolvemos os nossos problemas ou como saímos de uma crise. Medicar o desconforto ou a crise nos priva da experiência. 

Considerar a vida uma espécie de patologia, em que a medicação para todos os excessos é necessária para trazer uma espécie de normalidade, empobrece a experiência. A velocidade com que cumprimos múltiplas tarefas elimina a possibilidade de construirmos uma experiência

A nossa relação de urgência com o tempo, que nos priva da experiência, tem relação com o aumento de casos de depressão. A cada segundo é necessário fazer uma escolha.  

A popular expressão “tempo é dinheiro” reduz a importância do tempo e não nos ajuda a refletir sobre o que é o tempo em nossa vida.  

Sem a intenção de desconsiderar a importância de ser produtivo e do dinheiro como meios para realizar e prover, o tempo é tudo o que, de fato, temos.

Nossa vida é feita só de tempo, o resto é o que fazemos com ele.

Referências

Lambeke, Anna. Nação Dopamina: por que o excesso de prazer está nos deixando infelizes e o que podemos fazer para mudar. São Paulo: Vestigio, 2023.

Kehl, Maria Rita. O Tempo e o Cão: a atualidade das depressões. São Paulo: Boitempo, 2009.

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Daniela Bauab é consultora na BMI Blue Management Institute nos temas de cultura organizacional, liderança, times de alta performance e saúde mental. Presidente do Comitê de Capital Humano & Educação da Câmara Britânica do Comércio e Indústria no Brasil (Britcham). Mestrado em Gestão de Pessoas pela FGV, MBA em Liderança pela FGV, Especialista em Psicodrama pela ABPS e Bacharel em Psicologia pela Universidade Paulista. É coach executiva e de carreira formada pelo ICI. Mais de 25 anos de experiência com pessoas nas Organizações. Atuação em Capital Humano no Mercado Financeiro. É coautora dos livros Mulheres do RH V.II e Mentoria Colaborativa. Autora da tese: “Doping Corporativo”: Quais os impactos do uso de medicamentos para aumento de produtividade por executivos nas organização?