Executivos de sucesso têm foco no desenvolvimento emocional.
Atualmente, 91% dos profissionais são contratados por conhecimento técnico e demitidos por comportamento. Aprendemos nas faculdades a teoria, mas não sobre relacionamentos, emoção e empatia. O diferencial para o profissional do século XXI é um olhar para dentro de si e para o outro. Reconhecer as emoções e ter gestão sobre elas é o caminho mais assertivo para se obter resultados extraordinários
A rapidez com que a nossa rotina tem se transformado é tão grande que até parece que o mundo esta girando cada vez mais rápido. Acredito que temos essa sensação pela enorme quantidade de informações que recebemos das mídias, redes sociais, emails, jornais, revistas e por acreditar que temos que saber de tudo ao mesmo tempo.
Essa transformação não ocorreu somente na nossa rotina. Ela refletiu também em várias áreas de nossa vida pessoal e profissional. Antigamente eram poucas as profissões que tínhamos para escolher, estas se resumiam basicamente em médico, advogado, dentista, engenheiro e professor. Parece que era mais simples de se escolher do que nos dias de hoje. Ao longo desses últimos anos as profissões foram se ramificando, se especializando e com elas a forma de se trabalhar e de se relacionar.
Existe um ditado que diz: “Manda quem pode, obedece quem tem juízo”, e assim eram as relações antigamente: diretas e retas, não se falava em sentimentos e emoções nos ambientes de trabalho. O profissional bom era aquele que cumpria as regras conforme o chefe pedia. Valoriza-se o pensar e o realizar e não o sentir.
Em 1995, esse formato começou a tomar outro rumo, quando Daniel Goleman escreveu um best seller com o título “Inteligência Emocional”, que se refere a gestão das emoções e dos relacionamentos. Goleman definiu inteligência emocional como:
"...capacidade de identificar os nossos próprios sentimentos e os dos outros, de nos motivarmos e de gerir bem as emoções dentro de nós e nos nossos relacionamentos."
A forma de se comportar começa a ter novas perspectivas e expectativas. O modelo de “chefe” passa a ser antigo, obsoleto e mau visto; a bola da vez agora é o líder! Aquele que olha além do negócio, dos números e da tarefa; surge então um novo olhar para o ser humano, agregando os sentimentos e as emoções. Dentre as competências espera- das hoje para um líder de sucesso a inteligência emocional é uma das mais importantes. Enquanto essas transformações técnicas ocorriam, as relações profissionais iam se ajustando e se humanizando. O teste de QI (quociente de inteligência) deixa de ser o principal requisito para saber se o profissional é capaz ou se é garantia de sucesso; ser intelectualmente brilhante e emocionalmente inapto não garante mais a estabilidade e o crescimento profissional. Os tempos mudaram. Nos dias de hoje a inteligência emocional (QE) passa a ser responsável pelo sucesso e pelo insucesso dos indivíduos. Vencem na vida aquelas pessoas que têm bem desenvolvida a sua inteligência emocional.
O QI contribui com apenas 20% do sucesso na vida – os 80% restantes são resultado da inteligência emocional. Os grandes líderes têm a capacidade de identificar os próprios sentimentos e os dos outros, de lidar com essas emoções e permitir que as relações profissionais possam ir além de gestor - colaborador. Você conhece algum líder de sucesso que não tem grandes e importantes formações acadêmicas, mas quando se dedicam, seja no que for, eles têm sucesso? Essas são as pessoas inteligentes emocionalmente.
Para identificarmos os nossos sentimentos e nossas emoções precisamos entender como nascem. A figura do Iceberg consegue ilustrar bem esse tema. Quando avistamos um Iceberg, conseguimos ver a sua parte superior, que fica para fora d’agua. Porém não nos é possível enxergar a grande parte que fica submersa, invisível aos navegantes; da mesma forma acontece com nossos comportamentos, que são observáveis e vistos por todos, porém, o que originou a ação ou a reação, não é visto a olho nu. Emoções são geradas em nossa mente, para assimilar a presença de algo importante ou significante na nossa vida e que vai nos fazer agir de alguma forma. A emoção nos faz agir, seja para lutar, fugir, ou seja, para nos aproximar; é um processo complexo que envolve múltiplas manifestações em nosso organismo.
De nossos pensamentos, valores e crenças, é que surgem nossas emoções e a partir deles é que agimos e temos determinados comportamentos. Se as emoções geram nossos comportamentos, e os nossos comportamentos refletem em nossos resultados e em nossa performance, a inteligência emocional é um diferencial muito importante nas relações profissionais.
Lembre-se de uma conversa recente que tenha tido em seu trabalho com seus colegas ou com o seu gestor, você percebeu alguma interferência de suas emoções? Você conseguiu se controlar ou disse algo que deixou o clima ruim? Alguma vez você sentiu tanta raiva de alguma situação que chegou até a passar mal? E quando a felicidade é tanta, que as risadas ficam altas demais e acabam até atrapalhando sua atenção e seu resultado?
Quantas vezes você parou para refletir sobre suas emoções? Qual a interferência delas em seu dia a dia?
Parafraseando Charles Darwin que disse – “A grande diferença entre o homem e o macaco é o senso moral” – e eu diria que “A grande diferença entre o homem e a máquina são os sentimentos”. As máquinas poderão ser inteligentes, mas ainda não terão sentimentos, então saber se relacionar será a competência de maior destaque de agora em diante, em especial com a chegada da revolução 4.0, que avança em direção ao desenvolvimento da inteligência artificial.
Os próximos dez anos parecem reservar transformações mais velozes e profundas do que as ocorridas nos últimos trinta anos, tanto nas áreas sociais, econômicas e administrativas, quanto nas culturais, comportamentais e científicas. O conceito de Goleman sobre inteligência emocional descreve as competências das pessoas que precisam lidar e se adaptar às extraordinárias mudanças que ocorrerão nas próximas décadas.
A maioria das situações de trabalho envolve relacionamentos entre pessoas e a inteligência emocional é o suporte para esse desafio da arte de se relacionar. Veja 5 passos para desenvolver a sua inteligência emocional:
PASSO 1 - AUTOCONSCIÊNCIA: a inteligência emocional significa ter uma gestão sobre nossas emoções, então precisamos reconhecer quais são e quando acontecem. Todos temos uma MARTA dentro de nós! Isso mesmo, a MARTA são os 5 sentimentos básicos do ser humano: Medo, Amor, Raiva, Tristeza e Alegria, e eles interferem e influenciam em nosso aprendizado, memória, na atenção, no julgamento e na nossa tomada de decisão. Esses sentimentos são legítimos e podem ser representados por diversas emoções: choro, berro, carinho, risada, suor, vermelhidão no rosto, palpitação no coração dentre outros. A emoção é um fenômeno que não está sob nosso controle, é uma manifestação externa do nosso corpo, visível e pública, ao contrário do sentimento que ocorre em um plano interno, através da experiência mental e própria de cada um.
Existem diversas formas de identificar o gatilho de nossas emoções, a que utilizamos é uma simples e efetiva:
• Em nossa vida experimentamos vários sentimentos, mas nesse exercício focaremos somente nos 5 destacados acima (se você quiser pode incluir outros). Em um caderno/ um arquivo/ no celular, enfim a forma que for mais confortável para você, separe uma página para cada sentimento, Medo, Amor, Raiva, Tristeza e Alegria.
• No final de cada dia dedique um tempinho e lembre como foi seu dia e quais gatilhos e emoções surgiram. Por exemplo: Medo – na apresentação para a diretoria fiquei com medo de errar, Alegria – fiquei alegre em ir almoçar com alguns amigos, Amor – quando cheguei em casa minha filha veio me abraçar.
• Anote por 15 dias e ao final faça uma análise, identifique quais as ações ou situações são coincidentes em cada sentimento. Essa relação das ações e comportamentos indicará quando e como as emoções aparecem.
• Esse exercício ajuda a reconhecer os seus sentimentos, conhecer quais são os ga- tilhos que geram as emoções, suas habilidades e limitações. A partir de agora você está começando um processo de autoconhecimento.
PASSO 2 - GESTÃO DAS EMOÇÕES: Uma vez escutei uma frase e sempre a repito “a ignorância é uma benção”, até então você não sabia sobre suas emoções, mas a partir de agora não tem como escapar... A capacidade de ter uma gestão sobre as emoções nasce com a autoconsciência, que é administrar as emoções e lidar apropriada- mente com os sentimentos.
Levantar os seus pontos fortes e seus pontos fracos pode ser bastante interessante para ajudar a reconhecer suas emoções. Se você já sabe quando as emoções acontecem e como se expressam, então você pode ajustar e gerencia-las de acordo com cada mo- mento, fazendo escolhas mais acertadas. Por exemplo: Se eu sei que lugar barulhento me irrita e me deixa nervosa, vou evitar ao máximo ir a lugares barulhentos - Se fico muito ansiosa e nervosa quando tenho que fazer apresentações em público, procuro um curso para melhorar minha performance ou peço para que outra pessoa da equipe fazer a apresentação - Se me sinto alegre, tranquila e feliz quando estou com meus filhos, vou me programar para estar sempre com eles - Se me divirto com meus amigos e isso me traz felicidade, então vou participar de mais encontros com eles. Dessa forma você terá resultados mais positivos no seu dia a dia. O mais importante não é o que você sente, e sim, o que você faz com esses sentimentos.
PASSO 3 – CONTROLAR PRODUTIVAMENTE: as emoções são inevitáveis, mas os sentimentos gerados são plenamente possíveis de se controlar e gerenciar. Tendo consciência das emoções negativas que nos bloqueiam, podemos nos libertar delas por meio de um processo dirigido pela razão e focar em nosso objetivo. Para isso devemos ter condições externas e internas. As externas estão fora de nosso controle dependem de condições e de outras pessoas; já as internas podemos controlar e depende totalmente de nós mesmos. Perceber as variações das mudanças de emoções e sentimentos, trarão autoconhecimento e poder de decisão. A consciência emocional - interpretação de nossas emoções ou sentimentos - nos dá condições de controlar as nossas ações.
PASSO 4 – RECONHECER A EMOÇÃO DOS OUTROS: empatia é uma habilidade que permite às pessoas reconhecerem necessidades e desejos dos outros, permitindo nos conectarmos e detectarmos como nossas ações podem impactar o outro. Existe um termo em inglês que exemplifica muito bem a empatia “Put the other shoes” – coloque os sapatos do outro. Quando colocamos o sapato da outra pessoa temos a possibilidade de sentir se está confortável ou não, se está apertado, como é caminhar com aquele sapato que não é nosso, quais as consequências de andar muito, enfim, como é colocar algo que é particular do outro em nossos pés. No ano de 2017 o “Museu da Empatia” circulou o mundo, passando também pelo Brasil, com a proposta de colocar o sapato de outro, escutar sua história e sentir o que a pessoa sentia. Quem teve a oportunidade de visitar esse museu, teve uma experiência incrível, conseguimos nos transportar e se conectar com a história da outra pessoa, sentimos de fato o que ela sentiu.
Muita atenção: empatia não é simpatia! As pessoas confundem muito esses concei- tos. A escritora Brenee Brown traduz de forma bem clara essa diferença. Enquanto a empatia conecta as pessoas, a simpatia desconecta. Para nos conectarmos com os outros, precisamos antes conectarmos conosco para que possamos reconhecer o sentimento. A empatia acontece quando olhamos para o outro e entendemos a sua perspectiva. Não julgamos (essa é a parte mais desafiadora), mas reconhecemos apenas sua emoção e compartilhamos nossos sentimentos. Já a simpatia tenta ver o lado bom de tudo, tentar deixar as coisas melhores ou competir na conversa, por exemplo: (A) Acho que serei demitido.... (B) pelo menos você tinha um emprego – (A) discuti com meu gestor (B) não fica assim, amanhã vocês se entendem - (A) minha proposta não foi aceita (B) e a minha que nem deixaram entregar.
A empatia é uma habilidade que pode ser apreendida e treinada, e que faz toda a diferença nos relacionamentos interpessoais. Procure entender mais do que ser entendido. Ao despertar essa sensibilidade a interação entre as pessoas será mais saudável e eficaz.
PASSO 5 – GESTÃO DOS RELACIONAMENTOS: é a habilidade das relações sociais, ou uma combinação de todos os outros passos anteriores. Nesse passo a empatia também está presente. Ela possibilita que tenhamos relações mais profundas e significativas com as pessoas que estão ao nosso redor. A partir do momento que reconhecemos nossas emoções, descobrimos o gatilho delas, podemos ter a gestão sobre elas e decidir como agir quando elas surgem, direcionando-as para realizar nossas metas, sem esquecer das necessidades do outro, eu estou sendo inteligente emocionalmente.
Ser inteligente emocionalmente é compreender como as emoções ocorrem dentro de nós e das outras pessoas, é ter a gestão das emoções, através de atitudes racionais e do entendimento do processo emocional. Quanto mais nos conhecemos, mais inteligente emocional somos.
Para refletir:
- O quanto você está comprometido em transformar seu comportamento para ter suas metas realizadas?
- Em uma escala de zero a dez, sendo zero nada e dez muito, em que nível está seu autoconhecimento?
- O quanto você reconhece e tem habilidade de gerenciar suas emoções?
- O que está impedindo você de ser um líder de sucesso?
- Qual será o seu primeiro passo para ser um líder inteligente emocionalmente?
Referências
BROWN, Brenee. A arte da imperfeição. Novo Conceito, 2012. GOLEMAN*, Daniel. Inteligência emocional. Objetiva, 1995.
*Daniel Goleman, jornalista científico americano, colunista do The New York Times, escreve principalmente sobre avanços nos estudos do cérebro e das ciências comportamentais.
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