Falar de saúde mental, é falar de saúde.

Falar de saúde mental, é falar de saúde.

Portanto, também é urgente. Muitas vezes não damos a verdadeira importância que o tema precisa. Assim como o câncer, também pode matar. Pesado né, mas é um problema real que muitos passam por não colocarem limites em suas rotinas.

Eu não sou psicóloga, mas sou uma estudiosa do tema há uns meses. Leio, faço cursos, participo de eventos online e hoje venho compartilhar o que tenho aprendido em fontes confiáveis nesse período. Em conversas com amigos venho percebido a falta de conhecimento sobre o tema em questão. E nas organizações onde temos que deixar a nossa vida pessoal do lado de fora, não é diferente. Somos humanos e indivíduos inteiros, precisamos estar abertos a um suporte caso seja necessário. Mas como lidar quando precisamos de ajuda? Será que as pessoas estão preparadas para nos acolher?

Quando você vive na correria brigando com o tempo, você não está vivendo, você está sobrevivendo. Existe uma cobrança interna, temos medo de falhar, de sermos rejeitados e substituídos. A crise que assola o mundo também causa medo de serem julgados por não aceitarem excesso de trabalho. Essa hostilidade no ambiente de trabalho atrasa o acesso ao tratamento de muitas pessoas que temem serem substituídas ou até mesmo sentir vergonha e dúvida de si mesmo. Como já ouvimos por aí: "Mimimi é a dor do outro, que não dói na gente". E muitas vezes a gente sequer valida o nosso próprio sofrimento. Afinal, é muito difícil explicar uma dor que ninguém vê, mesmo assim não significa que o problema não exista. Nós não zombamos ou isolamos alguém que tem câncer, por que fazem isso com quem tem esquizofrenia, por exemplo. Veja o vídeo abaixo de Sangu Delle, que enfrentou preconceito para cuidar da sua saúde mental no continente africano.

Nós precisamos parar de sofrer em silêncio. Precisamos parar de estigmatizar a doença e traumatizar os afligidos. Procure ajuda de um especialista, converse com seus amigos e familiares. Seja vulnerável. Faça isso com a certeza de que você não está sozinho. Ser honesto em como nos sentimos, não nos torna frágil, nos torna humanos.
(Sangu Delle)

É bem verdade que a saúde mental tem ganhado mais destaque nos últimos tempos, mas os profissionais ainda se sentem inseguros em compartilhar com a sua liderança os seus problemas. Segundo o Valor Econômico, uma pesquisa com mais de 2 mil trabalhadores nos Estados Unidos revelou que 56% acredita que seu empregador pensaria que eles são incapazes de fazer seu trabalho, caso falassem que estão fazendo algum tratamento de saúde mental ou precisam de uma licença. Mais do que nunca, o adoecimento das pessoas está impactando o mundo do trabalho: em 2020, casos de depressão e ansiedade foram a 2ª maior causa de incapacitação do trabalho no Brasil. E ainda poderia ser maior, pois muitos ainda não se cuidam por medo de serem estigmatizados ou por falta de informação.

O suicídio é a segunda maior causa de morte, só perde para os acidentes, ninguém gosta de falar sobre isso, porém é muito necessário. As taxas de suicídio no Brasil aumentaram no último ano. O país tem um novo caso a cada 46 minutos. O suicídio é, hoje, a quarta causa de morte entre jovens de 15 a 29 anos. Entre os homens nesta faixa etária é o terceiro motivo mais comum; entre as mulheres, o oitavo. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o Brasil é considerado o país mais ansioso e estressado da América Latina. Vinte milhões de brasileiros sofrem com burnout, que é esgotamento físico e mental por estresse de trabalho e/ou por negligenciar a si mesmo.

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Recentemente eu assisti um evento promovido pela Zenklub, em que grandes nomes falaram sobre episódios de burnout ou síndrome do pânico que vivenciaram, e a partir daí tiveram que dar mais atenção para a sua saúde mental e ressignificaram os seus limites. Focaram em autoconhecimento e em desacelerar sua rotina. Cuidar da saúde mental exige tempo para si e para os demais. Agir de forma preventiva é a grande mudança que devemos ver a partir de agora, buscando formas mais eficientes de promover mais qualidade de vida e saúde para todos. Isso vai muito além do ROI, os impactos são em níveis morais, jurídicos e financeiros também. Se temos tantas evidências que o cuidado da saúde mental é essencial, porque ainda é um tabu?!

Dois desses estigmas é ter medo de expor nossas fragilidades e a organização não estar preparada para dar o suporte e acolhimento necessário. Quando a saúde mental de um colaborador é afetada, todas as áreas em torno dele são afetadas também. Logo, se ela é preservada todas as áreas serão preservadas também. Mas como a gente poderia reduzir esse estigma e promover esse ambiente de segurança psicológica. A empresa precisa dar o apoio mas a decisão sempre será do indivíduo. As pessoas precisam estar empoderadas para procurar uma terapia, por exemplo, que ainda é considerada 'coisa pra maluco' por muitas pessoas. Essa mentalidade tacanha ainda aprisiona muitos que precisam procurar ajuda.

Saúde mental não tem um cargo, não cobra salário, não é um luxo e não deveria ser um tabu. (Zenklub)

Muitas organizações já oferecem benefícios voltados para a saúde mental do colaborador mas isso precisa ser vivenciado no dia a dia. O líder precisa ser uma referência em autocuidado e não propagar o medo aos erros. Todas áreas e a alta liderança precisam estar envolvidas, não só o RH. Precisa existir uma política integrada em que todos levem a sério e tomem como cultura o cuidado e o bem estar. Além do salário emocional, como reconhecimento, a ética e a moral... os valores são intangíveis para cada parte. Um ambiente equilibrado gera produtividade e terá economia em custos como turnover e gastos com saúde que podem ser evitados. O fardo da depressão e da ansiedade é compartilhado por todos os membros de um local de trabalho, e é um ciclo vicioso. A mudança começa com gerentes e profissionais de RH reconhecendo a ambivalência e o conflito interno que muitas pessoas talentosas sentem e fazendo algo a respeito. Porque quando as pessoas recebem o espaço e o apoio de que precisam, isso pode mudar suas carreiras e suas vidas.

Ainda assim, menos de um terço das pessoas com doença mental recebem o tratamento de que precisam, e isso tem um custo — para as pessoas e para as empresas. A falha em reconhecer a saúde mental como fundamental pode prejudicar a produtividade, relacionamentos profissionais e o resultado final: US$17 a US$44 bilhões é perdido para a depressão a cada ano, enquanto US$4 são devolvidos à economia por cada US$1 gasto cuidando de pessoas com problemas de saúde mental. (Fonte: Havard Business Review) As sugestões para quem quer começar a fazer a diferença é começar na liderança, que precisa dar o exemplo, o time replica as ações gentis e o ambiente pode ser transformado deixando de ser tóxico. Deve-se ter programas efetivos e não apenas sazonais, tratar com simplicidade o tema saúde mental que veio para ficar. Aliado aos programas de assistência aos funcionários, a conversa e a educação são fundamentais se o objetivo for aumentar a compreensão e reduzir o preconceito em torno da saúde mental. Haja vista, que as pessoas trabalham no mínimo 40 horas por semana, logo é uma parte fundamental da vida de cada um. A parte que mais usamos no trabalho é a nossa mente, logo não podemos sobrecarrega-la. É uma demanda real ter exemplos de pessoas que falem abertamente e estimulem as pessoas a procurarem ajuda são muito reconfortantes pra quem está vivenciando isso. Em alguns casos, as pessoas sofrem em dobro nas organizações, sofrem a dor do problema e o preconceito.

É obsoleto falar de ROI porque não é tático, não existe ganho se não houver proximidade ou prevenção de saúde mental. No ESG se olha para a sociedade e os indivíduos por inteiro e precisamos olhá-los e quão diverso e verdadeiro é cada um. Por isso o engajamento e a adesão são importantes dentro do propósito e satisfação das corporações. (Nina Silva)

A pandemia acelerou também o processo de humanização do trabalho, onde as pessoas estão trabalhando de casa. Precisamos reconhecer que somos nós quem colocamos os limites. Mesmo ouvindo que trabalhador bom é aquele que trabalha 24/7 e está sempre disponível, viver assim não é saudável. Temos medo de dizer não, de errar e do desemprego. Só os limites garantem a liberdade, por isso precisamos prevenir antes que tenhamos que cuidar da saúde mental involuntariamente. Essa é a grande armadilha da cultura da ocupação, busyness: busy + business, termo utilizado por pesquisadores americanos. A glamourização de viver ocupado esconde um lado sombrio, a negligência de si mesmo que aparece na insônia, gastrite, dores de cabeça frequentes entre outros sintomas.

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O colaborador muitas vezes tenta encontrar escape ao chorar no banheiro ou dar um tempo na rede social e cai num post motivacional dizendo: "treine enquanto eles dormem, estude enquanto eles se divertem, persista enquanto eles descansam, e então, viva o que eles sonham" e acabam se comparando e se frustrando. Essa cultura hiper-realizadora está nos transformando na sociedade do cansaço, que o filósofo Byung-Chul Han detalha muito bem em seu livro. A neurociência fala de quão nocivo é o volume de informações que absorvemos em pouco tempo, estamos num mundo que está viciado em velocidade. Não é possível e nem praticável sermos multitarefas o tempo todo. Nosso cérebro já aprendeu as virtudes e recompensas em ser rápido, por isso cada vez mais busca isso.

O círculo vicioso em que vivemos pois sofremos de uma indústria imediatista mas enquanto consumidor exigimos velocidade, logo somos vítimas e vilões desse sistema. Vale a provocação, como indivíduos o quanto pressionamos o mercado em que estamos inseridos.
(Sofia Esteves)

Quem não tem uma vida equilibrada, consequentemente não será produtivo. Repriorize sua agenda e se coloque nela. Se até o nosso computador trava, quiçá a gente, não podemos adiar as férias, precisamos ter pausas entre as reuniões e atividades, manter nosso checkup médico em dia, ter tempo de qualidade com quem amamos... Como disse Izabella Camargo: "não tem problema em vestir a camisa da empresa, mas temos que vestir o nosso pijama também", descansar é fundamental pra nossa saúde e manter nosso bem estar. Precisamos deixar de normalizar o que não é normal, quando pensamos num mundo pós-pandemia se fala no "novo normal". Porque o velho normal estava insustentável. Izabella criou o conceito de produtividade sustentável, onde precisamos ter um estilo de vida sustentável assim como queremos o meio ambiente. Se amamos o nosso trabalho precisamos repensar como estamos fazendo isso e nas consequências a longo prazo.

Em suma, precisamos de mais flexibilidade, sensibilidade e mente aberta dos empregadores. O mesmo tratamento e atenção que eles dariam a uma licença de osso quebrado ou maternidade. Ainda não estamos lá, mas algumas empresas já estão no caminho. A doença mental é um desafio, mas não é uma fraqueza. Quando reconhecemos nossa saúde mental, nos conhecemos melhor e somos pessoas, funcionários e líderes mais autênticos. Pesquisas descobriram que se sentir autêntico e aberto no trabalho leva a um melhor desempenho, engajamento, retenção de funcionários e bem-estar geral.

Uma das minhas felizes descobertas nos últimos tempos, foi me deparar com uma palestra da atriz Denise Fraga. Ela conversa com leveza sobre empatia, gentileza, o poder da escuta, convocação da ternura contextualizando com os tempos atuais de atenção pulverizada e isolamento. Numa de suas falas ela menciona que hoje as empresas contratam pelo cognitivo e demitem pelo sócio-emocional. Gostaria de encerrar esse texto com essa aula de humanidade:

E lembre-se: Não tenha vergonha de pedir ajuda, não é frescura cuidar da sua saúde. Você tem valor e você não está sozinho :)


João Paulo Santos

Líder Técnico | Especialista SharePoint | Desenvolvedor FullStack | Thera Solutions

3 a

Apesar de estarmos na geração que mais sofre com a sua saúde (falta de) mental, ainda é um tabu muito grande falar no assunto. É necessário um esforço mútuo das empresas, dos funcionários e da população em geral pra mudar esse cenário. Ainda existe um medo e um preconceito grande. A empresa precisa deixar claro que se preocupa e que entende o problema. E o funcionário precisa perder o medo de ser julgado pela empresa e por seus colegas. Assim como a saúde física já é prezada e é essencial para o bom rendimento do colaborador, a saúde mental, em certos casos, é ainda mais essencial.

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