Finanças para Conselheiros: Essencial para Decisões Estratégicas

Finanças para Conselheiros: Essencial para Decisões Estratégicas

Artigo do Módulo Finanças para Conselheiros, do Programa de Formação e Certificação de Conselheiro (PFCC) da Board Academy Br

Facilitador: Rodrigo Mariano

Este artigo busca abordar aspectos da temática FINANÇAS dentro das competências dos Conselheiros Consultivos e de Administração. Não é demais lembrar que o primeiro participa da administração da empresa, é deliberativo, tem responsabilidade fiduciária, deve constar no contrato ou estatuto social, enquanto o segundo, Conselho Consultivo, não integra a administração da empresa, e, portanto, não tem poder decisório ou deliberativo, restringindo-se a opinar, aconselhar e propor recomendações que podem ou não ser aceitas pelos administradores. Ressalte-se, ainda, que os conselhos não são órgãos executores, mas apoiam a execução e o desenvolvimento, atribuição essa do Corpo de Gestão.

O conselheiro consultivo ou de administração deve observar os princípios do IBGC: i) Integridade: agir com ética e retidão em todas as suas ações e decisões, protegendo os interesses das partes de maneira justa e honesta. ii)Transparência: garantir que a empresa adote práticas robustas de governança, suportando com relatórios financeiros claros, transparentes e auditados. iii) Equidade: garantir que as decisões financeiras sejam justas, beneficiando igualmente todos os acionistas e demais interessados, sem práticas discriminatórias.  iv) Prestação de Contas (Accountability): supervisionar as finanças da empresa e garantir que os recursos sejam utilizados de maneira eficiente e eficaz. v) Responsabilidade: atentar para o impacto financeiro de questões ambientais, zelar pelas questões sociais, buscando impacto a longo prazo.

Conforme citado por Rodrigo Mariano, e a pesquisa da EY revela, a quantidade de participação de profissionais com background em Finanças nos conselhos vem sendo reduzida, privilegiando-se atualmente conselhos multidisciplinares, atuantes em diferentes áreas do conhecimento principalmente voltadas à tecnologia e operações, que agregam visões diversificadas, promovendo maior adaptabilidade, resiliência, e liderança com visão de futuro. Pesquisa da EY também aponta as pautas econômicas, financeiras, cibersegurança e inovação, dentre outras, como prioritárias em Conselhos. Além disso, os conselhos passaram a ser mais estratégicos com pautas abrangentes para outras prioridades além das Finanças.

Passaram, assim, a ter o olhar mais voltado para o futuro, projetando os negócios, enquanto a visão tradicional dos conselhos era voltada à controle, histórico (olhar no retrovisor). Porém, é de suma importância que os conselheiros, mesmo sendo especialistas em sua área de atuação, tenham conhecimento generalista das demais áreas e isso inclui Finanças, e para tanto é necessário que sejam capacitados para analisar e interpretar as demonstrações financeiras.

O Conselho Consultivo deve perseverar nas orientações para influenciar no direcionamento adequado para a evolução dos controles e gestão financeira das empresas. Deve, assim, apoiar com visão estratégica de futuro, considerando o mercado, as tendências e o grau de maturidade da empresa, para mantê-la atualizada e preparada para fazer frente à disruptores e oportunidades.

Os números contam uma história, para aquele que souber interpretá-los.

Por este motivo, todo conselheiro, CEO, investidor e empreendedor precisa saber interpretar os principais relatórios e índices econômicos e financeiros, sempre acompanhados pela gestão especialista responsável. Os relatórios financeiros indicam a saúde financeira da empresa, as fontes de caixa, os pontos de vulnerabilidade e os ofensores, a performance da operação, dos investimentos, a alavancagem financeira, entre outros, sendo essenciais para suportar decisões estratégicas do negócio. Porém, além dos números, para tomadas de decisão a interpretação requer integração com aspectos estratégicos, operacionais, de tendências e de concorrência, que podem impactar direta ou indiretamente os negócios, bem como o nível de riscos que a empresa está disposta a aceitar.

A partir dos dados financeiros e de auditoria, inclusive, é possível desdobrar análises quanto à governança corporativa, avaliando a observância das políticas e regimentos internos, bem como a fiel observância de normativos legais, regulatórios e societários. É papel do conselheiro o acompanhamento para mitigação de riscos, preservação do patrimônio dos sócios e preservação da reputação da empresa.

Assim também ocorre com a temática fiscal e tributária. Em alguns mercados e negócios, o contexto tributário tem grande relevância na performance financeira e, portanto, requer a compreensão macro pelos conselheiros que não são especialistas nessa área, para a realização de acompanhamento adequado e para apoiar na tomada de decisão.

Contudo, além dos elementos de análise financeira que são comuns a todas as empresas, como Demonstrações do Resultado do Exercício (DRE), Balanço Patrimonial (BP) e Fluxo de Caixa, é primordial que os Conselheiros tenham conhecimento sobre os indicadores-chave de performance inerentes ao negócio, de acordo com o setor de atuação da empresa, serviços e produtos que oferece, seus concorrentes e suas estratégias.

Pode assim contribuir com o corpo de gestão com insights e recomendações, fazendo as perguntas certas para provocar as discussões sobre questões relevantes para os negócios, e então apoiar na construção e monitoramento de cenários alinhados ao planejamento estratégico, observando a acuracidade e confiança dos dados, a proteção de riscos que venham a impactar os negócios, a análise e orientação na solução de problemas complexos e a análise de viabilidade de oportunidades sustentáveis.

Exemplos de indicadores-chave: Ticket Médio, Market Share, NPS (Net Promoter Score), SLA (Service Level Agreement), análises por volume, Margem de Contribuição por produto, por linha de negócio, de performances logísticas e regionais, posicionamento do preço no mercado, tecnologias e conteúdo do produto comparados à concorrência, entre outros.

Importante observar os aspectos setoriais relevantes e o contexto em análise para utilizar índices adequados ao cenário e objetivo pretendido. Nem sempre um determinado índice de análise será adequado em contextos diferentes, e não existem respostas prontas quando se trata de análises financeiras abrangentes. Além disso, direcionar a energia e manter o foco impactam na produtividade e celeridade das decisões e agregam valor.

Poderia sugerir diversas perguntas abertas, vou elencar algumas:

  • Quais são os objetivos e desafios da empresa? A empresa enfrenta riscos financeiros? Quais? Como está gerenciando?
  • Qual é a liquidez da empresa?
  • Como ela financia o crescimento? Com capital próprio, de terceiros ou reinvestindo os lucros?
  • Qual é a exposição à volatilidade do mercado, da economia e das condições geopolíticas? Como esses riscos são gerenciados e mitigados?
  • O ciclo financeiro e operacional estão na melhor performance? Prazos médios de recebimento (PMR), de pagamentos (PMP), giro do estoque?
  • A empresa tem planejamento orçamentário e metodologia ágil de revisão periódica?
  • Quais estratégias estão sendo adotadas para otimizar a carga tributária?
  • Quais são os impactos da transformação digital e da inovação nos resultados financeiros?
  • Como a empresa está se adaptando às mudanças regulatórias que podem impactar suas finanças?
  • Qual é o impacto das práticas de ESG (Environmental, Social, Governance) nas finanças da organização?

Capacitar Conselheiros e o corpo de gestão em finanças fortalece a governança, contribui para decisões estratégicas mais assertivas e ajuda a empresa a enfrentar os desafios de um ambiente competitivo e volátil.

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