Garoto Prodígio

A algum tempo, conversando com uma amiga, profissional de RH que admiro muito por seu percurso, construção e capacidade de entrega, que vou chamá-la aqui de “Valéria” - nome fictício para não expor profissionais ou empresas. Falávamos sobre o momento do mercado e das consequências em médio e longo prazo. Ela relatou-me um fato que ilustra, de forma muito clara, o que chamamos de juniorização e até exemplifica o que vem acontecendo com empresas e profissionais.

Valéria é uma profissional que se dedica a preparar pessoas em processo de evolução profissional nas áreas de gestão e RH. Em seu projeto, que considero singular, Valéria desenvolve competências específicas que um profissional possa precisar para atender a um determinado perfil, ou uma demanda pontual. Atividade que ajuda na adequarem e evolução de carreira.

Em nosso papo informal, Valéria relatou-me que teria sido contratada por uma profissional (destaco que quem contratou foi a profissional, não a empresa), iniciante na área de RH, que acabara de ser promovida a Gerente de RH de uma das maiores empresas do Brasil. - Gente, se colocar as 10 maiores empresas do Brasil em uma lista, aposto que essa empresa vai estar. E o grau de responsabilidade como gestora, dessa nova “gerente de RH”, era o mais alto, na estrutura estratégica da empresa.

Quero pontuar que não tenho nada contra jovens profissionais com grandes talentos, em meus 30 anos de RH tenho encontrado muitos deles pelo caminho. No entanto, existe um fator que as empresas estão desconsiderando: quilometragem......

Para se chegar ao ponto de tomar decisões estratégicas, principalmente em grandes empresas, é preciso ter passado por um processo de amadurecimento natural. Coisa que acontece com o passar dos anos e com a vivência da atividade. Seja ela em qual seguimento ou frente for.....

O fato é, Valéria me disse que a “menina” estava desesperada. A empresa havia demitido o antigo gestor (não estou dizendo que era perfeito), alegando redução de custos, ou a famosa “reformulação”. - Quando falam nisso, as pessoas já começam a tremer de medo! – Então a colocaram na posição sem o menor preparo, sem a devida vivência, sem histórias para contar. Ser gestor e, principalmente, ser gestor de RH exige muitas situações vividas para saber o que deve, o que pode, o que não pode, como deve, como pode e por que não pode fazer, seja lá o que for.

A cliente precisava de todo apoio do mundo. Por mais que tenha se destacada como uma excelente profissional, em início de carreira. Ela ainda era uma profissional em início de carreira. O que a Valéria poderia fazer para ajudá-la? Sua missão seria transformar aquela “menina” em uma gerente de RH e isso deveria acontecer em tempo recorde.....

A posição estratégica que essa profissional foi colocada, fatalmente iria queimá-la. Como definir projeções sem ter capacidade de analisar o cenário atual entendendo as volatilidades históricas da economia? Como desenvolver competências sem dominar os processos e metodologias? E mesmo que os domine, como fazer isso sem saber lidar com as relações de poder? Como influenciar em investimentos sem ter tido fracassos e sucessos antes, em pequenas ações?

Por mais competente que possa ser um desses novos profissionais do mercado, que fale inglês, espanhol e mandarim. Que tenha MBA em Harward e que tenha lido todos os gurus da liderança e gestão. Mesmo que tenha contratado o melhor dos profissionais de Coch, Mentoria ou aconselhamento, na hora decisiva vai lhe faltar experiência. Vai faltar aquele diferencial que só o tempo pode trazer: maturidade profissional.

Semana passada relatei essa conversa a um novo colega que fiz no Linkedin – Fernando Pontes – Consultor de Carreira inteligente e de uma conversa (quase escrevi “prosa”, mas iam dizer que isso é coisa só de mineiro) muito agradável. Falávamos sobre meu momento profissional e usei esse caso como contraponto do que tenho visto. A troca de profissionais experientes por jovens talentos, mais “baratos” e ainda em formação.

Todos sabemos que devido à crise, quando as empresas têm seu faturamento reduzido e suas perspectivas desaceleradas, muitos profissionais experientes acabaram sendo dispensados sob a alegação de que eram muito caros. Tinham anos de mercado e benefícios e salários que o mercado hoje não comparta mais. No intuito de manter as empresas funcionando, muitas contrataram jovens de talento, muitos até com muitos talentos.....

Fernando então me ofereceu uma analogia que julgo fantástica e que me inspirou a escrever esse texto: “As empresas estão contratando o Robin e querem que ele aja como o Super-Homem”. Entendem como é fantástica essa visão de mercado?

As empresas demitem seus mais experientes e, muitas vezes, melhores entregadores de resultados, focando apenas no custo desse profissional. É claro que ele custa mais caro! Ele dá mais resultados. Profissionais desse nível vão sempre ter uma relação custo benefício mais assustadora, mas tem um espaço de destaque no mercado.

Contratar o “Robin”, ajudante do Batman e querer que ele voe para se deslocar e estar em todos os ambientes. Que tenha visão de raio X, para enxergar além do discurso e entender as demandas. Que tenha a força sobre humana, para tocar projetos que alavanquem os negócios e que, se possível, seja imune a Criptônima, não se deixando abater pelos problemas e só gerando resultados fantásticos é meio incoerente.

Inocentes empresas, não se atentaram a ideia de que o “Robin” é apenas o “garoto prodígio”. Contratem jovens talentos, mas deem a eles o direito de serem jovens talentos. O processo de amadurecimento não se adquire apenas com formação. Contratem também o “Super-homem”. Embora seja mais caro, ele certamente lhe trará os resultados imediatos que precisa. Para não deixar de lado, não esqueçam o Homem Morcego. Contratem o “Batman”. Ele pode não saber voar como o “Super-Homem”, mas está muito mais bem preparado para as dificuldades que o “Robin” ainda não consegue vencer....

Edson Durão - edsondurao@gmail.com (31) 99368.4444