Geração #Betina
Resolvi escrever este artigo em função da lúdica oportunidade criada pela personagem top trending, que chamou atenção recentemente ao lançar um chamativo produto na área de investimentos pessoais.
Inicialmente entretanto, gostaria de esclarecer alguns aspectos fundamentais:
1º não gosto de rótulos, não acho que podemos ou devemos generalizar toda uma geração (X, Y, Z, etc), pois isto viola a individualidade humana, eu apenas utilizei o artifício junto ao título para caracterizar o perfil de uma parte da população que possui alguns atributos bem definidos, mas que não correspondem à uma “geração” sob o aspecto cronológico (nascidos a partir de ...), na verdade são indivíduos de diferentes faixas etárias, mas com um mindset comum.
2º também não estou criticando a “pessoa Betina”, pois ao que me parece é bastante competente em seu trabalho e apresenta alta performance em sua individualidade, nosso objetivo aqui é dialogar sobre aspectos potencialmente negativos de uma parte (significativa) da população, sensível justamente aos apelos publicitários habilidosamente trabalhados pela profissional, e que ao nosso ver ensejam uma importante reflexão.
Temos hoje em nossa sociedade uma parcela de pessoas que traz 03 crenças dentro de 01 estilo de vida (03 em 01) que correspondem à ilusões e que podem acarretar uma série de frustrações:
1- Crença no Dinheiro Rápido
Esse é um primeiro aspecto importante, a falta de paciência para enriquecer. Muitos profissionais simplesmente não querem construir carreiras sólidas com reservas pessoais consistentes ...
Não parecem estar dispostos a formar suas economias ao longo de 10, 15 ou 20 anos para atingir estabilidade financeira.
Não, o dinheiro tem que vir agora !
A competição entre as publicações financeiras está acirrada, cada uma precisa promover o primeiro milhão mais rápido que a outra ...
Há alguns anos atrás eram ousadas as promessas de juntar-se R$1 milhão em 10 anos ... esse prazo vem caindo ... temos hoje promessas de 3 anos, já recebi uma publicação me mostrando como ficar milionário em 01 ano, agora apenas aguardo a oportunidade de ganhar R$1 milhão no próximo trimestre e então vou finalmente aposentar nos próximos 06 meses ...
Este fenômeno pode refletir na verdade um problema mais sério, a falta de resiliência para lidar com a situação atual e a incapacidade de fixar um plano de ação e executá-lo de forma concisa no longo prazo.
A pressa pela solução rápida muitas vezes gera resultados pífios, superficiais, rasos e inadequados, e é triste ver pessoas que se contentam com tão pouco ...
Este comportamento se parece com o de uma criança pequena e mimada, que não pode esperar para ter suas vontades e desejos atendidos. Com pouca inteligência emocional ela necessita de rápido provimento, sob pena de incorrer em um processo de frustração insuportável.
2- Crença em Soluções Fáceis e sem Trabalho Árduo
Aqui outra questão de primeira ordem ... queremos apertar um botão e termos todos os nossos problemas resolvidos, não queremos trabalhar arduamente para construir soluções e gerar bens efetivos.
Lançamos um termo no Google e já temos a resposta pronta, não queremos ler um livro ou realizar uma pesquisa. Geramos muitos bytes diariamente de ideias inúteis nas redes sociais, mas quantas ações produtivas nós criamos e compartilhamos ?
Este problema está conectado ao anterior, pois o desejo pelas soluções rápidas é irmão da busca pelas soluções fáceis ...
A vontade de atingir o resultado sem esforço coloca o foco no “fim”, e não no “meio”, ou seja, não valorizamos o processo de enriquecimento nem o aprendizado que ele nos traz, apenas queremos o saldo na conta, não importa como ele chegou lá.
Qual será nossa capacidade de evoluirmos como seres humanos se não queremos superar desafios ?
O problema das respostas enlatadas é que, além de não nos aprimorarem também permitem que sejamos facilmente manipulados, uma vez que permitimos que outros nos digam “qual o caminho certo a seguir”.
3- Crença no “Sonho Americano”
Aqui mesclamos a pressa pela riqueza fácil com a hipocrisia social.
Muitos vendem o sonho de que, da noite para o dia, todos podem ficar ricos neste país de oportunidades ... odeio fazer o papel de pessimista, mas sabemos que estamos diante de um conto de fadas, e isto se deve por uma questão econômica, e não de pensamento negativo.
Não, infelizmente não dá para todos (na atual situação do país) terem R$1 milhão de reais em suas contas bancárias ...
E porque isso ? por um motivo simples, o saldo de nossas poupanças é simplesmente um número na tela de nossos computadores ... ele reflete o “poder de compra”, que será relativo ao “valor dos bens”.
Não existem atualmente bens de consumo e serviços disponíveis (oferta) em quantidade suficiente para suportar a demanda que seria gerada pelo súbito poder de compra que seria dado às pessoas.
O resultado disso ? uma inflação colossal que iria corroer o valor de nosso dinheiro, ajustando o poder de compra aos bens/serviços disponíveis na praça ... em outras palavras, todos teriam R$1 milhão, com o qual poderiam comprar 10 latas de sardinha ... triste não é ?
Então aqui mora nossa hipocrisia, pois dizemos “todos podem”, mas na verdade, não queremos que “todos possam”, mas apenas uma parte astuta da população, que se sustentará pela exploração de uma maioria que “não pode” ser rica ...
Quero aqui declarar que não tenho tendências socialistas, isso é apenas um fato econômico !
Estou discutindo a ironia do conceito ... e o infeliz fato de que não é possível que todos tenham uma Ferrari na garagem, ou um apartamento em Copacabana ...
Estilo de Vida Consumista
Finalizando, as 03 crenças se consolidam em um estilo de vida consumista, que é um grande sabotador de felicidade e potencializa a problemática como um todo ...
A grande questão é ... você precisa de R$1 milhão ?
Na verdade você pode precisar de muito mais, se o seu ímpeto por adquirir bens e serviços for descontrolado ...
Não me refiro aqui ao “consumo ostentação”, pois quero acreditar que a população está superando esta fase ... me refiro realmente ao consumo desnecessário ... simplesmente pelo “prazer” de adquirir algo.
Trocamos de celular, de carro, de roupas, etc, com uma velocidade alta, os bens não se esgotam pelo uso, apenas deixam de ser o item da moda (ou do momento) ...
Percebem a implicação disso ?
Consumismo gera uma tremenda necessidade de capital, portanto sua demanda por dinheiro será cada vez maior ...
Consumismo também não combina com “poupança”, desta forma temos um conflito: queremos ter R$1 milhão de reais na conta, mas também queremos gastar muito (ou quase tudo) do que ganhamos, criando cenários excludentes ... ou guardo dinheiro ou acumulo bens ...
Mas eu quero as duas coisas, e agora ?
A melhor forma de construir um país mais interessante e igualitário passaria pela desconstrução deste cenário ...
Se nos tornarmos menos consumistas, precisaremos de menos dinheiro, encurtando o caminho para a aposentadoria.
Se tivermos disposição para trabalhar arduamente na geração de bens e serviços, e ainda, tivermos paciência para gradualmente fortalecer nossa economia, muito mais gente (quem sabe todo mundo ?) poderá ter um bom poder aquisitivo e desfrutar de uma vida confortável ...
Assim, precisamos cultivar em nosso interior virtudes fundamentais, capazes de nos ajudar a superar estas crenças que permeiam o inconsciente coletivo, nos fazendo pessoas melhores, nos conduzindo à um novo estilo de vida, mais próspero e feliz !
Falaremos sobre estas virtudes em artigo futuro.