Política: A importância do "centro"​ e a necessidade do conflito entre "esquerda"​ e "direita"​

Política: A importância do "centro" e a necessidade do conflito entre "esquerda" e "direita"

Resolvi escrever este artigo em função da intensa polarização política que tenho observado em quase todas as esferas sociais de diálogo, seja no ambiente acadêmico, empresarial, clubes ou círculos familiares.

Na condição de consultor de RH, observo sempre com muita atenção (e preocupação) o acirramento da tensão e agressividade sociais, pois, para o fomento do desenvolvimento, precisamos de "pontes" e não de "muros", fortalecendo o diálogo e contribuições de todas as partes envolvidas no processo.

Nunca ouvi tanto a pronúncia das palavras “esquerda” e “direita”, e acho louvável que a população em geral finalmente esteja se engendrando na ceara da discussão política, embora notadamente ainda sem o conhecimento minimamente adequado sobre muito do que disparam.

Tenho duas constatações iniciais que considero pertinentes sobre a forma como muitos têm aplicado tais conceitos.

Primeiramente, bradam os termos “esquerda” e “direita” como se fossem posições laterais à um “centro” pré-existente, com ideais claramente estabelecidos e sobre o qual divergem como linhas de pensamento independentes.

Em segundo lugar, a reflexão de que como visões teoricamente antagônicas, as lateralidades estariam em luta permanente, sendo incompatíveis e não podendo coexistir, vivendo uma batalha do bem contra o mal, de Darth Vader contra Luke Skywalker, até que um aniquile e elimine o outro do plano das idéias.

Ambas abordagens acima não podem ser declaradas como verdadeiras nem razoáveis, sob pena de ingressarmos em um lamentável retrocesso de pensamento e evolução social.

A ideia de “centro” não trata de um ponto inicial do qual derivam posições dogmáticas divergentes (esquerda e direita), pois na verdade representa certa miscelânea e aglutinação parcial de ambas as polaridades, constituindo quase que uma terceira vertente. Desta forma o mesmo não é um ponto de partida sobre o qual ambas as visões derivam, mas sim um ponto de chegada onde as mesmas podem dialogar.

Temos a miserável ideia dominante dos extremos na qual a sociedade somente evoluirá quando houver a aniquilação de um ou outro lado. Entretanto, ocorre que em menor ou maior grau de razão ambas visões defendem importantes aspectos econômicos e sociais.

Pela parte da 'Esquerda', é inegável que a experiência de um Estado excessivamente inchado e assistencialista não contribuirá adequadamente para o desenvolvimento da sociedade em todos os seus aspectos, favorecendo a corrupção e corroendo a sustentabilidade econômica, pelo caráter quase ditatorial de seu modelo de gestão pública.

Contudo, pela parte da 'Direita' também deveríamos ter clareza de que somente o livre mercado não é capaz de criar liberdade e igualdade para todos (exceto em discurso) na medida em que não lida com as diferenças latentes dos “pontos de partida” nos quais os indivíduos iniciam sua corrida pelo sucesso, ou seja, não é capaz de promover isonomia verdadeira pelo caráter predatório do capital.

O que ambas as visões precisam fazer é dialogar construtivamente na busca pela edificação de um modelo social melhor, que promova oportunidades de desenvolvimento social verdadeiramente justas e igualitárias.

Defendo que o 'Centro' seja o equivalente ao “encontro das águas” na política, pois assim como os rios Negro e Solimões, de composições distintas, podem se combinar formando um dos maiores espetáculos da natureza, constituindo um rio novo e mais rico pelas contribuições de ambos, as lateralidades da visão política também poderão amalgamar seus conceitos e criar um modelo melhor de gestão social.

Onde quero chegar com isso ?

Quero chegar à conclusão de que nós precisamos, como sociedade, adquirir competência para sermos tolerantes, compreensivos, inclusivos e respeitosos.

Idealistas de ambos os lados precisam baixar suas armas e compreender que cada um possui uma parte da verdade, e que ambos precisam um do outro.

É necessário aprendermos à coexistir, a entender que aquele que nos confronta com idéias divergentes não precisa ser desmentido, mas sim complementado, e que ambos estão simultaneamente certos e errados, devendo aprender a construir uma nova verdade, juntos !

Devemos posicionar nossa política atuante de forma mais central, permitindo a coexistência e contribuições da esquerda e da direita, devemos permitir e incentivar que estes lados tenham sua existência assegurada e fomentada, para que o debate e a discussão sejam permanentes.

Precisamos do 'conflito contínuo', pois a arena política de debate democrático ainda é o melhor modelo de que dispomos, mas precisamos domesticar nossa agressividade e aprendermos a enxergar o outro como um recurso intelectual para melhora do sistema tão importante quanto nós.

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